Preço do leite sobe acima da inflação e pesa no bolso do consumidor
Produtores de Juiz de Fora destacam sazonalidade e alta nos custos de produção como fatores que pressionaram a escalada, percebida nas gôndolas
Para o consumidor, basta um olhar atento nas prateleiras dos supermercados para constatar: o preço do leite e dos derivados disparou nos últimos meses e passou a pesar (ainda mais) mais no bolso. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), a prévia da inflação, reforça a percepção. De acordo com o levantamento, leites e derivados tiveram alta de 16,84%, bem acima da inflação de 5,65% mensurada pelo índice, considerando o acumulado dos seis primeiros meses deste ano. Apesar da alta, produtores ouvidos pela Tribuna alegaram arrocho também para a categoria, que identifica aumento nos custos de produção, além de contabilizar prejuízos em função do período de seca.
De acordo com o IPCA-15, o leite longa vida acumula alta de 28,75% entre janeiro a junho deste ano. O crescimento no custo do produto aconteceu de maneira mais significativa nos meses de março, abril, maio e junho, quando avançou, respectivamente, 3,41%, 12,21%, 7,99% e 3,45%. Na ponta, o consumidor chega a pagar quase R$ 7 o litro do leite em Juiz de Fora.
Entre os derivados, o iogurte (11,40%), o leite condensado (11,20%), o queijo (10,25%), a manteiga (9,53%) e o o requeijão (8,63%) também apresentaram variação acima da inflação este ano. O leite em pó (4,94%) e o leite fermentado (5,62%) também sofreram altas, mas não tão expressivas ante os demais derivados.
Já levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP sobre o preço do produto pago aos produtores aponta alta de 14,5% no valor médio entre o começo do ano e o mês de maio, projetando cerca de 5% de aumento na média de junho. Os produtores receberam, em média, R$ 2,54 por litro de leite em todo o Brasil em maio. Em comparação ao mesmo mês do ano anterior, o aumento chega a 11,8%.
Baixa oferta causa alta nos preços do leite, diz produtora
A produtora rural e veterinária Sheila Kreutzfeld, do Distrito de Pirapetinga, aponta a queda no volume de produção de leite como o principal motivo para a alta de preços. Caindo a oferta e mantendo ou aumentando a demanda, ocorre a pressão nos valores praticados, como ela explica. “A escassez de leite no mercado acontece por vários motivos. O primeiro deles é a alta nos insumos, percebida há dois anos”, pontua a produtora. Itens como o fubá e a soja, que compõem a base de alimentação das vacas, ficaram mais caros e impulsionaram os custos. “Muita gente vendeu a vaca de leite no corte, porque estava valendo mais do que o preço dela na produção de leite”, conta Sheila.
O atual período sazonal, marcado pela seca, ainda diminui a oferta de pasto e aumenta os custos da criação de gado leiteiro, uma vez que os produtores precisam substituir o pasto pela alimentação de cocho. Apenas em meados de outubro, as condições climáticas devem se tornar mais propícias para os produtores. “Acredito que não vai ter (baixa nos preços) agora. Isso pode acontecer só a partir do final do ano”, projeta a produtora, que afirma não se lembrar de outro período com tanta escassez de leite desde que iniciou na atividade, há seis anos. “Eu nunca vi faltar tanto leite no mercado como está faltando agora.”
Cotação em dólar
“Os insumos são todos cotados em dólar, por isso estão muito caros. E também está difícil achar mão de obra na roça. A produção de leite é todo dia, não deixa tempo para nada. A mão de obra está escassa”, explica o produtor Thiago Miranda, morador do Distrito de Torreões. “Quem toca o próprio negócio, vai empurrando com a barriga, porque não sabe fazer outra coisa e está no setor porque gosta. Não tem ninguém ganhando dinheiro.”
Já o produtor Leandro Esteves Mostaro, membro da Associação de Produtores do Distrito de Torreões, lembra que o aumento do preço cobrado nos supermercados não reflete em maior lucro para os produtores. “O aumento na ponta, no mercado, é maior do que o que o produtor recebe. A margem de lucro (para o produtor) deve estar ainda menor, porque os insumos subiram muito”, lamenta Mostaro, que também destaca o fator climatológico como obstáculo. “A seca, desta vez, veio mais cedo e está mais severa.”
Prefeitura destaca apoio a produtores
Em contato com a reportagem via assessoria, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) argumentou que “é uma grande parceira dos produtores de leite do município”. Entre as ferramentas de apoio elencadas pelo Executivo, estão a assistência técnica por meio do programa ProLeite, o suporte à Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e o acesso gratuito a serviços de assistência técnica em pecuária leiteira. “O selo de inspeção (SIM) que a Prefeitura concede também ajuda na comercialização, assim como as rodadas de negócio que unem os produtores diretamente a empresários do ramo alimentício”, afirma.
A Tribuna também questionou o Município sobre a interrupção da realização da pesquisa de preços da cesta básica, que foi paralisada em março de 2021. Na ocasião, a Prefeitura havia previsto o retorno do levantamento em junho daquele ano, o que não aconteceu. O Executivo confirmou que não voltou a realizar a pesquisa, mas disse fazer estudos para que ela seja retomada, sem informar uma nova previsão.