Quaresma: demanda por pescados já é maior em Juiz de Fora

Tempo de penitência eleva venda de peixes e frutos do mar na cidade; peixes mais procurados são sardinha, cavalinha, tilápia e cação em posta


Por Luísa Junqueira, estagiária sob supervisão da editora Rafaela Carvalho

17/03/2023 às 07h49- Atualizada 17/03/2023 às 10h19

Com a Quaresma, período do calendário da Igreja Católica que representa o período de cerca de 40 dias em que Jesus ficou no deserto, peixes e frutos do mar são mais procurados pelos consumidores. Isso porque muitos fiéis fazem jejum de carne nesta época, elevando a procura por peixes e pescados em até três vezes, conforme o setor. Os peixes mais populares, como a sardinha, cavalinha, tilápia e cação em posta são os mais procurados na época.

A Tribuna pesquisou em peixarias de Juiz de Fora e constatou que a procura por pescados aumenta de uma forma significativa no período de Quaresma. De acordo com o proprietário de um dos estabelecimentos, Zeca Fonseca, o consumo de pescados aumenta cerca de três vezes da Quarta-feira de Cinzas até o domingo de Páscoa, o que é recorrente em todos os anos.

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Antonio Carlos Neves, o Abel, está no mercado de peixarias há quase 15 anos. Ele explica que as vendas sempre aumentam nessa época, e que os fornecedores passam a cobrar um pouco mais caro nos peixes e frutos do mar, devido à alta temporada, o que impacta no preço final de venda para o consumidor.

Já segundo a comerciante Priscila Rust, a procura por peixes aumenta cerca de 80% nessa época do ano, e em relação ao ano passado, a procura tem sido maior em 2023.

A sardinha é a campeã de vendas, seguida pela cavalinha, mas outros peixes populares, como o tira-vira, a corvina, cação em posta e filé de tilápia e merluza também são muito consumidos no período.

Comerciantes da cidade já chegaram a observar aumento de até 80% na procura por pescados (Foto: Felipe Couri)

Por que não comer carne na Quaresma?

O mais comum é que os católicos adotem a penitência desde a Quarta-feira de Cinzas até o Domingo de Ramos, que antecede o domingo de Páscoa. Conforme o padre Tarcísio Monay, a medida demonstra amor e respeito a Jesus Cristo, que, segundo a Bíblia, passou por provações durante 40 dias e 40 noites. Por isso, para a Igreja, segundo o pároco da Paróquia São Geraldo, a Quaresma representa 40 dias de maior intimidade com o Senhor.

“É necessário que todos os cristãos que queiram viver intensamente a fé parem um pouco as suas atividades e façam um exame de consciência naquilo que precisam mudar em suas vidas. (…) Jesus se entregou como vítima para nos salvar. Deu a sua vida numa cruz e ressuscitou garantindo-nos a vida eterna.”

Existem diversas formas de prestar penitência, seja deixando de comer carnes apenas às sextas-feiras durante a Quaresma, não ingerindo o alimento durante todo o período de 40 dias, com exceção dos domingos, ou não consumindo carnes todas as sextas-feiras do ano. Padre Tarcísio reforça que a Igreja Católica não obriga o fiel a nada, apenas pede para que o cristão faça a abstinência de carnes, podendo ingerir peixes e ovos na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão, além de trabalhar, em sua individualidade, o egoísmo, a ganância, a prepotência e o orgulho.

Fiéis praticam jejum

O advogado Renan Campos Gomes é católico. Ele conta que, de uns anos para cá, começou a levar o cristianismo mais a sério e, em 2022 passou a colocar em prática o intervalo de penitência na Quaresma. Neste ano, o devoto excluiu a carne de sua dieta, seja vermelha, de frango ou peixe, e substituiu por ovos. “Sempre gostei bastante de carne, e embora essa não seja a maior das minhas fraquezas, neste ano fiz o propósito de fazer abstinência dela. Não é fácil. Falando parece que é simples. Sempre que vejo as variedades de carne onde almoço, me dá vontade de quebrar a promessa.” Renan explica que a escolha foi, sobretudo, um ato de amor a Deus e uma forma de demonstrar a sua crença, além de provar que seus desejos podem ser colocados de lado em determinadas ocasiões.

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Já a coordenadora da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Maria Cristina Martins de Paula iniciou seus ensinamentos na igreja por um legado de família, que se perpetuou durante sua adolescência e a fase adulta. Este ano, durante a Quaresma, a gerente de loja cortou o pão de sua rotina, uma de suas maiores tentações, e está se abstendo de carnes apenas às sextas-feiras nesta época, mas consome peixes e ovos. A fiel relata que, anteriormente, já fez o intervalo de 40 dias sem consumir carne, mas explica que não é algo difícil para ela, então procura outras formas de buscar a redenção divina.

Mas Elisabeth Guedes Martins Teixeira, a dona Beth, faz a penitência de uma forma diferenciada. A idosa conta que há mais de 40 anos passa as sextas-feiras sem ingerir nenhum tipo de proteína animal, excluindo o ovo. Ela relata que a Igreja anima os fiéis a fazer mais penitência na Quaresma, mas escolheu ser um pouco mais radical. Durante sua vida, o ovo fez parte do cardápio de sexta. “Não é fazer uma bacalhoada chique não. Eu como ovo, uma coisa mais simples”. Beth explica que o objetivo não é se satisfazer, e sim ter uma alimentação para se nutrir.

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