Quadrinhos para amar, compartilhar e usar na sala de aula
Fã desde a infância da ‘Turma da Mônica’, professora usa as HQs de Mauricio de Sousa para ensinar os alunos e divide amor pelos personagens com a filha
Quando estreou, na última quinta-feira (27), o filme “Turma da Mônica: Laços” concretizou – mesmo que com atraso – o sonho de gerações: poder acompanhar com atores reais, de carne e osso, as aventuras da Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali. Personagens que nos ajudaram a aprender a ler, com quem crescemos e nos divertimos e inspiraram incontáveis brincadeiras. Tudo graças a Mauricio de Sousa, que em 1959 começou sua carreira com as tirinhas do Franjinha e Bidu, passando depois para toda a turma do bairro Limoeiro, mais Horácio, Jeremias, Astronauta, Louco, Chico Bento, Piteco.
A influência da “Turma da Mônica”, por isso, vai além da influência na cultura pop, da longevidade das revistinhas e dos números de vendas e produtos licenciados. Há quem não deixe para trás as boas lembranças da infância e por isso mesmo compartilha essa magia com as novas gerações, e mais: mesmo na idade adulta, no ofício do dia a dia, usa as aventuras da “Turma da Mônica” para ensinar a ler, escrever, tomar gosto pela leitura, dar asas à imaginação.
Mara Isabel Neves de Almeida, professora do ensino fundamental da Escola Municipal Jesus de Oliveira, no Bairro Ipiranga, é uma dessas pessoas. Ela possui uma gibiteca apenas com os personagens em casa e também na sala de aula, em que trabalha estrutura do texto, narrativa, pontuação; dentre as atividades, está a transcrição das histórias em quadrinhos para o formato tradicional de texto, uma forma de estimulá-los a trabalhar o texto direto. A sua monografia no curso de pedagogia tinha como tema a construção do discurso direto por alfabetizandos utilizando histórias em quadrinhos – obviamente, a “Turma da Mônica”.
“Cheguei a alfabetizar turmas usando prioritariamente histórias da Turma da Mônica, pois chamam muita atenção dos alunos”, conta a professora Mara, que também trabalha com crianças com necessidades especiais de aprendizado. Foi graças a um dos personagens de Mauricio de Sousa, inclusive, que ela conseguiu uma das suas principais conquistas como educadora.
“Eu tive, anos atrás, um aluno com Síndrome de Asperger. Sua mãe me questionou se ele um dia aprenderia a ler, e fiquei muito angustiada com aquilo, pois ele já tinha 8 anos, e precisava saber do que ele gostava. Descobri que ele era fã do Cebolinha, então adquiri vários gibis do personagem e dei para ele, despertando seu interesse. No início, o irmão adolescente lia para ele, mas o autista tem essa questão da repetição, então chegou num ponto em que o irmão ficou cansado de repetir as mesmas histórias. O aluno se esforçou e começou a ler por conta própria. São muitas vivências interessantes que tenho por conta da Turma da Mônica.”
De mãe para filha
O encanto de Mara pela Mônica e sua turma, assim como aconteceu e segue acontecendo com tantos, teve início na infância, mas exclusivamente com os gibis da turminha. Nada de personagens da Disney, ou da galera da Luluzinha, HQs de super-heróis. O motivo, explica, eram as histórias curtas e engraçadas. “Por isso uso na escola, pois as histórias são mais dinâmicas, coloridas; as letras são mais fáceis de ler, há poucos balões”, explica.
Mas ela lembra que era difícil de conseguir as revistas, que geralmente ganhava de presente. Bonecos, então, nem pensar, pois não eram acessíveis. Desde que cresceu, porém, e passou a ter acesso mais fácil aos gibis e bonecos, a proximidade só aumentou. Atualmente, ela é assinante das revistas publicadas pela Panini, mas mantém poucas em casa e na escola; a maioria ela doa para os alunos e para o Projeto Curumim. Mesmo assim, não faltam DVDs e edições especiais, que ela guarda: são dezenas de livros com as adaptações de contos infantis clássicos e também de filmes, e uma Bíblia católica estrelada pelos personagens.
Outros itens têm a ver com a filha Fernanda, de 9 anos, que seguiu os passos da mãe e também é fã da Turma da Mônica – inclusive, ela já teve uma festa de aniversário cujo tema eram os personagens dos quadrinhos. “Comprei um livro da ‘Turma da Mônica’ em inglês quando ela começou a fazer um cursinho, e mais recentemente um livro personalizado com o nome dela, que encomendei pelo site, que coloca a Fernanda dentro da história, desenhada como uma personagem da turma.”
Agora, o filme
Com a chegada de “Turma da Mônica: Laços” ao cinema, Mara conta que a ansiedade está a mil, e que ela e a filha Fernanda irão assistir ao longa na segunda-feira (1º) com a sobrinha Maria Eduarda, de 3 anos, que terá sua primeira experiência na sala escura. Ela também está seguindo os passos da tia e prima: alguns dos bonecos e pelúcias de Mara estão com ela, que também teve uma festa de aniversário com Mônica e cia.
“Ficamos sabendo no cinema, no início do ano, assistindo ao trailer antes de outro filme. Saímos de lá empolgadas e achando que estava longe, afinal o lançamento seria apenas em 27 de junho. Procuramos saber mais sobre a produção e assistimos ao trailer várias vezes na internet”, diz, acrescentando que vai fazer a coleção de figurinhas do filme e já está à procura do álbum nas bancas.
Para terminar, não poderia faltar perguntar qual a personagem preferida da professora. A resposta poderia até ser a esperada, mas os motivos mostram que os personagens de Mauricio de Sousa têm muito a ensinar a jovens e adultos. “A Mônica é a minha personagem favorita, pois acho que ela é empoderada há muito tempo, independente; mesmo quando não se falava nisso ela resolvia tudo por conta própria, sem depender de ninguém.”