Filmes do Oscar estreiam nas salas de Juiz de Fora

‘Infiltrado na Klan’, ‘A Favorita’, ‘A esposa’ e ‘No portal da eternidade’ entram em cartaz nesta quinta-feira (28)


Por Júlio Black

28/02/2019 às 07h00- Atualizada 28/02/2019 às 07h23

Adam Driver e John David Washington interpretam os protagonistas de ‘Infiltrado na Klan’, que levou o Oscar de roteiro adaptado (Foto: Divulgação)

Dos oito longas indicados ao prêmio de melhor filme no Oscar, cinco deles (“Nasce uma estrela”, “Pantera Negra”, “Bohemian Rhapsody”, “Vice” e o vencedor, “Green Book: O guia”) já haviam estreado em Juiz de Fora; outro, “Roma”, é produção disponível há meses na Netflix. Os dois que faltavam, “Infiltrado na Klan” e “A Favorita”, tiveram exibições especiais na última semana, mas a partir desta quinta-feira (28) têm suas estreias oficiais no circuito local junto com “A esposa”, que concorreu – e perdeu – ao prêmio de melhor atriz com Glenn Close, e “No portal da eternidade”, em que Willem Dafoe concorreu ao prêmio de melhor ator por sua interpretação de Vincent Van Gogh.

Mesmo com horários restritos, é uma oportunidade para os cinéfilos involuntariamente retardatários analisarem se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood acertou ou não ao consagrar o longa de Peter Farrelly, que bateu nomes como Spike Lee, Adam McKay, Yórgos Lánthimos e Alfonso Cuarón, que levou as estatuetas de direção, fotografia e filme estrangeiro por “Roma”.

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Absurdo, porém real

Um dos melhores filmes de Spike Lee, comparável à sua obra-prima “Faça a coisa certa”, deu ao cineasta apenas o Oscar de roteiro adaptado, o primeiro oficial de sua carreira (ele ganhou um prêmio honorário em 2006). Teria sido muito mais justo, pois Spike Lee conseguiu pegar uma história absurda (porém real) ocorrida na década de 70 e traçar paralelos com a América governada por Donald Trump, em que racistas, supremacistas brancos e neo-nazistas voltaram a ter voz – e condescendência presidencial – após os anos de Barack Obama.

Inspirado no livro escrito pelo protagonista de “BlacKKKlansman” (título original), o filme mostra como o primeiro policial negro de uma cidade majoritariamente branca do Colorado, Ron Stallworth (interpretado por John David Washington, filho de Denzel Washington), conseguiu se infiltrar na organização racista Ku Klux Klan apesar da cor de sua pele. Ele mantém contato por telefone com os integrantes da Klan, mas por ser negro é preciso que um policial judeu, Philip “Flip” Zimmerman (criado para o filme e interpretado por Adam Driver), faça os contatos cara a cara, a fim de conseguir provas que possam justificar a prisão do grupo.

Cheio de referências a temas atuais, como as fake news e a “necessidade” de “fazer a América branca grande novamente”, “Infiltrado na Klan” se aproveita do visual Blackspoitation para criar um grande filme, que mostra como o racismo é odioso, absurdo e abominável, e que se torna ainda mais abjeto quando mostrado de forma caricata por meio de figuras cheias de ressentimentos, rancores e ódio despropositado, ao mesmo tempo em que são um poço de ignorância – tal como aqueles que, hoje, compartilham qualquer mentira deslavada repassada por meio de redes sociais como o WhatsApp.
Para coroar o filme, Spike Lee ainda usa ao final de “Infiltrado na Klan” imagens de eventos reais acontecidos nos últimos dois anos, e aí é impossível não ficar com aquele nó na garganta e olhos marejados, pois é de desanimar perceber que, depois de tudo, podemos continuar tão desprovidos de humanidade como há décadas e séculos atrás.

