Em dois anos de pandemia, cerca de 250 lojas foram fechadas em JF
Setor de vestuário é um dos mais afetados, conforme avalia o Sindicato do Comércio
Hoje, 17 de março de 2022, quem anda pelas ruas do Centro de Juiz de Fora pode pensar que nada mudou nos últimos dois anos. O comércio está aberto, as pessoas circulam sem máscara e não há limitação de clientes nas lojas. O que denuncia o contrário, no entanto, são as quase 250 lojas que foram fechadas na cidade desde o início de pandemia: o setor comercial foi profundamente afetado por essa crise. Com o desemprego que atinge 12,4 milhões de brasileiros somado a essa equação, os lojistas ainda tentam se recuperar. Os especialistas, no entanto, afirmam que o caminho para isso ainda é longo e depende de muitas variáveis.
Para o presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio), Emerson Beloti, apesar da reabertura, “as coisas ainda estão caminhando de forma lenta. Muitos segmentos estão com problemas, muitas empresas tiveram que recorrer a bancos e empréstimos”. Além disso, em Juiz de Fora, o ano começou com 599 postos de trabalhos fechados, quando houve 4.299 admissões e 4.898 desligamentos na cidade. A maioria das oportunidades extintas foi justamente no setor comercial, com 652 postos fechados. Para ele, a inflação também tem feito com que o comércio, de maneira geral, tenha um resultado ainda aquém do que se gostaria. “O comércio precisa voltar a empregar melhor e mais. Somos os principais empregadores da cidade, precisamos ver lojas abrindo.”
Marcos Casarin, da Câmara dos Dirigentes Lojistas, diz que o fato do desemprego ter aumentado não indica que as pessoas não estão trabalhando. O que houve, segundo ele, foi um aumento da informalidade. “O número de Microempreendedor Individual (MEI) aumentou durante esses dois anos, então, as pessoas estão trabalhando informalmente. Mas isso não pode sustentar as pessoas por muito tempo, é apenas complemento”, avalia.
Durante estes últimos dois anos, Beloti afirma que comércios grandes e pequenos foram fechados. Foi o caso do bar São Bartolomeu, que passou de duas para uma loja, tendo também fechado unidades de venda de chopp no Rio de Janeiro. A parte de cervejaria tinha 45 pontos de vendas e agora tem apenas três. Nos momentos mais críticos da pandemia, dos antigos 18 funcionários, apenas um permaneceu. Apesar disso, para o dono do estabelecimento, Breno Farace Torres, ainda que a movimentação não seja a mesma do momento anterior à pandemia, “a retomada está superando as expectativas”. O setor de restaurantes e bares, em sua visão, pode se beneficiar de uma demanda reprimida durante este momento de reabertura.
O presidente do sindicato enxerga que ainda tem setores, no entanto, que permanecem bastante prejudicados. O de vestimentas, para ele, é um caso claro – principalmente do comércio de roupas para festas. Foi o caso da loja Do Meu Closet Pro Seu, que precisou fechar sua sede física e dispensar os funcionários. “Não tinha mais movimento nenhum de festa. Tivemos que trabalhar com moda casual, um outro ramo, para tentar sobreviver”, diz Luciana Nogueira Fraga, uma das donas. Agora, com a autorização de festas e formaturas, ela também observa um aumento na procura.
Superintendente do Shopping Jardim Norte, Amanda Ribeiro, está otimista com o retorno dos clientes. Segundo ela, foi preciso muita criatividade para enfrentar esse período. “Sem dúvida, a pandemia trouxe grandes desafios para todos. No nosso caso, buscamos na força de trabalho da nossa equipe e dos lojistas alternativas criativas para nos adaptarmos às várias fases desses dois anos. E conseguimos. Nossos clientes já voltaram a frequentar o shopping, que está com todas as operações em funcionamento, inclusive as de lazer, como o cinema, por exemplo. Retomamos nosso calendário de eventos e de inauguração de novas lojas, tanto de empreendedores locais quanto franquias nacionais.”
Volta às aulas presenciais pode ser decisiva
Para o economista Lourival Batista, o retorno de 100% das aulas presenciais da UFJF, previsto para abril, terá um papel importante nessa retomada. “O comércio precisa que a cidade esteja se movimentando, e a volta às aulas pode gerar esse impulso”, diz. Em sua visão, o impacto se estende não só para o setor imobiliário, que é diretamente afetado, mas para todos os setores que sentem, em cadeia, essa movimentação.
Além disso, ele explica que é preciso que a situação da Covid-19 na cidade esteja controlada. Para isso, Lourival destaca que é necessário estimular a cobertura vacinal, manter o distanciamento social da melhor maneira possível e exigir, de maneira mais rigorosa, o passaporte vacinal. “Com essas medidas, você garante que, se a gente retomar o crescimento, ele não seja abortado logo em seguida pela necessidade de tomar medidas mais radicais em função da gravidade da pandemia”, diz.
Tendências para o futuro
Muitos setores da economia tiveram que se reinventar para escapar dos efeitos da pandemia. No São Bartolomeu, o caminho foi investir no delivery. “A gente perdeu um dos nossos diferenciais, que era o ambiente super agradável. A gente nunca prezou pelo delivery, e precisamos cair nessa de cabeça. Agora é um caminho sem volta, faz parte de uma fatia bem grande do faturamento total”, diz Breno. O mesmo afirmou Fernanda Silva Nogueira, também dona do Do Meu Closet Pro Seu, que, apesar de ter voltado para a área da moda de festa, passou “a investir em peso em tráfego, marketing e contatos no WhatsApp”.
O economista Lourival Batista confirma que essa é uma tendência geral, pois a população se acostumou totalmente com o uso de aplicativos e a fazer encomendas pela internet. Além disso, ele afirma que “outra tendência é o trabalho remoto. Muitas empresas vão continuar utilizando esse tipo de atividade, que pode até trazer redução de custos de operação”.
Clima de instabilidade
Para Beloti, uma coisa é clara: “não podemos ter tantos fatores externos prejudicando a situação econômica. Precisamos proporcionar mais empregabilidade, mas para isso é preciso de um equilíbrio geopolítico para que a situação continue avançando”. Marcos tem a mesma preocupação, já que “quando não há estabilidade, o consumo diminui. Para complicar, além da guerra na Ucrânia, também estamos em ano de eleição. Muitos investidores não agem até que o quadro político esteja definido”.