Paridade entre etanol e gasolina está abaixo de 70% há quatro semanas
É a primeira vez em que isto ocorre desde fevereiro de 2021; nestes patamares custo-benefício da utilização do álcool é melhor
Desde a última semana de fevereiro, já compensa mais abastecer com etanol em Juiz de Fora. Isso porque, considerando o preço médio dos combustíveis apurado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) nas últimas semanas, o valor do litro do álcool está abaixo de 70% do valor cobrado pelo litro da gasolina comum. No levantamento feito entre os dias 20 e 26 de março, o preço médio do litro da gasolina era de R$ 7,721 e o do etanol, de R$ 5,184, o que corresponde a uma paridade de 69,7% (67,14%). Ainda assim, cabe a dica de que vale verificar o percentual da paridade entre os preços dos combustíveis em cada posto sempre antes de abastecer.
Segundo a Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), a conta para identificar qual combustível tem o melhor preço e custo-benefício no momento do abastecimento é feita com base no consumo médio dos combustíveis. Isso porque, em geral, um veículo abastecido com etanol rende, em média, 30% a menos do que se estivesse rodando com gasolina comum. Portanto, para compensar no bolso do consumidor, o preço do álcool na bomba deve ser inferior a 70% do cobrado pelo litro da gasolina.
Em Juiz de Fora, uma legislação municipal vigente determina que os postos de combustíveis em funcionamento na cidade são obrigados a exibir, por meio de cartazes ou similares, “de forma clara e ostensiva”, informações diárias sobre a diferença percentual entre os preços do litro da gasolina e do etanol. A lei está em vigor desde maio de 2020 e prevê multa de até R$ 1 mil para estabelecimentos que desrespeitarem a exigência.
Aliás, este percentual de paridade observado entre os dias 20 e 26 de março, na casa de 69,7% – uma vez mais considerando o preço médio da pesquisa da ANP -, se mantém desde a última semana de fevereiro, conforme levantamento realizado entre os dias 27 de fevereiro e 5 de março. Na ocasião, o preço médio do litro da gasolina era de R$ 7,137; do etanol, R$ 4,972, paridade de 69,66%. Antes disso, a paridade não era favorável ao etanol desde fevereiro de 2021, quando, o preço médio do etanol em Juiz de Fora esteve ligeiramente abaixo de 70% por apenas duas semanas.
Histórico
Em 447 semanas desde 2013, em apenas 166 delas a paridade entre o preço do etanol e da gasolina esteve abaixo de 70%. Neste recorte, o maior período, em sequência, em que a paridade foi favorável ao etanol foi de 52 semanas, praticamente um ano, e aconteceu entre os dias 22 de abril de 2018 e 14 de abril de 2019.
O segundo período mais longo no recorte, de 33 semanas, aconteceu mais recentemente, entre maio e dezembro de 2019. Antes disso, houve um hiato de 25 semanas entre abril e outubro de 2015. Afora estes três recortes, nunca houve um outro período que chegasse a 20 semanas seguidas em que a paridade de preços entre os dois combustíveis estivesse abaixo dos 70%.
A menor proporção na relação entre o preço médio do etanol e da gasolina comum, de 2013 para cá, aconteceu na semana entre os dias 19 e 25 de agosto de 2018, quando a paridade entre o preço do litro do etanol e da gasolina comum era de 55,1%. Por outro lado, a maior proporção foi registrada na semana entre os dias 18 e 24 de maio de 2014: 80,8%.
Produtores apostam em preço competitivo nos próximos meses
Presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos prevê que o preço do etanol deve seguir competitivo no estado nos próximos meses. Segundo ele, na última sexta-feira, foi dado o pontapé na safra 2022/2023 da cana-de-açúcar na Região Centro-Sul do Brasil, “onde são produzidos mais de 90% da produção brasileira de etanol”. O cenário de momento é favorável, após o período de entressafra, entre novembro e março, mais restrito em termos de oferta de produto.
