Alimentação foi vilã da inflação em 2022

Custo da alimentação em casa aumentou quase duas vezes mais que comer fora


Por Mariana Floriano, sob supervisão da editora Fabíola Costa

13/01/2023 às 11h09

A alta de preços dos alimentos foi a que mais pesou no bolso dos brasileiros em 2022, revela o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alimentação em domicílio apresentou disparada de 13,23% na inflação acumulada nos últimos 12 meses, percentual quase duas vezes maior que o identificado na alimentação fora de casa, que teve aumento de 7,47%.

Nas compras no supermercado, o artigo que teve maior elevação no preço foi a cebola, que subiu 130,14% no ano. Essa foi a maior alta entre os 377 produtos e serviços pesquisados para composição do IPCA. O encarecimento se explica principalmente por conta de questões climáticas, segundo o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE), Matheus Peçanha. “Sozinho, o grupo de alimentos e bebidas respondeu por 40% da inflação. Sendo o setor de hortifruti o mais atingido. Tivemos um verão muito chuvoso, que afetou a cultura desses produtos. A exemplo da batata, que fechou o ano com inflação de 51,92%. O leite longa vida, principalmente no primeiro semestre, foi o vilão da cesta básica e fechou o ano com alta de 26,18%.”

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No que toca a alimentação fora de casa, como em bares e restaurantes, Matheus explica que o setor conseguiu absorver parte da inflação dos alimentos ao reduzir a margem de lucro. O índice de 7,47% ainda é alto, devido ao aumento no preço dos alimentos que afeta a cadeia produtiva, mas poderia ser bem maior se o setor não tivesse se mobilizado para refrear o repasse ao consumidor. “2022 foi o ano de total retorno pós-pandemia. A volta ao trabalho presencial aumentou a demanda pela alimentação fora do domicílio. Uma demanda maior permitiu também que o setor tivesse essa flexibilidade no repasse dos preços.”

Mas isso não significa que comer fora compensa financeiramente. O economista e coordenador do curso de Administração da Estácio, Bruno Dore, é doutor em finanças e explica que, embora o valor da alimentação em domicílio tenha subido mais que os preços no restaurante, comer fora de casa ainda sai mais caro. “Quando você come fora acaba pagando também o aluguel do estabelecimento, o serviço de quem cozinhou, o atendimento. A dica para economizar continua sendo preparar os alimentos em casa e levar para onde for consumir. E na hora de comer fora, pesquisar o estabelecimento no qual o repasse dessa inflação tenha sido menor ao consumidor.”

Alimentação em domicílio aumentou 13,23%, ao passo que a alimentação fora de casa teve aumento de 7,47% (Foto: Felipe Couri)

Solução é substituir e economizar

Para tentar driblar a alta nos preços é preciso ter consciência na hora de consumir e “cortar onde dá”, segundo Solange Medeiros, coordenadora institucional do Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais (MDC/MG). “É preciso pesquisar preços, buscar promoções e substituir alguns produtos”, aconselha. Para isso, é necessário optar por marcas menos conhecidas, que geralmente têm menor custo, mas executam o mesmo serviço. “Sempre uso o exemplo do sabão em pó. A marca mais famosa é a mais cara, mas as outras também lavam roupa. Talvez não com a mesma qualidade, mas com bom custo-benefício.”

Visto que a questão climática é o maior influenciador no preço dos hortifrutis, é preciso ter atenção na hora de escolher os produtos da época. “Uma dica é apostar em alimentos e frutas da estação, que ficam mais baratas em determinadas épocas do ano. Outro dia comprei quatro caixas de morangos pelo preço que pagaria em uma”, conta Solange.

Em conjunto com a economia na hora do mercado, Solange afirma que é preciso estender o racionamento para todos os gastos de casa. “Janeiro por si só já é um mês com muitos gastos, há imposto para quem tem carro, o IPTU, renovação de matrícula nas escolas, compra de material escolar… Então esse é o momento de poupar e evitar desperdícios, onde der, seja na conta de luz, de água, sempre pesquisando o que é mais vantajoso.”

Reflexo da inflação em 2023

O IPCA é o indicador oficial da inflação no Brasil. O índice de dezembro foi divulgado na última semana e mostrou que o país fechou o ano com acumulado de 5,79%, acima da meta definida pelo Governo. Esta foi a quarta vez seguida que o país fechou o ano com alta de preços superior à meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Para 2022, a meta era de 3,5% com teto de 5%. Embora tenha estourado o teto, o índice ficou bem abaixo do registrado em 2021, quando o acumulado foi de 10,06%.

O economista Matheus Peçanha aponta que a inflação de 2022 pode transbordar para 2023 em contratos indexados baseados nesse índice, como ajuste de matrículas e aluguel. Ainda é difícil, segundo ele, dar prognósticos para o próximo ano, mas, por um lado, a diminuição no preço das commodities deve aquecer o setor da indústria e fazer com que a inflação diminua. “Por outro lado, tivemos a desoneração dos combustíveis em julho do ano passado, o que segurou muito a alta da inflação.”

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De acordo com Matheus, se gasolina e energia elétrica fossem retiradas do cálculo do IPCA e seus pesos redistribuídos entre os demais itens que compõem o indicador, o país teria fechado o ano com inflação de 9,56%. “Não será possível continuar com essa desoneração por muito tempo, e a volta desses tributos pode acarretar em um aumento de preços em algum momento do próximo ano.”

 

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