Oportunidades de empregos para Páscoa têm redução em JF

No país, contratações para a data diminuíram 22%, passando de 23 mil no ano passado para 18.130 este ano


Por Gracielle Nocelli

09/04/2019 às 06h49- Atualizada 09/04/2019 às 07h21

A Páscoa promete gerar oportunidades de emprego em 2019, porém em menor escala se comparada aos últimos anos. A demanda provocada pela data, que será celebrada em 21 de abril, deve ser responsável pela abertura de 18.130 vagas temporárias em todo o país, segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab). O número é 22% menor do que o total verificado em 2018, quando foram criados 23 mil postos de trabalho. A queda é ainda mais acentuada quando observadas as contratações temporárias em 2017 de, aproximadamente, 25 mil vagas, e, em 2016, que ficaram em torno de 29 mil. Em Juiz de Fora, não há estimativa sobre o número de empregos que devem ser criados, mas a expectativa é que a cidade acompanhe a tendência nacional de redução de oportunidades.

O presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio-JF), Emerson Beloti, destaca que a data movimenta estabelecimentos específicos. “Diferente do Dia das Mães e do Natal, que abrangem a maior parte do varejo, a Páscoa impacta as vendas de apenas alguns segmentos, como supermercados, peixarias e lojas de chocolate.” Ele explica que, por isso, a procura por mão de obra tende a ser pontual. “Estes estabelecimentos vão analisar a necessidade de mais funcionários conforme a demanda, mas a expectativa é que, assim como está acontecendo no panorama nacional, a geração de vagas seja menor do que no ano passado, pois ainda vivemos uma retração no mercado.”

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Vendas já estão melhores na Kayambá, que pode optar por mais contratações nos próximos dias (Foto: Olavo Prazeres)

Desde 2017, o Sindicomércio-JF não divulga a estimativa de número de vagas temporárias previstas para a Páscoa. Em 2016, a informação era de que a data criaria cerca de 150 postos de trabalho na cidade, número 25% menor do que o verificado em 2015. Com a crise econômica, a expectativa tem sido de redução gradativa das oportunidades ano a ano. “As contratações ainda acontecem, mas num ritmo mais desacelerado”, explica Beloti.

Além da retração na economia nacional, que interfere diretamente na confiança dos empresários para a realização de contratações, a Abicab analisa a queda na geração de vagas temporárias no país como reflexo, também, da mudança no comportamento do consumidor, que ganhou mais autonomia para fazer escolhas. Além dos estabelecimentos físicos, há opções de compra pela internet. De acordo com a associação, a maior parte das vagas criadas este ano será concentrada em fábricas de chocolate e de embalagens, pois a oferta de empregos temporários nas lojas físicas tem diminuído anualmente.

‘Cautela’

Nas empresas, a palavra de ordem é “cautela”. Se antes a abertura de vagas era realizada com antecedência, agora ela ocorre mais próximo à data, quando já é possível compreender como será a demanda dos consumidores. “Ainda estamos com o mesmo número de funcionários, pois vamos esperar para ver como será a procura pelos produtos. Mas estamos muito otimistas com as vendas, e pode ser que abram oportunidades”, diz a vendedora da Casa das Trufas, Helidijane Gonzaga.

Nove funcionários temporários já foram admitidos em empresa para produzir produtos de Páscoa (Foto: Olavo Prazeres)

Na Kayambá, parte das contratações temporárias foi realizada, mas novos postos de trabalho podem ser abertos. “As vendas já começaram, e eu não esperava um retorno tão positivo. Me planejei com bastante cuidado, e decidi diminuir as compras, mas vou ter que incrementar meu estoque. Também estava com a intenção de contratar menos, mas ao que tudo indica poderemos precisar de mais pessoas”, diz o proprietário Rubens Kayambá. No estabelecimento foram admitidos nove funcionários temporários. “Neste primeiro momento, temos recebido encomendas para escolas, empresas e instituições.”

O Grupo CRM, que engloba as marcas Kopenhagen e Chocolates Brasil Cacau, ambas com lojas na cidade, espera contratar 395 trabalhadores temporários, sendo 300 para a fábrica em Extrema, no Sul de Minas Gerais, e 95 para as lojas da rede em todo o país. “Dos temporários contratados, cerca de 15% do quadro serão efetivados para atender ao plano de expansão Kopenhagen programado para 2019”, informou a assessoria.

