Bandas de Goiás, Amazonas, Santa Catarina e Bahia tocam em JF

Projeto do Sesc reverencia a tradição de grupos de Norte a Sul do país


Por Tribuna

29/08/2017 às 16h14

Conjunto do Amazonas, Abandinha é inspirada na Bandinha de Altamiro Carrilho. (Foto: divulgação)

Em 1876, o Brasil era comandado por Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Ainda num regime monarquista, o governante já muito doente assumia papel figurativo, enquanto Cotegipe ditava os caminhos de um Estado que assistia atento o poderio das fazendas de café e estava às vias de decretar o fim da escravidão. Naquele ano, quando o Império mostrava sinais de sua ruína, Santa Catarina era uma província, e seu presidente era Alfredo Maria Adriano d’Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay. No litoral do estado, na região metropolitana de Florianópolis, na pequena São José, três bandas se fundiam para dar vida, em 22 de novembro do distante 1876, à Sociedade Musical União Josefense. Vigorosa aos 140 anos, o conjunto ostenta 28 integrantes, grande parte deles jovens, executando repertório entre o popular e o erudito, valorizando o que fez da formação uma das mais longevas do país: a tradição.

Tema do projeto do Sesc “Sonora Brasil” – que traz a banda catarinense a Juiz de Fora nesta quarta, 30, às 19h -, os conjuntos musicais tradicionais do país estão espalhados por todos os cantos, como percebeu a seleção do projeto, que reúne, ainda, as bandas Corporação Musical Cemadipe (de Goiás, que se apresenta nesta terça, 29), Abandinha (do Amazonas, com show nesta quinta, 31) e o Quinteto de Metais da UFBA (da Bahia, que encerra as apresentações nesta sexta, 1/9).

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“A banda chega ao Brasil com os primeiros padres catequistas dos indígenas. Torna-se parte funcional dos primeiros grupos militares instalados e daí origina um gosto musical que acompanha o povoamento do território. A banda inicial dos catequistas adotava instrumentos indígenas como flautas, maracás e tambores, assim como teria tomado de empréstimo melodias da terra para acrescentar-lhes letras cristãs”, aponta o doutor em música pela Universidade Federal da Bahia Fred Dantas, no catálogo do “Sonora Brasil”.

Direto da Bahia, Quinteto de Metais da UFBA tem sua raiz na academia. (Foto: divulgação)

De acordo com o estudioso, os diversos modelos de bandas de música cresceram e renovaram seus repertórios ao redor do mundo nos últimos anos. “No Brasil, embora iniciativas sociais utilizem as bandas de tambores para reunir crianças e jovens e os projetos ligados à inserção social por meio da música clássica europeia tenham ganhado fôlego, a banda de música, em suas variantes, ainda é o principal meio de iniciação da criança e do jovem à vida musical”, reforça Dantas, fundador da baiana Filarmônica Oficina de Frevos e Dobrados.

Associação sem fins lucrativos, a União Josefense também investe na formação, oferecendo aulas gratuitas de instrumentos de sopro e percussão a jovens maiores de 12 anos. Com um repertório que privilegia os dobrados (marcha militar em ritmo rápido) e as marchas religiosas, a banda inicia sua apresentação executando “Saudade da minha terra”, de Isidoro de Castro, e conclui tocando a composição de “Pelotão cívico 14 BC”, do jovem integrante Jean Gonçalves, mostrando o caráter formador e renovador do conjunto.

Nas ruas e na academia

De Santa Catarina, Sociedade Musical União Josefense se apresenta mostrando sonoridade formada em mais de um século de história. (Foto: divulgação)

Compositor e flautista, considerado um dos principais nomes do choro no Brasil, Altamiro Carrilho teve, entre os anos 1950 e 1960, uma pequena banda, de formação compacta, que não chegou a se tornar um fenômeno pelo país, mas gozou de grande prestígio no Rio de Janeiro, onde acabou ofuscada pelo crescente sucesso dos desfiles das escolas de samba e das marchinhas carnavalescas. Inspirados no conjunto de Carrilho, o banjoísta Rosivaldo Cordeiro e o flautista Cláudio Abrantes montaram Abandinha, em 2015. O grupo executa, nesta quinta em Juiz de Fora, antigos ranchos carnavalescos, como “Mutamba”, de José Agostinho da Fonseca.

Criado numa universidade pública, o baiano Quinteto de Metais da UFBA resgata conjuntos de câmara, cuja origem remete aos pequenos grupos musicais que tocavam nos castelos medievais europeus para os nobres, com dois trompetes, uma trompa, um trombone e uma tuba. Executando composições fortemente influenciadas por bandas tradicionais, os professores da Universidade Federal da Bahia Heinz Schwebel (trompete), Joatan Nascimento (trompete), Lélio Alves (trombone), Celso Benedito (trompa) e Renato Pinto (tuba) demonstram a reverência da academia ao universo popular.

Corporação Musical Cemadipe, nesta terça, 29, às 19h. Sociedade Musical União Josefense, nesta quarta, 30, às 19h. Abandinha, nesta quinta, 31, às 19h. Quinteto de Metais da UFBA, nesta sexta, 1º, às 19h. No Teatro Clara Nunes, no Sesc Juiz de Fora (Av. Barão do Rio Branco 3.090 – Centro)

 

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