OI não alcança qualidade mínima da telefonia móvel em JF
Os critérios são definidos pela Anatel, responsável pela fiscalização dos parâmetros de qualidade estabelecidos
Dentre as cinco operadoras que prestam serviços de telefonia móvel em Juiz de Fora, a OI não atinge os parâmetros de qualidade definidos pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em Juiz de Fora. A empresa não alcançou o índice aceitável (98%) na conexão de dados, apresentando o percentual de 95,44%. O desempenho, abaixo do esperado, consta do relatório de monitoramento de redes do serviço móvel pessoal (SMP), resultado de fiscalização realizada pela agência reguladora, que usa como referência a performance das empresas em junho deste ano, a mais recente. O índice refere-se ao total de conexões dividido pelo número de tentativas. Conforme o órgão regulador, os dados são coletados 24 horas por dia, todos os dias da semana.
A insatisfação do consumidor por não conseguir utilizar, de forma satisfatória, o serviço contratado é expressa nas queixas contabilizadas no Procon. A OI, recordista de reclamações no órgão de defesa do consumidor de Juiz de Fora, foi alvo de 1.081 reclamações relacionadas a telefonia móvel no período de 1º de janeiro a 31 de outubro deste ano. A maioria (61,4%) refere-se a cobrança indevida, motivo que levou 664 consumidores ao órgão neste período. Problemas para rescindir o contrato ou alteração unilateral somaram outras 123 queixas. Reclamações sobre serviço não fornecido somaram mais 46 reclamações no período. Em relação a igual período de 2017, houve queda de 37% no número de registros relacionados à empresa, que totalizaram 1.719 na época. Só este ano, há 41 processos contra a OI aguardando instauração, incluindo problemas não apenas de telefonia móvel.
Para o superintendente do Procon, Eduardo Schröder, em função do processo de recuperação judicial, a OI vive um momento de “paralisia”. Só o órgão em Juiz de Fora teria mais de R$ 4 milhões em multas a receber, cifra acumulada desde 2007. Schröder afirma que o Procon tem adotado as providências cabíveis, com a aplicação das penalidades previstas, sem, no entanto, alcançar os resultados esperados. Na sua avaliação, o pedido pela suspensão do serviço, na prática, poderia penalizar mais o usuário do que a própria empresa. “A empresa não alcança os índices de satisfação porque falta investimento.” A estimativa é que a cada dez pessoas que chegam ao Procon, duas vão para reclamar contra a OI.
Os problemas, avalia, não estão restritos a esta empresa. Na relação das dez mais reclamadas de setembro, quatro são do setor de telecomunicações. A Telemar Norte e Leste S/A manteve a liderança, com 429 registros de reclamações (22,32%), seguida pela Tim Celular S/A com 83 queixas (4,32%) e a Claro S.A. 81 (4,21%). Em quarto lugar ficou a Telefônica Brasil S/A (Vivo), com 74 reclamações (3,85%). Para o superintendente, os números demonstram que alcançar os percentuais mínimos da Anatel não significam, na prática, qualidade no serviço oferecido ao juiz-forano. Prova disso, avalia, são as inúmeras queixas relacionadas ao serviço na cidade, inclusive de falta de sinal. “Ao olhar para trás, há avanços sim, mas faltam investimento em antenas e em melhoria na qualidade do sinal. Não adianta ter sinal, mas de baixa qualidade.”
Na falta de um diagnóstico preciso sobre a existência das áreas de sombra, vale a percepção do Procon, baseada em queixas da má qualidade de sinal, de problemas frequentes no Centro e nas regiões Norte, Nordeste e Sul, além de comunidades da Zona Rural. Com a aprovação, no final do mês passado, da lei que eleva as localidades de Caeté de Minas, Humaitá de Minas, Monte Verde de Minas, Penido e Valadares a distritos, espera-se que estas comunidades sejam incluídas no Programa Minas Comunica, do Governo estadual, e possam contar, de fato, com o serviço de telefonia móvel.
