Gás de cozinha custa até R$ 92 em Juiz de Fora

Encarecimento do insumo básico causa apreensão para as famílias e aumenta a incerteza sobre a retomada econômica


Por Gracielle Nocelli

07/05/2021 às 07h38- Atualizada 07/05/2021 às 11h11

Os juiz-foranos iniciaram o mês de maio pagando até R$ 92 pelo gás de cozinha (GLP), segundo pesquisa realizada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). O valor é 15% maior do que o verificado há um ano, quando o botijão de 13 quilos custava, no máximo, R$ 80. O percentual supera a inflação de 6,1% acumulada em 12 meses, conforme o IBGE. O encarecimento de um insumo básico em meio às dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19 causa apreensão para as famílias e aumenta a incerteza sobre a possibilidade de retomada econômica.

O levantamento da ANP, feito entre os dias 25 de abril e 1º de maio, mostrou que, considerando as variações de preços praticadas por distribuidoras e revendedoras da cidade, o GLP apresenta o valor médio de R$ 79,72 em Juiz de Fora. O custo exerce pressão na renda das famílias, representando 7,24% do salário mínimo, fixado em R$ 1.100, e 31,9% do auxílio emergencial estabelecido pelo Governo federal este ano, de R$ 250.

PUBLICIDADE

A alta do gás de cozinha é reflexo da oferta e demanda do produto e, também, sofre interferência do dólar, cotado em R$ 5,27 no início da tarde de quinta-feira (6). “O Brasil não é autossuficiente em GLP e, por isso, importa parte do produto para atender a demanda interna. Assim, o câmbio interfere diretamente no preço”, explica o economista e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Fernando Perobelli.

O valor é 15% maior do que o verificado há um ano, quando o botijão de 13 quilos custava, no máximo, R$ 80 na cidade (Foto: Fernando Priamo)

Ele aponta, ainda, que, por ser um insumo básico e com pouco poder de substituição, a demanda não tende a diminuir de forma significativa quando os preços aumentam. “Nesse sentido, as famílias que estão passando mais tempo em casa e mantiveram seus empregos podem aumentar a demanda pelo GLP”, analisa. “Já as famílias com baixa renda estão sendo extremamente afetadas.”

Impactos

Além de impactar a renda das famílias e, consequentemente, o poder de compra, o encarecimento do GLP também interfere diretamente em algumas atividades econômicas, como é o caso da alimentação fora do lar. “O nosso setor já tem sofrido muito por conta da pandemia da Covid-19. Agora temos que lidar com a alta de insumos básicos, como gás de cozinha e alimentos, sem poder repassar ao consumidor porque a demanda está fraca”, afirma o coordenador executivo do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Juiz de Fora (SHRBSJF), Rogério Barros.

Ele relata que, diante das dificuldades, muitos estabelecimentos não conseguiram se manter no mercado. “Do ano passado para cá, foram cerca de 300 locais que fecharam as portas de vez.” Rogério destaca que alguns eram tradicionais na cidade e mantinham muitos postos de trabalho.

Expectativa

Após vários cortes consecutivos, nesta quarta-feira (5), o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa de juros Selic de 2,75% para 3,5% ao ano, uma tentativa de combater a alta do dólar e controlar a inflação. “O aumento ainda não é suficiente para trazer mudanças para a economia, mas é necessário que seja realizado em doses homeopáticas para não surtir um efeito indesejado, de piorar o cenário econômico”, alerta Perobelli.

O conteúdo continua após o anúncio

No entanto, o especialista destaca que a melhora da economia passa pela resolução do problema sanitário. “A nossa situação ainda causa incerteza para os investidores, que darão preferência aos países que já têm uma política de controle da pandemia da Covid-19. No momento, falta credibilidade a nossa economia.”, pontua. “A retomada econômica será possível com vacinação em larga escala e redução dos índices epidemiológicos.”

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.