Protagonista na mesa, peixe está 4,37% mais caro em Juiz de Fora
Em geral, produtos típicos encareceram cerca de 17% em comparação com o ano passado
Houve um tempo em que a tradição de trocar a carne vermelha por peixe se estendia durante toda a Quaresma. Agora, o costume se concentra mais na Sexta-feira Santa, movimentando as peixarias da cidade. Para o consumidor que não abre mão da ceia típica na Semana Santa, a má notícia é que, depois de dois anos em baixa, a chamada inflação da Páscoa voltou a subir. Conforme a Fundação Getúlio Vargas (FGV), os produtos mais comprados nesse período ficaram, em média, 17,15% mais caros entre abril de 2018 e março de 2019, tendo por base os dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC). Em 2017 e 2018, o mesmo indicador havia subido 4,55% e 2,87%, respectivamente.
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da FGV, explica que alguns dos principais produtos da Páscoa, como vinho, azeite e bacalhau, comuns na ceia de domingo, sofrem influência da taxa de câmbio. No ano passado, comenta, o Real se desvalorizou perto de 20%. Como consequência, explica, alguns produtos importados também incorporaram, em seus preços, essa desvalorização, deixando a cesta mais cara. “A alimentação tem subido mais neste início de ano, muito pelo fato de que este tem sido um período chuvoso. A questão climática tem significado um desafio para as lavouras, o que acaba impactando na oferta e, consequentemente, no preço dos alimentos”, acrescentou Igor Lino, responsável pelo levantamento.
Dentre os alimentos que pressionaram o indicador estão a batata-inglesa, que registrou a maior alta do período (78,83%), a couve (21,17%), o bacalhau (19,35%) e o atum (10,36%). “O que ajuda também a influenciar a alta no índice é a base de comparação mais baixa, pois tivemos dois anos em que a cesta de produto de Páscoa subiu abaixo da inflação. No caso do bacalhau, soma-se a isso à alta do dólar no período, já que o pescado é importado”, relatou Lino. Os peixes frescos tiveram aumento próximo do IPC-10, que foi de 4,37% no mesmo período avaliado “Os peixes podem ser o refresco no bolso do consumidor, já que a alta dos pescados frescos (4,67%) está em linha com a inflação apurada no período, ou até mesmo abaixo, no caso da sardinha em conserva (2,83%).” O pesquisador ressaltou, no entanto, que os preços podem ter sido majorados com a aproximação da Semana Santa, em função do esperado aumento de demanda.
Tradição motiva consumidores
A cozinheira Ivanize dos Santos mantém a tradição de anos e só consome carne branca durante a Quaresma. Nesta quarta, ela comprou quatro quilos de peixe, para garantir a ceia. Ela comenta que percebeu alta no valor médio do pescado, mas não pretende deixar a tradição. A cavalinha, o dourado e o namorado são os peixes preferidos dela. Já a acompanhante Erica de Oliveira até come peixe durante a Quaresma, mas não dispensa o alimento na Sexta-Feira Santa. Nesta quarta, ela foi às ruas comprar cavalinha e sardinha, embora prefira o camarão. Erica, que não sabia se o comércio especializado estaria aberto no feriado, decidiu antecipar as compras e acabou fugindo do tumulto característico da data.
Na Granjamar Bellini, o movimento, aquecido logo após o Carnaval, promete ganhar corpo na quinta (18) e na sexta-feira (19). O subgerente Guilherme Bellini comenta que, desde o início da Quaresma, a procura mais que dobrou na peixaria. Durante a Semana Santa, acrescenta, a demanda sempre supera as expectativas. Para atender a clientela, o estabelecimento, nesta quinta-feira, permanecerá aberto a partir das 7h30 e até que o último consumidor seja atendido. Na sexta, em pleno feriado, a peixaria também abre as portas, das 7h30 às 14h, para garantir a ceia de quem deixou a compra para a última hora. Entre os preferidos da clientela, estão a cavalinha, a sardinha e o tira-vira. O preço médio do quilo, nesse caso, varia de R$ 10 a R$ 15 o quilo.