Na semana passada, a Prefeitura sancionou a lei que eleva os antigos povoados à condição de distritos, mas perdeu o prazo para incluí-los no Programa Minas Comunica II, do Governo estadual, que busca ampliar o sinal de comunicação e internet 3G a distritos mineiros. A expectativa, agora, é que exista uma terceira edição do programa, que possa beneficiar outros cem distritos mineiros, inclusive os novos do município. O projeto de lei foi aprovado pela Câmara no final do mês passado.
Empresa aponta investimento
Em resposta, a OI, por meio de sua assessoria, afirma que investiu mais de R$ 191,2 milhões em Minas Gerais no primeiro semestre deste ano, o que representa crescimento de 9% na comparação com igual período do ano passado. “A companhia tem focado na modernização da rede, ampliando sua capacidade de transmissão de dados para atender ao aumento da demanda dos usuários e elevando a eficiência dos serviços.” O posicionamento é que, no período, a operadora implantou 34 novos sites de telefonia móvel e outros 1.116 sites foram ampliados ou modernizados em Minas, “inclusive em Juiz de Fora, onde a companhia possui instalados hoje 149 sites entre 2G, 3G e 4G”. A companhia afirmou, ainda, que vem obtendo melhorias nos resultados operacionais de forma consistente em toda a sua área de atuação no país. Em Juiz de Fora, afirma, de janeiro a setembro deste ano, a empresa reduziu em 15% o número de reclamações registradas no Procon municipal.
Audiência pública deve voltar a discutir problemas
O presidente da Comissão Especial de Telefonia, vereador Marlon Siqueira (MDB), pretende agendar audiência pública para tratar da qualidade do sinal oferecido aos juiz-foranos. Ele comenta que, há pouco mais de dois meses, solicitou levantamento ao Procon sobre as queixas referentes à telefonia na cidade. O vereador constatou a incidência de problemas relacionados a cláusulas contratuais e serviços contratados mas não disponibilizados. “A telefonia é falha na cidade”, avaliou. Na sua avaliação, a topografia compromete o serviço, mas faltam investimentos por parte das operadoras.
Marlon lembra da união de esforços da Prefeitura e da Câmara no sentido de criar a Lei 13.236/2015, que alterou as normas para instalação e operação das Estações Rádio-Base (ERBs), sem haver, na sua opinião, a devida contrapartida, por parte das empresas, de investimentos em instalação de antenas e melhoria do serviço oferecido à população. Na sua avaliação, apesar de o Município ter sido mais “complacente” na legislação, na prática, não houve o retorno esperado. Com a audiência, a meta é cobrar ações concretas para ampliar a cobertura e melhorar o sinal, não apenas das empresas, mas também do Estado, já que trata-se de uma concessão estadual. “Todo mundo tem celular, e as reclamações têm aumentado.”
Antes da sanção da lei, as empresas alegavam a necessidade de desburocratizar e desonerar o processo de instalação de antenas, para incrementar a prestação de serviço na cidade. Entre as mudanças promovidas, está a simplificação do processo de licenciamento. O procedimento, antes anual, passou a ser feito a cada quatro anos. A exigência de apresentar toda a documentação a cada renovação foi substituída por declaração, por parte da empresa, de que não houve mudança nas informações prestadas anteriormente. O custo também foi revisto. O valor cobrado a título de taxa de operação de estações de telecomunicação, que era de R$ 9.858,17 na época, por ano, caiu para R$ 9.400 a cada quatro anos. Com a isso, a economia, para as operadoras, chegaria, no mínimo, a R$ 30 mil no intervalo avaliado.
Procurada, a Secretaria de Meio Ambiente (SMA) informou que, entre 2015 e 2018, a Prefeitura emitiu 216 licenças de operação, sendo 125 renovações de licenças já existentes. A Lei 13.236, que prometeu desburocratizar a instalação de antenas, foi sancionada em 2015.