Mercedes afirma que fábrica em Juiz de Fora será mantida

Guerra fiscal com os estados de Espírito Santo e São Paulo, traz preocupação a sindicato; hoje, empresa possui 1.130 empregados


Por Gracielle Nocelli

11/03/2019 às 17h33- Atualizada 11/03/2019 às 18h21

Montadora afirma que unidade será mantida mesmo com a transferência da produção de caminhões para SP e a possibilidade de levar desembaraço das sprinters para o ES (Foto: Fernando Priamo)

A Mercedes-Benz informou que não irá fechar a fábrica de Juiz de Fora. Os rumores sobre o esvaziamento da unidade ganharam força depois que a montadora confirmou que levará a produção do caminhão Actros para a planta de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e que estuda a possibilidade de transferir o processo de nacionalização das sprinters que chegam da Argentina via Porto Seco para o porto de Vitória, no Espírito Santo. Com a transferência destas duas operações, a fábrica juiz-forana ficaria responsável pela pintura e soldagem de cabinas, o que trouxe insegurança aos funcionários, conforme mostrado pela Tribuna em fevereiro. A preocupação é de que a redução das atividades acarrete demissões. Nesta segunda-feira (11), representantes do Sindicato dos Metalúrgicos se reuniram com a direção local da empresa na busca por um posicionamento sobre o futuro da unidade.

Durante a reunião, a direção da Mercedes teria assegurado a manutenção dos 1.130 empregos e afirmado que a produção do Actros em Juiz de Fora continua, pelo menos, até o final de 2019. “A direção local disse que não tem autonomia para falar sobre as decisões de transferência das atividades, mas garantiu que o caminhão continuará sendo produzido este ano e que, inclusive, devem ser criadas novas vagas de emprego”, afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, João César da Silva. No entanto, as informações não diminuíram a preocupação da categoria. “Não tivemos uma definição clara sobre como será o ano que vem, por isso, já solicitamos uma reunião com o vice-presidente da empresa, que está prevista para ocorrer no final do mês.”

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Segundo João, 70% da mão de obra empregada na fábrica atua com a produção do caminhão Actros. “Esta é a principal atividade. Se ela acabar, teremos uma demissão em massa que irá impactar toda a economia da cidade. Nós não queremos alarmar as famílias dos trabalhadores, mas acreditamos que é mais fácil conversar com a empresa antes de uma decisão ser tomada do que esperar as coisas acontecerem.” Ele afirma que também irá buscar o apoio do poder público. “Iremos conversar com o Governo de estado e a Prefeitura. É hora de unirmos forças pelo bem da cidade. Estamos sofrendo com a guerra fiscal de todos os lados”, disse se referindo ao interesse do Governo do Espírito Santo, que oferece menor carga tributária, no desembaraço das sprinters e ao pacote de incentivos ficais para montadoras anunciado, na última sexta-feira (8), pelo governador de São Paulo, João Dória.

Na avaliação do sindicalista, caso o desembaraço das sprinters seja levado para o Espírito Santo, Juiz de Fora irá perder em arrecadação. “A atividade em si demanda pouca mão de obra, logo, não impactaria em demissões. O prejuízo seria financeiro para o município.” Com relação à produção do Actros, ele acredita que, se a Mercedes realizar a transferência para São Paulo, será preciso negociar a substituição do produto. “No passado, quando a fábrica parou de produzir carros, trouxeram os caminhões. Será preciso uma substituição deste tipo para evitar o desemprego de mais de 700 pessoas.”

Poder público
Procurada pela Tribuna, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedectes) informou que “manteve contato com a direção da Mercedes-Benz, e a mesma trabalha para que não haja a redução ou paralisação nas operações da fábrica de Juiz de Fora. Existe o compromisso da empresa em manter as atividades no município, principalmente na fabricação de cabinas de caminhões, mantendo os investimentos previstos e a manutenção dos empregos gerados atualmente.”

Em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Rômulo Veiga, afirmou que o assunto tem sido tratado com prioridade pela Prefeitura. “Quando se trata de uma multinacional, com atividades vinculadas em diferentes países, precisamos de intervenção estadual e federal. Estamos articulando diretamente com o Governo de estado para a manutenção dessas atividades, que são extremamente importantes para a nossa economia. Desde que o assunto ficou latente, temos nos reunido com a Sedectes e o Instituto Integrado de Desenvolvimento Econômico (Indi), que se mostraram sensíveis e empenhados para negociar com a Mercedes.”

Montadora não tem data para transferência do Actros

Procurada pela Tribuna, a assessoria da Mercedes-Benz enfatizou que não irá fechar a fábrica de Juiz de Fora, mas confirmou, mais uma vez, que mantém os planos de levar a produção do Actros para São Bernardo do Campo. “A estratégia é ter as duas unidades trabalhando em total sinergia para atender às demandas do mercado. Desde outubro de 2014, quando anunciamos o investimento de R$ 230 milhões para a fábrica de Juiz de Fora, essa estratégia já tinha sido implementada. Mas a data de transferência está em definição.”

A montadora ressaltou, ainda, que a cidade continuará responsável pelas cabinas dos caminhões Accelo, Atego, Axor e Actros. “Por isso, sua importância para atuação em sinergia com a planta do ABC paulista. Ou seja, sem as cabinas, não montamos veículos. Além disso, a planta mineira recebe parte do investimento de R$ 2,4 bilhões, entre 2018 e 2022, para continuação da modernização das fábricas rumo à Indústria 4.0, além do desenvolvimento de novos produtos e serviços de conectividade.”

Sobre a possibilidade de transferir o desembaraço das sprinters para o Espírito Santo, declarou apenas que “avalia a possibilidade e se manifestará quando tiver uma decisão.”

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Vendas
Segundo dados da Mercedes-Benz, de janeiro a dezembro de 2018, a empresa vendeu 19 mil caminhões no país, uma alta de 50% em relação a 2017. Considerando somente os meses de janeiro e fevereiro de 2019, foram comercializados mais de 3.900 caminhões, o que representa crescimento de 67% em relação ao mesmo período do ano passado.

 

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