Empreendedora de JF fala sobre moda sustentável e presença feminina no segmento
Aline Azevedo, fundadora da Rata de Brechó e da UP CO, conta sobre os desafios que enfrentou nesse mercado e o que a motiva a continuar
Nesta quarta-feira, 8 de março, marcada pelo Dia Internacional da Mulher, a empreendedora Aline Azevedo concedeu entrevista à Rádio Transamérica Juiz de Fora e contou mais sobre o seu trabalho. Com ela, teve início uma série de entrevistas comandadas por Cristiane Hubner, com o objetivo de levar ao conhecimento do público histórias de mulheres que estão liderando seus próprios negócios no município.
Aline é fundadora da Rata de Brechó e da UP CO, dois negócios que têm como base a moda sustentável. Nesse mercado, ela entende que é possível abrir portas para outras mulheres e inovar cada vez mais, sempre buscando formas ecológicas e diferenciadas de fazer isso.
A ideia de entrar para o mundo do empreendedorismo surgiu quando Aline teve seu primeiro filho e percebeu que precisava encontrar um caminho para equilibrar sua vida entre o trabalho e a maternidade. A alternativa que encontrou foi fazer um trabalho que pudesse desenvolver em casa, se mantendo, assim, próxima da criança. Ela mesmo destaca, inclusive, que é algo que mulheres que se encontram na mesma posição que ela também tendem a buscar para conseguir manter bem vivas essas duas faces.
“Abri o Rata de Brechó dentro da minha casa, em uma época bacana, quando esse tipo de comércio ainda era uma novidade aqui em Juiz de Fora”, explica. Esse caminho começou há cerca de 14 anos, e ela trabalhou durante dez anos nesse projeto.
Ao longo do percurso, Aline percebeu que havia um novo nicho que poderia explorar para fazer ainda mais diferença. “Estava mergulhada naquele universo de consumo consciente e de sustentabilidade, e também vendo muita roupa usada e frequentando bazares cheios de roupas desperdiçadas, que eram doadas em mau estado. Eu ficava vendo isso e pensando para onde ia aquilo tudo, o que poderia fazer para tentar melhorar isso, porque aquilo me incomodava muito”, diz.
No brechó, ela não conseguia dar um encaminhamento para boa parte das peças, porque as que estavam em más condições não podiam ser vendidas, mas ela entendeu que essas peças poderiam ter outras finalidades. A UP CO surgiu nesse contexto, com a ideia de transformar uma peça em outra, mesmo aquelas que já estavam “feias” ou “estragadas”, mas que nesse processo passavam pelo olhar da designer de moda e poderiam se tornar um objeto de desejo.
Transformando peças
Aline explica que a UP CO surgiu abraçando um conceito ainda pouco explorado: o de upcycling, que é bastante diferente de uma simples reciclagem. “O upcycling é quando você transforma um objeto em outro objeto sem descaracterizá-lo. O pneu de carro, por exemplo, pode virar um puff bacana”, diz. Ela explica que na reciclagem, por sua vez, um material como esse seria totalmente triturado até que pudesse ser aproveitado. “Podemos transformar roupa em bolsa, e qualquer tipo de tecido em qualquer tipo de coisa”, explica.
Apesar de ser um mercado bem novo, ela conta que nota uma abertura à medida em que as pessoas vão conhecendo mais sobre o trabalho realizado.Existe, no entanto, uma barreira: a competição com mercados estrangeiros, que têm preços ultra predatórios. É também por esse motivo que ela acha que é tão importante seguir essa linha. “O upcycling é o futuro, porque senão vamos viver em um planeta mergulhado em tecidos”, afirma. O que deseja, agora, é sensibilizar e alertar mais gente sobre isso.
Quero conscientizar mais as pessoas, para todos entenderem que não se trata de usar algo velho ou que ia ser jogado fora, mas simplesmente de aproveitar um produto já pronto como matéria-prima para produzir outro, sem precisar fazer de novo algo que já existe”.
Empreendedorismo como ferramenta de mudança
Em sua visão, o empreendedorismo pode mesmo ser uma ferramenta de mudança social, e não só na questão da sustentabilidade. Como aconteceu em sua própria vida, ele também pode ser uma forma através da qual muitas outras mulheres poderiam entrar no mercado de trabalho e encontrarem o seu próprio espaço. “Conseguir um emprego está muito difícil hoje em dia, as pessoas têm que se virar por si mesmas. Acho então que essa é mais uma possibilidade quando você não consegue uma solução convencional. Mas é algo muito novo, que antes não se chamava de empreendedorismo, mas sim de bico”.
Também por isso, no seu negócio, ela busca também dar oportunidade para mulheres que precisam trabalhar em casa, porque enxerga que é preciso defender suas iguais. Além disso, Aline também afirma que, apesar das dificuldades que existem, assim como em todas as áreas, o empreendedorismo pode ser uma carreira que traz muita felicidade.
Desafios sempre vão acontecer em qualquer área que se escolha, seja no empreendedorismo ou nos trabalhos com carteira assinada. O ideal é buscar algo com o qual você se envolva, se emocione, que você goste e ame. Isso vai facilitar muito a superação dos obstáculos. Escolha uma tarefa que você gosta de fazer em primeiro lugar, para acordar de manhã e ter aquela animação”.
Desafios
Sendo uma mulher, no entanto, ela enxerga que passou por mais desafios para se consolidar como uma empreendedora e ter destaque no mercado. “Enquanto estava trabalhando com o brechó, o meu desafio era conciliar os horários, era mais uma questão operacional”, diz. Quando a UP CO surgiu, em especial, ela passou a se inserir mais em um mercado empresarial que é majoritariamente masculino. “Eu não posso ser mais tão expansiva como era antes, por exemplo, para não ser mal interpretada ou o que digo ter uma outra conotação”, revela. Crescendo cada vez mais em sua carreira, ela entende que “passa por mais desafios hoje do que teve ao longo dos anos anteriores”, mas também entende que para seguir em frente é sempre preciso ter muita persistência.