Relação pessoal e afetiva com a cidade’


Por Júlia Pessôa Enviada especial *

30/01/2017 às 18h41- Atualizada 31/01/2017 às 09h04

Foto: Divulgação

Como a vida é muito cheia das metáforas, Marília estava em Portugal e eu, em Minas. Duas mulheres, duas cidades, duas extremidades. Exatamente como acontece no filme “A cidade onde envelheço”, longa da diretora que encerrou a Mostra de Cinema Tiradentes no último sábado (28).

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No filme, que levou o grande prêmio do Festival de Brasília em 2016, as portuguesas Teresa e Francisca se reencontram quando a primeira decide vir morar no Brasil e é abrigada pela conterrânea e amiga. Do reencontro das duas, várias dicotomias permeiam a narrativa: a hospitalidade de Francisca e um certo pesar por perder sua independência, a impaciência e o encantamento com a anfitriã, a personalidade descontraída e espontânea de Teresa, o acolhimento reconfortante de Belo Horizonte e a nostalgia pelas terras do fado de ambas. Dualidades, rupturas, continuidades e diálogos que desembocam em uma forte ligação entre as duas mulheres, ilustrada por acontecimentos deliciosamente corriqueiros, sempre espelhados nas relações tão inusitadas quanto possíveis traçadas entre Lisboa e BH.

Na ficha técnica, a parceria que o roteiro aborda se repete, o filme foi uma coprodução Brasil-Portugal. Em entrevista por e-mail, a diretora Marília Rocha falou sobre cinema, sua cidade, a cidade estrangeira e sobre relações humanas.

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Tribuna Em “A cidade onde envelheço” , há um paralelo constante entre BH e Lisboa. O que a relação entre estes dois lugares traduz em relação à trajetória das personagens?
Marília Rocha – Apesar da enorme diferença entre Belo Horizonte e Lisboa, as duas cidades parecem conectadas por um impulso comum que inquieta as personagens, uma espécie de espírito de navegação, cujo dilema é ficar ou partir. É essa questão que dá vida e movimenta o filme.

A maior parte dos filmes que trata do cenário urbano brasileiro tem como cenário o Rio ou São Paulo. Por que gravar em BH?
Porque é o lugar onde eu vivo, porque eu nunca tinha filmado minha própria cidade antes. É uma cidade muito pouco filmada, e, por não ter atrativos turísticos, é mais comum, mas também mais particular, uma cidade que precisa de tempo para se conhecer e gostar. Além disso, há um aspecto muito sutil, e fundamental para o filme, que é a sensação de acolhimento que Belo Horizonte oferece a quem chega. Mais do que o aspecto geográfico, é essa relação pessoal e afetiva com a cidade que me interessava.

A coprodução com Portugal também influenciou na construção da narrativa do filme? De que forma?
A coprodução possibilitou uma troca artística muito boa para o filme. Parte fundamental da equipe e as protagonistas são portuguesas. Foi por esse trabalho conjunto que conheci a Elizabete Francisca, que fez a personagem da Teresa. Além disso, o filme foi montado em Lisboa, e foi nesse processo que a narrativa final foi construída.

O filme é, em boa parte, centrado em diálogos e interações entre as duas personagens. Como estas ações ilustram questões maiores do filme e quais seriam estas, na sua opinião?
Numa carta do escritor Paulo Mendes Campos que a Teresa lê no filme, há um trecho que diz: “como se torna difícil de explicar as coisas quando a liberdade instala em nós seu reino de incertezas”. Esta é uma das questões do filme, duas moças à deriva, sem rumo certo na vida, impelidas a se lançar no mundo, à procura de suas próprias aventuras e de um lugar para si.

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*A repórter viajou a convite da Universo Produção, que realiza a Mostra de Cinema de Tiradentes

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