Bancos reduzem juros para financiamento

Após instituições privadas diminuírem taxas do crédito imobiliário, Caixa Econômica também realizou cortes; concorrência movimenta setor e incentiva consumidor à realizar o sonho da casa própria


Por Gracielle Nocelli

03/05/2018 às 07h00- Atualizada 03/05/2018 às 10h36


A Caixa Econômica Federal reduziu as taxas de juros para as linhas de crédito imobiliário que utilizam recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). O percentual para os imóveis que se enquadram no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), com valor até R$ 950 mil, passou de 10,25% para 9%. Já aqueles que integram o Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), com valor superior a R$ 950 mil, tiveram queda nos juros de 11,25% para 10%. A medida foi anunciada em abril, após 17 meses desde o último corte feito pelo banco, em novembro de 2016, e chega num momento em que os bancos privados iniciaram uma corrida pela carteira de clientes que desejam financiar a casa própria. Além de facilitar o acesso ao crédito para o consumidor, esta concorrência pode estimular as construtoras a desengavetarem projetos que foram paralisados por conta da crise.

Na avaliação da economista e professora da UFJF, Fernanda Finotti Perobelli, os impactos das reduções de juros são sempre benéficos ao consumidor. “Este tipo de iniciativa diminui o custo para quem compra e, também, incentiva as construtoras a investirem. Desta forma, há o aumento da oferta e queda dos preços dos imóveis.” No caso dos cortes anunciados pela Caixa, a especialista observa que a medida atinge, em especial, a classe média. “É um benefício que, enfim, chega também a este público. As linhas de crédito para imóveis populares já possuem taxas mais baixas, estamos vendo uma expansão deste tipo de iniciativa.”

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Ela destaca, ainda, outros impactos econômicos positivos.

“Quando as empresas investem em novos projetos, há a geração de emprego e renda. Então vemos o retorno desse dinheiro na própria economia. É o que chamamos de círculo virtuoso.”

De acordo com o presidente da Caixa Econômica Federal, Nelson Antônio de Souza, a proposta do banco é estimular o setor imobiliário como um todo. “O objetivo da redução é oferecer as melhores condições para os nossos clientes, além de contribuir para o aquecimento do mercado imobiliário e suas cadeias produtivas.” A direção do Sindicato da Construção Civil de Juiz de Fora (Sinduscon-JF) acredita que a iniciativa pode incentivar as construtoras a realizarem mais projetos. Os profissionais do mercado imobiliário local também analisam de forma positiva a situação, já que com a facilidade do crédito, a tendência é de aumento das vendas das unidades.

No bolso
Segundo cálculos feitos pelo Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), para a aquisição de imóvel novo no valor de R$ 250 mil, com 80% financiado, a queda da taxa de juros de 10,25% para 9% representa, em 20 anos, uma economia de R$ 25,1 mil no bolso do consumidor. “Tendo em vista que o mercado imobiliário, em muitas cidades, já iniciou seu processo de retomada, essa medida potencializa a recuperação do setor”, analisa o economista-chefe do sindicato, Celso Petrucci.

Disputa entre bancos está acirrada

A iniciativa da Caixa Econômica chega com atraso em relação aos concorrentes. Desde que o Comitê de Política Monetária (Copom) realizou 11 cortes consecutivos na taxa Selic, que chegou ao patamar de 6,75% em fevereiro deste ano, o menor em 32 anos, os bancos privados têm diminuído os juros para crédito imobiliário. Até o dia 16 de abril, quando a Caixa anunciou a medida de redução das taxas, a instituição era a única que ainda oferecia percentuais com dois dígitos.

Não por acaso, a Caixa perdeu a liderança no financiamento imobiliário com recursos da poupança, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Esta é a primeira vez que as instituições privadas assumem a dianteira neste tipo de ranking. Bradesco e Santander lideraram o volume de contratações feitas neste primeiro trimestre do ano. A Caixa assumiu a terceira posição, seguida do Itaú. No entanto, somando as operações com o FGTS, a estatal continua à frente do mercado.