Infiltrado na Klan
UCI 3 (leg): 22h30 (exceto qua).
Classificação: 14 anos

Rachel Weisz (à esquerda) foi indicada a melhor atriz coadjuvante, enquanto Olivia Colman ganhou como melhor atriz pela sua atuação em ‘A favorita’ (Foto: Divulgação)

As intrigas e pegações da corte

Depois de se destacar com “O lagosta”, de 2015, e “O sacrifício do Cervo Sagrado” (2017), Yórgos Lánthimos fez um espetáculo visual e de diálogos afiados em “A favorita”, que mostra os bastidores de intriga, traição, sedução e sofrimento, ora pois, na corte da Rainha Anne, que governou a Inglaterra e Irlanda entre 1702 e 1714, sendo a responsável, ainda, pela unificação com a Escócia, o que fez dela a primeira rainha da Grã-Bretanha.

Porém, não são os feitos de Anne (que deu o Oscar de melhor atriz para Olivia Colman) que interessam ao cineasta grego. Ele se concentra nas tramas palacianas, com conservadores (tories) e liberais (whighs) em busca da preferência da rainha, mas principalmente no triângulo formado com sua amiga e confidente de longa data, Lady Sarah (Rachel Weisz), e Abigail (Emma Stone), com a segunda tentando tomar o posto de Favorita daquela que era sua prima e lhe deu emprego no palácio real.

Ser a Favorita era um dos postos mais importantes na realeza inglesa da época, pois a proximidade com a rainha era fundamental para influenciar em decisões importantes ou privilegiar determinadas correntes políticas, além de benefícios como ganhar vultosas quantias de dinheiro e até mesmo propriedades. E no longa de Lánthimos isso se mostra ainda mais importante porque Anne, em agonia por conta de doenças como a gota e tendo perdido todos os 17 filhos que gerou, se mostra triste, carente, necessitando de apoio, carinho e desejosa de apenas gozar as benesses da monarquia. Daí, quem estivesse ao seu lado poderia manipular com mais facilidade uma pessoa com tantos momentos de fragilidade.

Yórgos Lánthimos aproveita esse cenário para criar uma história repleta de intrigas palacianas, reviravoltas, um triângulo amoroso entre as protagonistas e, ainda, satirizar a realeza da época, em especial os políticos que cercavam a rainha – o que fica mais evidente no visual exagerado do personagem de Nicholas Hoult. Os diálogos – muitas vezes mordazes, e com a agilidade dos dias atuais – mais a fotografia peculiar (e com luz natural) fazem da “A favorita” um desses filmes imperdíveis.

A Favorita
UCI 5 (leg): 14h15.
Classificação: 14 anos

 

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Protagonista de ‘A esposa’, Glenn Close concorreu ao Oscar de melhor atriz (Foto: Divulgação)

A mulher ressentida e o gênio angustiado

Uma das grandes surpresas do Oscar foi Glenn Close perder para Olivia Colman o prêmio de melhor atriz. Afinal, de acordo com a crítica, foi sua atuação que impediu que “A esposa”, baseado no livro de Meg Wolitzer, se tornasse um filme esquecível, tanto que o longa de Björn Runge teve na categoria sua única indicação aos prêmios da Academia.
Glenn Close interpreta Joan Castleman, escritora que, ao invés de assinar suas obras, permite que o marido, Joe Castleman (Jonathan Pryce), assuma a autoria de seus trabalhos. Porém, quando ele é agraciado com o Nobel de Literatura, o ressentimento faz com que Joan passe a repensar o relacionamento do casal e sua posição dentro dele, com a história se valendo de flashbacks para tentar explicar como tudo chegou a tal ponto.

Vincent Van Gogh morreu em 1890, aos 37 anos, mas isso não impediu que Willem Dafoe, do alto dos seus 63 anos, encarasse interpretar o pintor holandês em “No portal da eternidade”, longa de Julian Schnabel que lhe valeu mais uma indicação ao Oscar de melhor ator. A produção mostra os últimos dias do artista, com toda sua angústia interior e momentos de emoções conflituosas. A câmera do diretor oscila entre o ponto de vista do espectador e do próprio protagonista, entregando um filme que não se escora nas facilidades de mostrar Van Gogh como um gênio enlouquecido, mas sim uma figura humana, porém ímpar.

A esposa
UCI 5 (leg): 22h10.
Classificação: 12 anos

No portal da eternidade
UCI 2 (leg): 15h35.
Classificação: 12 anos

Tópicos: cinema

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