Concerto de flauta e ópera de Monteverdi marcam encerramento de festival

Apresentações acontecem no sábado e no domingo, no Cine-Theatro Central


Por Júlio Black

29/07/2017 às 04h00

Mezzo-soprano Nerea Berraondo foi convidada para participar do espetáculo em homenagem ao compositor italiano Monteverdi

 

O Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga encerra sua 28ª edição neste final de semana com duas atrações bem diferentes entre si, ambas no Cine-Theatro Central. Neste sábado (29), às 20h, o flautista David Castelo se apresenta, tendo como convidado o cravista Robson Bessa; no domingo (30), no mesmo horário, uma série de artistas nacionais e internacionais mostram a ópera “Il Ballo delle Ingrate”, do italiano Claudio Monteverdi.

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No sábado, David Castelo traz um repertório diferente do apresentado em 2015 no mesmo festival. Desta vez, ele interpreta peças de Georg Philipp Telemann em homenagem aos 250 anos da morte do compositor alemão. O programa é completado por versões de composições de Domenico Scarlatti e Carl Philipp Emanuel Bach.

“Telemann foi uma figura muito importante no final do período barroco e um dos principais responsáveis pela transição estética entre o barroco e o classicismo. É representativo de um estilo que chamamos de galante e foi muito prolífero, tendo uma expressiva produção para flauta doce. Era muito técnico e expressivo, compositor que faz parte da formação do flautista doce profissional”, contextualiza. “Já o Carl Philipp Emanuel Bach era um dos cinco filhos compositores de Johann Sebastian Bach e também um dos principais compositores do estilo galante, e era afilhado do Telemann. O Scarlatti também foi um nome representativo desse período.”

 

Flautista David Castelo se apresenta neste sábado com repertório que homenageia o alemão Georg Philipp Telemann

 

A apresentação deste sábado serve ainda para colocar Castelo e o cravista Robson Bessa no mesmo palco. De acordo com David, os dois nunca tiveram a oportunidade de trabalhar juntos por diversos motivos, apesar de se conhecerem há anos. Ao saber que o amigo também se apresentaria no festival, aproveitou para fazer o convite. “Essa formação de flauta doce e cravo é característica do barroco, mas quando soubemos que o concerto seria no Central, ficamos receosos porque ele é um espaço grande e procuramos tocar da forma mais fiel possível à que era feita na época. Mas ensaiamos lá esta semana, e essa impressão se desfez. A acústica do teatro é muito boa.”

David Castelo falou ainda sobre a experiência com as oficinas e da sua importância para difundir a música antiga entre professores, alunos e músicos. “Estar em oficinas ou salas de aula me dá muito prazer. Nos festivais em geral, e aqui especificamente, há muita gente com gana de aprimorar o conhecimento a respeito do repertório barroco, e isso resulta numa troca muito interessante. E também temos flautistas iniciantes ou dedicados à educação musical, que é algo muito rico de ser trabalhado. E temos ainda os professores que vão replicar esse aprendizado imediatamente. Por isso, muitas vezes são utilizadas músicas antigas nesse aprendizado, como a renascentista. A gente sabe que isso vai fazer parte do outro lado, que é a formação fundamental, do cidadão.”

Atração marcada pelo ineditismo

A ópera “Il Ballo delle Ingrate”, de Claudio Monteverdi, encerra o festiva, homenageando os 450 anos de nascimento do compositor italiano. Segundo a diretora artística do espetáculo, a soprano Rosana Orsini, que também participa como uma das solistas, o convite foi feito pelo diretor artístico do festival, Marcos Medeiros. A preparação começou em maio, lidando com questões como figurino, cenário, adereços e outras questões técnicas.
“Escolhemos ‘Il Ballo delle Ingrate’ por ser uma produção viável de ser executada com apenas uma semana de ensaios, além de não precisar de um elenco e orquestra muito grandes. Mas é uma ópera lindíssima, uma pequena joia, com argumento cênico muito interessante e que é atrativa para o público.”

 

Rosana Orsini é a responsável pela produção artística da ópera que encerra o festival, além de ser uma das solistas

 

Ainda que seja uma apresentação de tempo curtíssimo de ensaios, iniciados na segunda-feira, Rosana diz ter convidado uma equipe de primeiro nível para a ópera. “Temos a (mezzo-soprano) Nerea Berraondo, que é jovem mas com um conhecimento incrível sobre Monteverdi; o violinista espanhol Roberto Santamarina é o diretor musical, tem muito conhecimento sobre música antiga pode orientar os músicos da cidade; o maestro Marco Brescia e o diretor de cena Henrique Passini. Tenho três ‘Guardiolas’ nesse espetáculo, o Brescia, o Passini e o Santamarina, e ainda uma ‘Cristiano Ronaldo’ com a Nerea. Com esses, eu ganho qualquer campeonato (risos). E toda a equipe cenográfica tem conhecimento profundo sobre a técnica utilizada na época do Monteverdi, que não se usa mais.”

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Violinista espanhol Roberto Santamarina orienta os músicos locais e é o diretor musical da ópera

 

Além deles, Rosana destaca a participação do alunos do festival, que farão parte do coro. “Fizemos questão de incluí-los na produção, é importante que eles tenham esse contato com a ópera, os cenários, figurinos, coreografia.”

Rosana Orsini tem uma ligação especial com a música antiga do século XVII em geral e com o trabalho de Claudio Monteverdi em particular, a ponto de se tornar uma apaixonada pelo estilo musical desse período. “Comecei estudando canto, como todo mundo, com o repertório romântico do século XIX. Daí fui voltando, passando pelos séculos XVIII e XVII. Então fui para Nápoles (Itália) para fazer mestrado em música antiga e procurei o professor Antonio Florio, um dos maiores maestros de música antiga italiana. Ele praticamente trabalhou apenas com o Monteverdi e seus contemporâneos. E quanto mais você estuda mais quer se aprofundar. As óperas desse período eram muito mais abertas que as do século XIX, cada intérprete tem uma visão única para elas, com diferenças que podem ser gritantes. A parte de criação é muito livre”, destaca.

 

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