Medicina própria é alternativa aos planos de saúde para as grandes empresas

Modelo visa a criar uma rede de contatos entre médicos, clínicas e hospitais para atender funcionários de uma instituição


Por Mariana Floriano, sob supervisão da editora Fabíola Costa

15/01/2023 às 07h00

Buscando uma alternativa ao plano de saúde convencional, muitas empresas estão se organizando para oferecer autogestão em saúde a seus funcionários. Esse modelo é conhecido como Medicina Própria e, basicamente, consiste em criar uma rede de médicos, clínicas e hospitais para atender funcionários de uma instituição.

Em Juiz de Fora existem alguns exemplos como os de Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, ArcelorMittal e Rede Bahamas, entre outros, regulamentados pela Agência Nacional de Saúde (ANS). Atualmente o modelo é viável apenas para grandes empresas, mas já há articulações junto a ANS para que médios e pequenos negócios também possam oferecer o modelo a seus colaboradores.

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O presidente da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas), Anderson Mendes, conversou com a Tribuna e explicou as vantagens que o modelo traz à empresa e ao trabalhador.

Um modelo de saúde personalizado

A ideia que rege a autogestão em saúde não é de hoje e surgiu antes mesmo do Sistema Único de Saúde (SUS) estar disponível para todos. Um dos primeiros exemplos no país é o da Cassi, a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, criada em 1974. “Só em 1988, com a nova Constituição, ficou definido que o SUS seria direito de todos os brasileiros. Antes disso, o serviço de saúde era precário. Nesse cenário, o funcionalismo das grandes empresas se reuniu para criar um mutualismo a fim de cuidar da saúde de seus colaboradores”, comenta Mendes.

Na prática funciona assim: a empresa viabiliza um setor administrativo para criar uma rede de contatos com médicos, ambulatórios, clínicas e hospitais que estarão associados à autogestão. O funcionário, por sua vez, paga pelo serviço através de desconto na folha de pagamento, bem menor que o de um plano de saúde. Com isso, o colaborador tem acesso a consultas, exames e atendimentos com os profissionais associados à autogestão.

“A diferença desse modelo para um plano de saúde é que a autogestão não tem fins lucrativos e é ligada a um grupo fechado de pessoas”, explica o presidente da Unidas. Ele ainda afirma que o dinheiro arrecadado fica dividido entre a despesa da própria gestão e o pagamento dos serviços de saúde.

Mas qual seria a vantagem para a empresa? De acordo com Mendes, em um modelo de autogestão a empresa consegue construir um plano mais alinhado às necessidades do funcionário naquela instituição e localidade. “Por ser um modelo sem fins lucrativos, ele se torna mais econômico, visto que há isenção de alguns impostos e não precisa arrecadar a mais para aferir lucro.”

Pelo modelo que se rege, a autogestão é direcionada apenas a grandes empresas, geralmente com mais de mil funcionários. Ele exemplifica que, em uma instituição com 50 funcionários, criar uma autogestão seria complicado e nem sempre vantajoso. Mendes afirma que a Unidas vem trabalhando para viabilizar junto à ANS a regulamentação necessária para que pequenas empresas se unam e possam construir sua medicina própria. “Se eu tenho dez empresas com cem funcionários, já são mil pessoas; se forem 20 empresas, duas mil pessoas; somado aos seus familiares, ficaria em sete mil, o que já viabiliza um modelo de autogestão de saúde.”

Economia de até 8% na folha de pagamento com medicina própria

Hiram Rodrigues é gestor de saúde da Associação de Funcionários do Bahamas (Foto: Mariana Floriano)

Na Zona da Mata, uma das pioneiras na Medicina Própria foi a rede de supermercados Bahamas, que tem trabalhado na autogestão em saúde há 30 anos. Atualmente, a rede possui cerca de dez mil funcionários que têm à disposição 700 médicos, 40 clínicas e dez hospitais parceiros nas cidades onde atua. O gestor de saúde da Associação de Funcionário do Bahamas (AFB), o médico Hiram Rodrigues Junior, participou do processo desde o início.

Ele conta que a busca por um modelo de Medicina Própria se deu por conta da complexidade de gerir a saúde dos funcionários de uma empresa tão grande como o Bahamas. “Com tantos funcionários, a medicina se torna mais complexa que o “arroz com feijão” oferecido pelo plano.” Há dificuldade de se conseguir consultas e exames e, com isso, o trabalhador fica afastado por mais tempo. “Sem um tratamento de saúde apropriado, o colaborador precisará ser substituído ou a empresa pagar hora extra para um outro colega fazer sua função.”

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De acordo com Hiram, a autogestão é um modelo próximo da medicina preventiva, visto que oferece facilidade ao colaborador para tratar um problema de saúde logo nos primeiros sintomas. “Se o funcionário tem uma dor no braço, que pode ou não ser decorrente do trabalho, ele tem todo o aparato médico para tratar o quanto antes. Em um plano de saúde, a demora em marcar uma consulta pode fazer com que essa dor evolua para uma tendinite ou até um rompimento de tendão, que vai causar uma incapacitação parcial do funcionário.” Em uma situação dessa, o trabalhador pode processar a empresa, e o processo judicial trazer grande prejuízo.

No geral, a economia com gastos de saúde chega a 8%, explica Hiram. “Falando do lado empresarial, o custo é muito menor. No plano de saúde, se o trabalhador usou ou não usou, você paga. Na autogestão, a empresa só vai pagar quando o funcionário utilizar o serviço. Nós temos um gasto de 3,4% na folha de pagamento, enquanto, no Brasil, a média de gasto com plano de saúde é de 12%.” Hiram finaliza dizendo que assinar um plano de saúde pode até ser mais fácil, mas com o atendimento personalizado da Medicina Própria, a empresa evita faltas, um custo exagerado com plano e a diminuição de pagamento de hora extra.

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