“O que ocorreu nessa última entressafra foi que o mercado de etanol, em função dos preços não atrativos do produto durante todo o ano de 2021, tinha reduzido bastante. O volume de etanol consumido era muito pequeno e tínhamos estoque mais elevado do que a projeção de consumo para esse período. Então, já tínhamos tendências que possibilitavam uma melhor relação de preço pró etanol, e outras que indicavam o consumo maior do combustível. De fato, desde o final de janeiro e início de fevereiro, começamos a observar, em algumas regiões do Brasil e, dentre elas, Minas Gerais, aumento do consumo mesmo nesse período de entressafra”, avalia Mário.
Recuperação de mercado
A tendência de maior consumo acaba por impactar no valor do litro nas bombas. “Para ter um maior consumo, você precisa ter um preço mais competitivo, o que pode ser potencializado pelas expectativas de boa produção para os próximos meses. Esse ano há uma tendência de safra maior. As chuvas foram adequadas para o período. Nós teremos mais cana-de-açúcar. Com mais cana-de-açúcar, teremos mais produto. Com mais produto ofertado, a tendência é que a gente consiga, nos próximos meses, recuperar participação de mercado, o que perdemos para a gasolina no ano passado. Para isso, é preciso ter preços relativos melhores do etanol hidratado frente à gasolina. É isso que a gente vai continuar vendo em Minas Gerais. Nos próximos meses, o etanol vai estar mais atrativo que a gasolina nas bombas”, explica o presidente da Siamig.
Assim, Mário Campos avalia o cenário como “interessante para o consumidor, pois ele passa a economizar ao abastecer com o etanol”. “Essa relação de 70% é usada para simplificação no mercado. Eu sempre ressalto que cada consumo, cada motorista e proprietário de veículo tem que saber a efetiva relação do seu veículo. Em muitos deles, essa relação é até maior, de 72%, 73%, o que aumenta ainda mais a competitividade do etanol hidratado frente à gasolina. É uma boa notícia também em termos ambientais. O etanol é um biocombustível que, frente à gasolina, pode reduzir até em 90% as emissões de gases de efeito estufa. O grande benefício do etanol, além da economia, é o benefício ambiental”, diz.
Competitividade em Minas, SP, MT e Goiás
(Agência Estado) – No país, na mesma semana analisada, o etanol manteve a competitividade frente à gasolina apenas em quatro estados – Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e São Paulo, conforme levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A paridade ficou em 66,60% em Goiás; 68,31% em Mato Grosso; 68,01% em Minas Gerais; e 68,34% em São Paulo. Na média dos postos pesquisados no país, o etanol está com paridade de 68,68% ante a gasolina.
Preços
Os preços médios do etanol hidratado subiram em 17 estados e no Distrito Federal, mas caíram em outros oito estados. No Amapá, não houve levantamento. Nos postos pesquisados pela ANP em todo o país, o preço médio do etanol subiu 0,28% na semana do dia 20 a 26 em relação à anterior, de R$ 4,938 para R$ 4,952 o litro.
Em São Paulo, principal estado produtor, consumidor e com mais postos avaliados, a cotação média do etanol hidratado ficou em R$ 4,686 o litro, baixa de 0,17% ante a semana anterior.
O preço mínimo registrado para o etanol em um posto foi de R$ 4,099 o litro, em São Paulo, e o menor preço médio estadual, de R$ 4,686, também foi registrado em São Paulo. O preço máximo, de R$ 7,899 o litro, foi verificado em um posto do Rio Grande do Sul. O maior preço médio estadual, de R$ 6,450, foi observado no Amapá.
Na comparação mensal, o preço médio do biocombustível no país subiu 5,38%, a R$ 4,699. O estado com maior alta no período foi Piauí, com 13,81% de valorização mensal do etanol, para R$ 5,860 Na apuração semanal, a maior alta porcentual de preço, de 3,58%, foi observada em Roraima, com o litro a R$ 6,142.