Sucesso durante a Copa do Mundo, apostas esportivas ainda não têm regulamentação no Brasil

Apostador não tem amparo do Código de Defesa do Consumidor caso não receba valor combinado


Por Mariana Floriano, sob supervisão da editora Fabíola Costa

09/12/2022 às 09h57- Atualizada 09/12/2022 às 11h14

(Foto: Leonardo Costa)

Não é de hoje que as apostas esportivas são sucesso no Brasil. Grandes sites de apostas são, inclusive, patrocinadores de times nacionais e figuram em propagandas na TV e na internet. Este ano, dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, 18 tinham sites de apostas como patrocinador, de acordo com levantamento publicado pelo jornal O Globo.

Uma estimativa apontada pela empresa de consultoria Grand View Research indicou que os brasileiros movimentam, por ano, em torno de R$ 7 bilhões em apostas esportivas. Com a Copa do Mundo, a tendência é que esse valor cresça ainda mais. Afinal, no último mês, a prática está em alta e conquistando novos adeptos. Mas você sabe se, de fato, as apostas esportivas são seguras e legalizadas no Brasil?

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A resposta não é tão simples. Mas, no geral, sim, as apostas esportivas on-line são legalizadas no Brasil e amparadas pela lei 13.756, promulgada no Governo Michel Temer em 2018. No entanto, a lei determina que os fornecedores não tenham pontos de venda físicos no país e operem somente em sites com domínios não registrados no Brasil. Como explica o presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB/JF, João Paulo Silva de Oliveira, isso faz com que o comércio bilionário não arrecade tributos para o país. “Quem acaba ficando com os impostos é o país no qual o site é hospedado, seja ele qual for. Isso representa uma perda enorme de dinheiro e empregos que poderiam ser gerados no Brasil.”

Apesar do amparo legal, as apostas esportivas não são regulamentadas. O prazo máximo para a formalização da atividade estava marcado para 2022, porém, até o momento, não foi cumprido. “Houve, inclusive, uma corrida neste ano para regulamentar antes da Copa do Mundo. Agora, com o crescimento exponencial dos apostadores, o país perde uma grande oportunidade de arrecadação.” Sem a regulamentação, além de perder tributos, a prática não pode ser fiscalizada pelos órgãos competentes e nem o apostador amparado pelo Código Brasileiro de Defesa do Consumidor.

“Em uma situação na qual o apostador lance o seu dinheiro e não receba o valor combinado, ele fica totalmente desamparado pela legislação brasileira. Ele teria que abrir um processo em outro país, de acordo com as leis de lá, e sem garantia de que a casa de apostas tenha patrimônio suficiente para suportar uma condenação.” João Paulo ainda explica que, muitas vezes, o único recurso disponível é o canal de reclamação do próprio site. Nesse sentido, as maiores empresas teriam que garantir a lisura e a transparência como forma de preservar o próprio negócio.

Valor previamente acordado

As apostas esportivas são toleradas perante a lei porque, diferente dos jogos de azar, o valor arrecadado é previamente combinado com a empresa. “Existe uma quota fixa, ou seja, o apostador sabe quanto vai receber se acertar. O prêmio já é pré-definido pelo site de apostas. Por exemplo, se o apostador destinar R$ 500 num resultado, ele sabe que poderá receber R$ 1.500 se acertar o palpite.” Essa lógica não ampara os jogos de azar.

A paixão pelo futebol somada à necessidade de o brasileiro complementar a renda fez do país terreno fértil para as apostas esportivas. O mercado, em crescimento, requer alguns alertas, como explica João Paulo. “É preciso ter cautela e saber que as apostas não são um tipo de investimento, por mais que o apostador possa calcular as probabilidades. Enquanto a prática não for regulamentada, não há proteção pelo Código de Defesa do Consumidor e nem garantias de que as apostas sejam, de fato, seguras. O aconselhado é que a prática seja vista como um lazer agregado ao interesse pelo esporte.”

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