Juiz de Fora tem apenas 22 empresas que exportam

Número é considerado aquém do potencial da produção local; Fiemg quer fortalecer cultura de exportação


Por Gracielle Nocelli

12/01/2020 às 07h02

Biojoias produzidas em Juiz de Fora são exportadas para Dinamarca, Portugal, Itália, Polônia, Estados Unidos, Japão, Rússia, Guiana Francesa e Alemanha. (Foto: Fernando Priamo)

Apesar de as vendas para o exterior representarem uma alternativa em meio à crise econômica nacional, que reduziu a demanda do mercado interno, ainda são poucas as empresas juiz-foranas que exportam. Há apenas 22 na cidade, conforme os dados de 2019 do Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). O número representa um pequeno acréscimo em comparação com 2018, quando o total era de 20 empresas, mas não foi capaz de surtir efeito no volume exportado. Na avaliação da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a produção local tem potencial para ganhar o mercado externo, mas, para isso, é preciso fortalecer a cultura da exportação.

Entre janeiro e novembro do ano passado, as exportações em Juiz de Fora declinaram 28% em comparação com igual período de 2018, indo de US$ 100,72 milhões para US$ 72,38 milhões. Mas não foram só as vendas para o mercado internacional que diminuíram. As importações caíram 24,7%, passando de US$ 840 milhões para US$ 632,52 milhões. Desta forma, a balança comercial ficou deficitária em US$ 560,14 milhões.

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Para o professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Weslem Rodrigues Faria, a redução das cifras é reflexo da crise. “As empresas juiz-foranas têm o perfil de importar matéria-prima para confecção de produtos de aço e itens médico-hospitalares que, posteriormente, serão exportados. Com o nível de atividade econômica baixo, os empresários precisaram readequar a produção”, explica. “Ao produzir menos, importa-se menos e, consequentemente, a exportação também diminui.”

Sobre a predominância das compras em relação às vendas para o mercado externo, o especialista avalia como característica local. “A nossa balança comercial é tradicionalmente deficitária por conta do perfil da cidade. A agricultura e o extrativismo não são atividades fortes na nossa economia, e a indústria perdeu participação nos últimos anos. Por isso, as exportações são menores do que as importações. Por outro lado, temos um setor de serviços forte.”

Weslem explica que a criação de uma cultura de exportação pode contribuir para dinamizar a economia, mas destaca que requer tempo. “As empresas não começam a exportar de uma hora para a outra. Trata-se de um processo de médio e longo prazos, que exige conhecimento prévio e planejamento. Por isso, mesmo que o momento seja favorável à atividade, por causa da alta do dólar, não é possível um impacto imediato de aumento do número de empresas exportadoras.”

Produtos e destinos

Dentre os principais produtos adquiridos pelas empresas juiz-foranas no exterior estão materiais de transporte (55,8%), minérios de zinco e seus concentrados (25%) e polímeros de etileno em formas primárias (6%). Peru, Argentina, Alemanha e México são os países que mais vendem para Juiz de Fora.

Com relação à exportação, o maior volume é referente aos metais comuns e suas obras (71,2%). Em seguida estão instrumentos e aparelhos para medicina, cirurgia, odontologia e veterinária (19%) e, em menor escala, os minérios de metais preciosos e concentrados (3,3%). Os países da América do Sul representam quase a metade do consumo destes produtos (46%). Suíça, Espanha, Estados Unidos, Emirados Árabes e África do Sul também integram o público consumidor.

Fiemg quer ampliar potencial exportador

O fortalecimento de uma cultura de exportação no município é apontado como necessidade, segundo o presidente da Fiemg Regional Zona da Mata, Aurélio Marangon. “Nós temos produtos de muita qualidade que podem ser competitivos lá fora, mas muitas empresas não consideram a possibilidade de vender para o exterior por desconhecer o processo.” Ele destaca o potencial das indústrias de alimentos, embalagens e confecção existentes na cidade.

Presidente da Fiemg Regional Zona da Mata, Aurélio Marangon, destaca o potencial exportador das indústrias de alimentos, embalagens e confecção existentes na cidade. (Foto: Marcelo Ribeiro)

Para Marangon, exportar é uma alternativa de desenvolvimento. “Além de uma oportunidade de equilibrar custos e até mesmo crescer em tempos de crise interna, trata-se de uma atividade que exige preparo e planejamento. A empresa passa por um processo de aprendizagem e conhecimento antes de começar a exportar.”

Na Zona da Mata, há apenas 93 empresas que exportam, sendo 22 localizadas em Juiz de Fora e as outra 71 distribuídas entre 29 municípios. “É preciso levar conhecimento para toda a região e difundir esta cultura. É este trabalho que temos desenvolvido por meio da parceria com a Apex Brasil.”

Peiex
O Programa de Qualificação para Exportação (Peiex), realizado pela Fiemg e a Apex Brasil, é oferecido gratuitamente, desde 2008, em Juiz de Fora, sendo destinado para empresas de toda a região. “O objetivo é incrementar a competitividade e disseminar a cultura exportadora”, explica a analista de Negócios Internacionais da Fiemg, Verônica Ribeiro Winter. A expectativa é que um novo edital com oferta de vagas seja divulgado em maio.

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A capacitação tem duração média de três meses, mas o prazo pode variar de acordo com a disponibilidade dos empresários para as visitas técnicas. Para a participação, é preciso se cadastrar na regional da Fiemg. “O cadastro é avaliado e, após aprovação, um técnico é designado para iniciar o atendimento da empresa. Inicialmente, será realizado o diagnóstico e, em seguida, a elaboração da metodologia do plano de trabalho, no qual são abordados os temas pertinentes ao comércio exterior.”

Ela informa que os interessados em aprender mais sobre o mercado internacional também podem entrar em contato com o Centro Internacional de Negócios da Fiemg. “Temos diversos projetos e serviços, além do Peiex, que apoiam as empresas no processo de internacionalização.”

Há oito anos, a empresa juiz-forana Amarjon Biojoias iniciou as vendas para o mercado internacional (Foto: Fernando Priamo)

Biojoias de JF ganham o mundo

Há oito anos, a empresa juiz-forana Amarjon Biojoias iniciou as vendas para o mercado internacional. “Começamos exportando para a Dinamarca por conta do interesse de uma cliente brasileira que gostou do nosso produto. A partir de então, enxergamos na atividade uma oportunidade de equilibrar as demandas dos mercados externo e interno e, assim, atingir a meta da empresa”, conta o diretor comercial Marcos Ribeiro.

Foi assim que ele percebeu a necessidade de aperfeiçoamento. “Vimos que para ampliar a nossa presença no mercado externo seria preciso mais qualificação, por isso, participamos do Peiex. Também fomos a feiras e outros eventos promovidos pela Fiemg.” Com a capacitação, a empresa percebeu a necessidade de realizar adequações. “Contratamos uma pessoa que fala inglês fluente para atender o público externo. Fizemos vídeo institucional e site em outras línguas. Também criamos ações de marketing com foco em prospectar novos mercados.”

Atualmente, a Amarjon Biojoias exporta também para Portugal, Itália, Polônia, Estados Unidos, Japão, Rússia, Guiana Francesa e Alemanha. A experiência de exportação tem sido promissora. “O nosso produto tem sido muito bem-aceito. O conceito de sustentabilidade com o qual trabalhamos é muito valorizado por estes públicos.” Para 2020, a expectativa é continuar exportando. “Queremos continuar trabalhando a nossa marca lá fora e gerar mais negócios a partir de processos sustentáveis e valores que agregam.”

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