Empreendedorismo como alternativa à retração

O mercado de trabalho está cada vez mais enxuto no país, que soma 12,7 milhões de desempregados, de acordo com os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diante da incerteza sobre o tempo necessário para este mercado reagir e voltar a contratar, a alternativa de muitos brasileiros tem sido a abertura do próprio negócio. Juiz de Fora contabilizou 28.375 microempreendedores individuais (MEI) formalizados até março deste ano. Parte deles trabalha com a fabricação de produtos derivados de cacau e chocolate, e aposta na Páscoa como a possibilidade de incrementar as vendas.

Há um ano e meio, Noelle Tristão Viana da Costa Goulart, 34 anos, decidiu usar o talento que tinha na cozinha para ganhar dinheiro. Formada como técnica em enfermagem, até então, ela dividia o tempo com o trabalho de cuidadora e a rotina de mãe do pequeno Matheus. Quando descobriu que estava grávida dos gêmeos Henrique e Thainá, viu na produção de doces e brigadeiros a alternativa para ter uma fonte de renda capaz de conciliar os cuidados com as três crianças. Foi assim que surgiu a ideia da Boby Delícias.

“É muito comum quando as pessoas precisam de uma renda extra e têm uma habilidade culinária transformarem isto em uma oportunidade”, diz Tarcísio Fagundes, analista técnico do Sebrae (Foto: Leonardo Costa/Arquivo TM)

O negócio, que começou com o atendimento sob encomenda, apresentava potencial para prosperar mais. Motivada pela oportunidade e a incerteza sobre a reação do mercado de trabalho, a irmã de Noelle, Naissa Viana, 32 anos, propôs sociedade e investiu na expansão do projeto. “Eu já tinha vontade de empreender, cheguei a ter mais de uma ideia de possível negócio, mas, pelo medo de arriscar e falta de um propósito claro, não saiu do papel”, conta Naissa. Formada em Comunicação Social, ela relata que ficou sem emprego no início 2019, e esta era a terceira vez que acontecia nos últimos dez anos. “Foi o empurrão que faltava para eu empreender. Felizmente, a Noelle topou, e começamos uma nova fase da Boby Delícias, com nova logomarca, forte presença nas redes sociais, realização de delivery e encomendas para eventos.”

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De acordo com Naissa, o empreendedorismo se mostrou uma alternativa mais viável do que a recolocação no mercado. “A Noelle trabalhava como cuidadora, que é um área que tem bastante demanda, mas com uma carga de trabalho muito pesada e com horários que ficavam difíceis de conciliar com a rotina de mãe”, avalia. “Eu trabalhei por muito tempo com comunicação. O que percebi foi que a área, que já era desvalorizada, ficou ainda pior com a crise. Infelizmente, grande parte das empresas ainda enxerga a comunicação apenas como custo e, por isso, o setor é o primeiro a sofrer cortes. Por isso, resolvi investir em um negócio próprio e trabalhar com a comunicação dele.”

Reconhecendo que o empreendedorismo reserva vantagens e desafios, Naissa e Noelle estão otimistas com as vendas para a Páscoa. “Como a economia ainda não melhorou, acreditamos que as pessoas buscarão alternativas mais econômicas e originais que os ovos de chocolate para presentear. É justamente esse espaço que queremos preencher.”

Orientação

O analista técnico do Sebrae, Tarcísio Fagundes, diz que o ramo de alimentos e doces está entre os mais procurados por novos empreendedores. “É muito comum quando as pessoas precisam de uma renda extra e têm uma habilidade culinária transformarem isto em uma oportunidade.” No entanto, ele alerta para os desafios da empreitada. “Para depender exclusivamente do negócio é preciso se profissionalizar, estudar mercado, público e como atingir este público. Além do domínio operacional é necessária a capacidade de gestão.” Ele orienta quem deseja abrir um novo negócio que comece com o trabalho sob encomenda. “Esta é a maneira de ir testando e experimentando o mercado, antes de dar o próximo passo.”

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