Mostra de Cinema de Tiradentes chega ao fim com a expectativa de um novo futuro para o audiovisual
26ª edição do evento terminou no último sábado, elegendo os melhores filmes eleitos pelos júris jovem, oficial e popular; conheça as produções premiadas
Durante pouco mais de uma semana, de maneira anual, Tiradentes se torna a capital brasileira do cinema. Existe, nesse tempo, uma urgência de viver e conhecer que exala para além das montanhas da cidade histórica: chega a outros lugares do mundo, ainda mais com a possibilidade de transmissão on-line de parte da programação. Neste 2023, especialmente, os mais de 700 convidados, além dos entusiastas do cinema que passaram por lá, vibravam pela volta do evento de maneira presencial: o que ficou visível nos abraços demorados e nas confraternizações que varavam a noite. Isso tudo sem deixar de lado o motivo desse grande encontro: o audiovisual, seus caminhos e suas novas perspectivas.
Os 134 filmes que foram exibidos, de todo o Brasil, apresentaram um panorama completo da contemporaneidade, com seus modos de fazer diversos, respaldados, quase sempre, no cinema mutirão: a palavra-chave desta edição. Foi uma ode ao cinema brasileiro, à coletividade e ao novo caminho que se instaura com o retorno do Ministério da Cultura (Minc). Cada parte do que é fazer cinema e viver disso ficou demarcada no Fórum de Tiradentes, que resultou em uma carta com diretrizes e possibilidades a ser encaminhada ao Minc ainda em fevereiro. “Tudo o que fazemos brota da alma”, declarou Raquel Hallak na cerimônia de abertura da mostra, no dia 20.
Passaram por Tiradentes, do dia 20 ao dia 28, importantes nomes da arte brasileira como um todo. Ney Matogrosso apareceu ao lado de Helena Ignez no filme “A alegria é a prova dos novo”, o novo longa da atriz que retorna uma história dos anos 1960 de maneira política e feminista. Severino Dadá, um dos grandes montadores do Cinema Novo, se viu como personagem de um documentário, o “O cangaceiro da moviola”, de Luís Rocha Melo. Jesuíta Barbosa encenou um dos filmes mais poéticos e sensíveis da edição, o “A filha do palhaço”, de Pedro Diógenes. Gabriel Martins, o diretor de “Marte um”, mostrou-se um baterista aclamado quando subiu ao palco com sua banda, Diplomattas. Isso entre um tanto de gente que participou da mostra pela primeira vez e pode ver seu filme em uma sala grande, também pela primeira vez.
Filmes premiados
Para coroar o cinema, no sábado (28), aconteceu a premiação dos filmes que participaram das mostras competitivas. “As linhas da minha mão”, de João Dumans, que codirigiu o filme “Arábia”, foi o grande vencedor da Mostra Aurora, que se dedica a selecionar filmes de realizadores com até três longas na carreira, com trabalhos estéticos e narrativos representativos. Essa mostra contou, no total, com sete filmes. “As linhas da minha mão” é um documentário experimental, e a justificativa do júri oficial foi: “(é) um cinema que convida a desenquadrar o sujeito para além de uma categoria, de conceito ou signos fechados. O quadro se torna a abertura de uma pessoa que a todo momento desafia a noção de bordas, expande limites e se prova uma fabuladora maior que a vida”. Foi o segundo ano consecutivo que um filme realizado em Minas Gerais foi premiado na categoria.
O júri jovem deu o Troféu Carlos Reichenbach a “O canto das amapolas”, de Paula Gaitán, que fez parte da Mostra Olhos Livres. “(O filme) nasceu de uma necessidade bruta de se entregar ao mistério das imagens – não apenas uma fresta: abre todas as janelas que por tanto tempo sua mãe pedia para fechar”, defendeu os estudantes que foram esse júri na justificativa.
Helena Ignez é, também, o nome de um prêmio que destaca mulheres em qualquer função nos filmes das mostras Aurora e Foco. Nesta edição, Edna Maria, protagonista do filme “Cervejas no escuro”, de Tiago A. Neves, foi a escolhida. Júri oficial alegou: “espontaneidade como a marca de interpretação com precisão cinematográfica. Mais do que possibilitar o filme, a presença radiante de uma atriz muda uma comunidade”.
Na Mostra Foco, de curtas-metragens, o júri oficial elegeu o filme “Remendo”, de Roger Hill. O curta também teve sua estreia internacional, concomitante ao festival de Tiradentes, quando parte da equipe marcou presença no 52º Festival Internacional de Cinema de Rotterdam, na Holanda. Os jurados afirmaram: “esse filme desenrola-se de um modo criativo, em diálogo estreito com a forma como nos relacionamos e nos construímos enquanto povo e coletividade. Desenho de som inventivo, direção de arte apurada, diálogos inteligentes e estrutura bem arquitetada fornecem o alicerce para um senso de humor sem fronteiras que brinca com clichês e expressa uma arqueologia de mídias audiovisuais”. Esse mesmo curta ganhou o Prêmio Canal Brasil de Curtas.
Os espectadores do festival também votam em algumas categorias. O júri popular escolheu como vencedor dos longas “A filha do palhaço”, de Pedro Diógenes, e, nos curtas, “Nossa mãe era atriz”, dos mineiros André Novais Oliveira e Renato Novais de Oliveira
Um júri especial é formado para analisar os filmes da Conexão Brasil CineMundi, que premia longas em processo de corte, ainda não finalizados. “O estranho”, de Flora Dias e Juruna Mallon, venceu o Prêmio O2 Play. O prêmio foi entregue, de acordo com os jurados, “pela narrativa que apresenta uma personagem com um olhar fora do comum – alguém que ocupa constantemente o espaço da história – atrelada a uma fotografia de olhar simples mas que incita a reflexão do espectador”.
“As muitas mortes de Antônio Parreiras” (RJ), com direção de Lucas Parente, levou o Prêmio DOT The End. Oferecido pelo Festival de Málaga na Conexão Brasil CineMundi, a categoria WIP Exibição foi para “Idade da Pedra” (SP), de Renan Rovida.
Confira os vencedores em cada categoria:
Melhor curta-metragem pelo Júri Oficial, Mostra Foco: “Remendo” (ES), direção de Roger Hill
Prêmio Canal Brasil de Curtas: “Remendo” (ES), direção de Roger Hill
Prêmio Helena Ignez para destaque feminino: Edna Maria, atriz, “Cervejas no escuro” (PB)
Melhor longa-metragem pelo Júri Jovem, da Mostra Olhos Livres, Prêmio Carlos Reichenbach: “O canto das amapolas” (RJ), de Paula Gaitán.
Melhor longa-metragem da Mostra Aurora, pelo Júri Oficial: “As linhas da minha mão” (MG), de João Dumans.
Melhor longa-metragem pelo Júri Popular: “A filha do palhaço” (CE), de Pedro Diógenes
Melhor curta-metragem pelo Júri Popular: “Nossa mãe era atriz” (MG), de André Novais Oliveira e Renato Novais Oliveira
Prêmio O2 Play: “O estranho” (SP), de Flora Dias e Juruna Mallon.
Prêmio DOT The End: “As muitas mortes de Antônio Parreiras” (RJ), de Lucas Parente
Prêmio Festival de Málaga: “Idade da pedra” (SP), de Renan Rovida.