Com três aumentos, em cinco dias, gasolina pode bater a casa dos R$ 4 em JF
Preço médio praticado no mercado local é o maior do ano e chega a R$ 3,875
Não é notícia velha. É um novo reajuste mesmo. Pela terceira vez em um intervalo de cinco dias, a Petrobras anunciou mais um aumento no preço da gasolina nas refinarias. A alta acumulada passa de 10% só em setembro. A partir desta terça-feira, o reajuste autorizado é de 3,3%. Na semana passada, a companhia já havia anunciado majorações de 4,2% (a partir do dia 1º) e 2,7% (a partir do dia 2) para o combustível. Caso os reajustes sejam repassados integralmente das refinarias para as bombas, o valor do litro ao consumidor pode bater, com facilidade, a casa dos R$ 4 na cidade.
Em Juiz de Fora, o preço médio do combustível praticado em agosto foi de R$ 3,875 o litro, o mais elevado pago pelos juiz-foranos desde o início do ano – ver quadro. O valor é 5,8% maior do que o apurado em agosto de 2016. Na época, o consumidor pagava, em média, R$ 3,660 o litro. Na comparação com julho, a alta chega a 7,48%, conforme dados divulgados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A justificativa da estatal é que, na última semana, em função dos impactos do furacão Harvey na operação de refinarias, oleodutos e terminais de petróleo e derivados no Golfo do México, os mercados de derivados sofreram variações intensas de preços. Desde a implementação da nova política de custos, em julho, a alta acumulada passa de 13% para a gasolina. No caso do diesel, o aumento chega a 17,31%.
Um motorista de 40 anos, que prefere não ser identificado, trabalha como representante comercial com o veículo próprio e avalia que está muito difícil arcar com as altas sucessivas. Por dia, ele percorre mais de cem quilômetros. Para manter a atividade e não ficar no prejuízo, ele aproveitou a facilidade de o veículo ser flex e tem optado pelo etanol, apesar do menor rendimento. Com um litro de gasolina, ele costuma percorrer cerca de 12 quilômetros. Com o álcool, o trajeto costuma variar entre 7,5 e 8 quilômetros.
O motorista, que costumava gastar R$ 40 por dia nos postos – já com a migração para o etanol – viu o custo subir para R$ 50 na última semana e teme como a situação ficará a partir desta terça. “Não posso deixar o carro na garagem e sei que, num efeito cascata, vai subir tudo, inclusive a alimentação.”
Para o economista e professor da Faculdade de Economia da UFJF Weslem Rodrigues Faria, o aumento do combustível é prejudicial para a economia, altamente dependente do setor de transporte, especialmente o rodoviário. Segundo ele, muito desse custo será refletido nos produtos de venda final, inclusive os agrícolas, levados aos portos via modal terrestre. “Isso provoca um aumento no nível geral de preços na economia e prejudica as exportações.”
Segundo o economista, a medida também impacta de forma negativa a indústria, diminuindo a lucratividade e reduzindo os investimentos. Na sua avaliação, os itens produzidos localmente e os hortifrutis tendem a ser menos afetados, diz, ressaltando a importância da constante pesquisa de preços.
No caso específico dos motoristas, Weslem adverte que a migração para o etanol só é vantajosa quando se atinge a proporção de 70%. Considerando os valores médios praticados na cidade em agosto, a proporção verificada é de 69,3%. Enquanto o litro do etanol era comercializado a R$ 2,687, o da gasolina chegou a R$ 3,875. Os dados do mês passado referentes ao município são os mais recentes divulgados pela ANP.
Política de preços acompanha volatilidade dos mercados
A Petrobras, por meio de sua assessoria, afirmou que o Grupo Executivo de Mercado e Preços (Gemp), em reunião realizada nesta segunda (4), decidiu autorizar reajustes também no diesel (0,1%). Só este mês, o combustível já havia subido 0,8% e 4,4%. O argumento do grupo para as majorações é que o limite de variação de 7%, fixado pela política de preços da companhia para decisões da área técnica, foi atingido.
Por meio de comunicado, a estatal comunicou que o grupo executivo é convocado quando há necessidade de reajustar os combustíveis em mais de 7% para cima ou para baixo em um único mês. “A avaliação dos representantes do Gemp é que a política de preços definida pela Petrobras tem sido capaz de garantir a aderência dos preços praticados pela companhia às volatilidades dos mercados de derivados e ao câmbio.”
Procurado, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro), esclarece que os estabelecimentos revendedores de combustíveis são apenas mais um elo na cadeia de comercialização, que é extensa e composta por importantes players durante o processo, desde o refino até a disponibilização do produto ao consumidor final.
“O Minaspetro ressalta que os postos, sendo o último e mais visado elo no segmento de distribuição e revenda, dependem de decisões e repasses – caso estes aconteçam – por parte dos outros agentes do setor, ou seja, Governo, refinarias, usinas de etanol e companhias distribuidoras.”
Por nota, a entidade afirmou, ainda, que não são realizadas pesquisas de preço, estoque, volume de compra ou qualquer outra informação de cunho comercial, já que o mercado de combustíveis é livre. “Cada empresário define seu preço de venda, que varia de acordo com inúmeros fatores, como estratégias comerciais, localização e concorrência, entre outros.”