O movimento de redução das taxas de juros dos bancos privados foi iniciado pelo Santander em meados do ano passado. Em abril deste ano, o banco realizou novo corte e tem oferecido percentual de 8,99% nas operações do Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Já o Bradesco tem trabalhado com taxas de 8, 5%, e o Itaú de 9%. ” A Caixa é um banco de fomento, mantenedor da maior parte da poupança dos brasileiros, por isso, costuma praticar as tarifas mais baratas. Mas a verdade é que os bancos privados também têm grande interesse na carteira de clientes de crédito imobiliário, pois é um financiamento a longo prazo com uma garantia real de um bem que é prioritário na vida do consumidor”, explica a economista e professora da UFJF, Fernanda Finotti Perobelli.

Setor imobiliário aprova diversificação de opções

A maior facilidade de acesso ao crédito pelo consumidor é vista com otimismo pelo setor imobiliário juiz-forano. Na avaliação dos profissionais, além de incentivar a realização do sonho da casa própria, a iniciativa garante maior oportunidade de escolha aos clientes. “Quem ganha com essa competição e interesse das instituições financeiras é o consumidor, porque há mais opções e condições de compra. Diferente do que tínhamos até bem pouco tempo, quando era bastante limitado ao financiamento da Caixa”, observa o gerente de vendas da imobiliária Souza Gomes, Victor Souza Gomes.

Ele destaca as vantagens para os demais envolvidos.

“É um mercado lucrativo e seguro para os bancos, já que existe o bem como garantia do empréstimo. Estamos em um momento maravilhoso de negociação para quem quer adquirir seu imóvel. Retomamos taxas de juros com patamares que há muito não víamos e com a vantagem de termos, ainda, os gerentes de banco em busca desses clientes, lutando pelas condições de cada um”

Ainda conforme Victor, “o mercado imobiliário aquece, as vendas aumentam e, com isso, cresce também o número de lançamentos em virtude da confiança que vai sendo retomada desde 2017 em todo o país, assim como em Juiz de Fora. Lembrando sempre que a retomada de lançamentos imobiliários e obras é sinônimo de contratações em uma indústria que está entre as que mais empregam em nosso país.”

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Na Universal Imóveis, o gerente de vendas Luciano Esteves relata que já percebeu os efeitos desta diversificação aos clientes. “A Caixa sempre foi referência no que diz respeito ao financiamento habitacional, mas com o aumento na taxa de juros e a burocracia para aprovação dos créditos, fez com que os clientes começassem a procurar outros bancos que, por sua vez, reduziram taxas e desburocratizaram operações. Para se ter ideia, em abril, fizemos oito operações de crédito imobiliário e nenhum deles foi pela Caixa Econômica.” Para ele, a iniciativa do banco de também embarcar na redução de juros pode fazer com que a estatal retome a preferência do consumidor.

Na hora de financiar, não considere apenas os juros

A economista e professora da UFJF, Fernanda Finotti Perobelli, alerta que a redução dos juros pode ser um bom convite à compra de um imóvel. No entanto, na hora de decidir financiar o bem é preciso analisar outras questões. “Morar de aluguel vai ser sempre mais barato do que comprar a casa própria. Por isso, é importante saber qual é a motivação do comprador. Se for a realização de um sonho de moradia, este pode ser um bom momento. Agora os preços estão deprimidos, e há acesso ao crédito”, destaca.”

Ela orienta que, na hora de financiar o imóvel é importante conhecer as opções de financiamento disponíveis. “Nesta corrida que os bancos estão pela carteira de clientes, pode ser possível uma cobertura de oferta que garanta condições ainda melhores.” Ela destaca a necessidade de planejamento financeiro para assumir o compromisso da compra. “O investimento em imóveis representa uma grande imobilização de capital ou o comprometimento, por longo prazo, da renda futura. Por isso, o planejamento é sempre necessário.” O recomendado é que as parcelas do empréstimo não ultrapassem 30% da renda familiar mensal.”

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