Trabalhador omite qualificação por vaga
Há mais de dois anos desempregado, o funileiro E.M., de 62 anos, revela a outra face perversa do desemprego: a busca por vagas de menor qualificação. Quando a Tribuna encontrou com o trabalhador, ele saía pela porta do UAI com uma expressão decepcionada no rosto: a de quem não encontrou a vaga que esperava. O funileiro relatou ter deixado mais de 12 currículos em diferentes pontos da cidade, sem obter resposta de nenhum deles. Na maioria dos documentos, entretanto, a função que exerceu por anos foi omitida, para que pudesse ampliar o número de possibilidades.
“Quando comecei a trabalhar, em 1985, tínhamos muitas vagas. As vezes, éramos disputados por três, quatro empresas ao mesmo tempo. Agora já não temos mais tantas firmas do ramo. Por isso, estou aceitando o que aparecer”, narra. O funileiro contou ter feito salgados para vender, mas não foi o suficiente para pagar as contas da casa. “Minha esposa, que é cozinheira, tem ‘levado’ todas as despesas. Mas não deixo ela comprar nada para mim, porque não posso trazer mais dificuldades para ela.” Sem renda que dê suporte às despesas com deslocamento, ele destaca a dificuldade de ter que se deslocar sempre até a agência.
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A necessidade que faz as pessoas deixarem de buscar postos compatíveis com seus perfis profissionais vêm sendo cada vez mais observada, atesta o secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), Abraão Ribeiro. “Isso acontece até mesmo entre pessoas que estão estudando. Elas conseguem fazer uma graduação com mais facilidade, mas quando concluem, não conseguem uma posição. Isso se torna uma frustração. Muitos profissionais omitem informações como a graduação. Em contrapartida, os recrutadores não contratam essas pessoas porque sabem que é uma situação passageira, até que ela consiga ser inserida na área dela.”
O economista André Zuchi avalia o impacto que esse comportamento provoca no mercado. “As pessoas precisam do trabalho para colocar renda dentro de casa. Conforme o tempo passa, a situação fica cada vez mais desesperadora. Quem perde emprego encontra cada vez mais dificuldade de encontrar outro. Vemos pessoas sem qualificação que não conseguem as vagas, e quem tem está tirando a formação do currículo para pegar as vagas de quem não tem. Está tudo errado, isso gera uma prostituição do mercado, a expressão é forte, mas é real. O problema é mais sério do que se imagina.”