ChatGPT: tecnologia pode tornar-se tendência no meio empresarial
Companhias já buscam ferramenta para incrementar negócios, mas riscos também preocupam empresários; especialistas indicam cautela
Naturalmente, o ser humano tende a buscar formas de evoluir as relações cotidianas. Nos últimos anos, o principal recurso utilizado tem sido a tecnologia, tirando proveito de funcionalidades dos computadores e smartphones e de seus aprimoramentos contínuos. Com a pandemia de Covid-19, empresas e o mercado mergulharam ainda mais no mundo tecnológico, e a tendência é de que, cada vez mais, novos recursos sejam utilizados. É o caso do ChatGPT, ferramenta lançada em 30 de novembro de 2022 pela OpenAI, empresa estadunidense sem fins lucrativos que realiza pesquisas sobre inteligência artificial.
O recurso ganhou mais destaque nos últimos meses, e por ser uma tecnologia com potencial de agregar em diferentes setores, seu uso e aumento na visibilidade foram quase imediatos. No campo empresarial, a nova tendência gerou, simultaneamente, interesse e preocupação, dividindo opiniões entre a necessidade de incrementar os negócios por meio do uso de inteligência artificial e os perigos de utilização desta ferramenta.
Segundo definição da própria OpenAI, o ChatGPT foi treinado para interagir de forma conversacional. “O formato de diálogo permite que a ferramenta responda perguntas de acompanhamento, admita seus erros, conteste premissas incorretas e rejeite solicitações inadequadas”. O significado da sigla – Chat Generative Pre-trained Transformer – induz que o programa produz conteúdo textual por um treinamento a partir de uma vasta base de dados, tudo sob mecanismos tecnológicos. A nova plataforma conta com recursos que chamaram atenção em diferentes âmbitos – educacional, no marketing, empresarial, entre outros, por possibilitar que os usuários tenham perguntas e dúvidas respondidas por meio da ferramenta.
No Brasil, prontamente, as empresas buscaram a implementação do ChatGPT no seu cotidiano. A Vivo, por exemplo, já trabalha para incluir o recurso em seu sistema. De acordo com o presidente da operadora de telefonia no país, Christian Gebara, uma nova versão da inteligência artificial da companhia, inspirada no ChatGPT, está em período de testes. Atualmente, a ferramenta da Vivo é a Aura, desenvolvida junto à Microsoft – parceira da OpenAI, dona do ChatGPT. A Tribuna entrou em contato com a assessoria da Vivo, que confirmou as informações divulgadas pelo presidente da empresa em entrevista ao jornal O Globo no dia 20 de fevereiro.
Em Minas Gerais, a tecnologia também já começou a ser aproveitada. Segundo o gerente regional do Sebrae Minas, João Roberto Marques Lobo, a própria entidade já aproveita os recursos da ferramenta. “É possível que as empresas, tanto de recorte nacional como do estado, já usem o ChatGPT com algum benefício. Na prática, algumas já estão adotando. Nós mesmos usamos um pouco dele para alguns relatórios básicos e em algumas situações com clientes”, destaca.
Ele acredita que a adesão por mais empresas em busca das vantagens do recurso tecnológico é benéfica para o mercado: “A situação é propensa para que outras companhias, além da que difundiu o ChatGPT, usem o programa. Isso gera concorrência e, consequentemente, tende a melhorar o uso das ferramentas em todos os quesitos”, pressupõe.
Nesse sentido, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio-MG) ressaltou a importância da avaliação sobre o uso da ferramenta nos negócios. “É necessário que os empresários do comércio reservem um tempo para prestarem atenção no ChatGPT, que pode vir a ser fundamental para o desenvolvimento de seus negócios”, avalia. Além disso, a instituição afirmou que também pretende aproveitar o recurso. “A Fecomércio-MG poderá, através dessa tecnologia, desenvolver conteúdo educacional para treinamentos on-line ou presenciais. Pretendemos incorporá-la gradualmente”, informa.
Benefícios e fatores de risco do ChatGPT
Por meio do ChatGPT, as empresas buscam as vantagens que podem colocá-las à frente no mercado. O gerente de soluções digitais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Gladson Roberto, explica que a ferramenta pode auxiliar de diferentes formas. “A plataforma coleta informações a partir da interação com clientes, pode ser personalizada para atender necessidades específicas, lida com várias demandas simultaneamente e aprende pelo contato com usuários. Esses são os recursos mais relevantes para o cenário corporativo”, analisa.
Apesar dos benefícios, a plataforma ainda precisa de melhorias para ser completamente integrada no sistema das empresas, por ser recém-lançada. “Os principais pontos negativos são a base desatualizada, que faz referência apenas até o final de 2021, e as respostas descontextualizadas, já que, dependendo da pergunta, a ferramenta pode tentar supor informações para retornar ao usuário – e consequentemente não entregar o proposto”, orienta o gerente.
Ao considerar tanto os fatores positivos como os negativos, a conclusão de Gladson tende para a aprovação na ideia do uso. “A tecnologia ainda não está madura o suficiente para ser utilizada de forma corporativa em larga escala, mas gradualmente pode ser inserida no contexto das empresas para agregar valor. Até o momento, os malefícios estão ligados ao uso da tecnologia sem restrições”, argumenta.
Defesa do consumidor
Apesar de ser uma ferramenta de inteligência artificial, o ChatGPT se relaciona primordialmente com seres humanos. Nesse contexto, há a preocupação por parte das empresas acerca de como a ferramenta pode ser prejudicial às condições trabalho das pessoas. Inclusive, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Ipec), em seu site, destaca o fato de a tecnologia poder gerar demissões em massa em empresas de produção de conteúdo como um de seus principais malefícios.
A conexão entre as pessoas com o ChatGPT no meio empresarial também pode trazer problemas na relação com os consumidores. Segundo João Roberto, gerente regional do Sebrae Minas, o exagero no uso da tecnologia pode deteriorar esse vínculo. “O cliente vai acabar tendo respostas muito padronizadas para as suas necessidades. Isso pode causar um distanciamento dele com a empresa quando ele precisa recorrer a alguma ajuda”, explica.
João Roberto ainda complementa dizendo que para evitar que a relação entre humanos e computadores traga prejuízos, é importante estabelecer uma moderação. “Quando falamos de gestão empresarial, temos que buscar um equilíbrio. Não adianta usar a tecnologia demasiadamente, pois pode distanciar o cliente. Mas, ao mesmo tempo, deixar de utilizá-la com o pensamento de estar suprimindo a atividade dos colaboradores é evitar vantagens competitivas para a empresa”, adverte.