Dia do Trabalhador é marcado por incerteza sobre mercado formal
Número de empregos criados poderia ser maior, mas retração econômica segura crescimento dos setores produtivos em Juiz de Fora
Neste domingo (1º) é celebrado o Dia do Trabalhador, data que é historicamente marcada por protestos e reivindicações com o objetivo de reforçar os direitos trabalhistas no país. Em 2022, após dois anos de recessão econômica, em grande parte devido a pandemia da Covid-19, os trabalhadores de Juiz de Fora não vislumbram um cenário otimista. De acordo com especialistas e entidades de classe ouvidas pela Tribuna, a retomada econômica este ano deve ocorrer de forma branda, principalmente devido à pressão inflacionária e a fatores externos, como a guerra entre Rússia e Ucrânia.
No acumulado do ano, até agora, Juiz de Fora apresenta saldo positivo na geração de empregos com carteira assinada. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e apontam que a cidade criou 634 novas oportunidades no mercado formal, entre janeiro e março.
Mas, de acordo com o professor de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Lourival Batista, esse desempenho positivo representa uma recuperação lenta dos postos de trabalho perdidos durante a pandemia. “Essa retomada não se mostra tão vigorosa, está associada ao mínimo necessário que empresários e comerciantes conseguiram fazer na conjuntura na qual nos encontramos. Ainda é difícil falar em uma tendência de crescimento para a cidade, visto que as economias nacional e internacional passam por um momento de grande instabilidade.”
Neste ano, até agora, o setor de serviços foi o que mais cresceu na cidade, com saldo entre demissões e admissões de 1.282 novos empregos gerados. O segmento com o pior desempenho foi o comércio, com estoque negativo, 496 postos de trabalho foram perdidos. Para Lourival, isso ocorre devido a características econômicas da própria cidade, que possui polos educacional e de saúde fortes. “O setor de serviços se vê impulsionado com a retomada das atividades após a pandemia, já o comércio, apesar de estar contratando bastante, ainda não recuperou todos os postos perdidos, visto que foi o setor mais afetado nos últimos dois anos.”
Ano de imprevisibilidade
O presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio, Silas Batista da Silva, afirma que o crescimento observado no início do ano é uma característica sazonal, de aumento das contratações. Na sua opinião, no entanto, ainda é cedo para avaliar se essa tendência se perpetuará. “Nossa preocupação é repor todos os postos que foram perdidos nos últimos dois anos, mas, na conjuntura atual, com PIB baixo, inflação alta e influências externas, nós entendemos que não temos um quadro claro para fazer uma avaliação tão otimista. No momento, o mercado pode até estar equilibrado, mas as incertezas são muito grandes.”
Uma recuperação lenta também é esperada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora. De acordo com o presidente da entidade, João César da Silva, nos primeiros meses do ano foi observado um relativo aumento do número de trabalhadores contratados. “Os números foram positivos, mas não é nada para se comemorar. Mesmo que novos postos de trabalho estejam sendo criados, isso não está sendo revertido em massa salarial. Um trabalhador, que antes da pandemia recebia R$ 3 mil, hoje está sendo contratado para exercer a mesma função por R$ 1.500. Muitas empresas têm justificado essa medida colocando a culpa na pandemia, para diminuir a média salarial dos seus funcionários. Isso tudo colabora para que a crise econômica se agrave, pois há a perda de poder de consumo.”
Na opinião do sindicalista, o dia 1º de maio não deveria ser uma data de celebração, mas um dia de protesto. “O mundo do trabalho precisa reivindicar e lutar muito para melhorar nossas condições e não fazer festa, como se tivéssemos algo muito grande para comemorar. Eu torço muito para que esse ano seja melhor, mas, infelizmente, os indicadores não apontam para uma recuperação tão positiva.”