Voz e alegria na memória


Por Juliana Netto e Júlio Black

27/08/2015 às 07h00- Atualizada 27/08/2015 às 08h24

Corpo de Serjão foi enterrado ontem no Parque da Saudade na presença de muitos amigos e familiares (Foto: Fernando Priamo/26-08-15)
Corpo de Serjão foi enterrado ontem no Parque da Saudade na presença de muitos amigos e familiares (Foto: Fernando Priamo/26-08-15)

O cenário cultural de Juiz de Fora perdeu mais um de seus nomes populares e carismáticos. O músico, cantor e ex-Rei Momo Serjão Silveira morreu na madrugada de quarta-feira, 26, aos 53 anos, no Hospital Albert Sabin. De acordo com informações da família do artista, ele estava internado desde a tarde do último domingo e lutava contra um câncer no pulmão. O corpo de Serjão foi sepultado com salva de palmas, no final da tarde desta quinta, 26, no Cemitério Parque da Saudade, com presença de familiares e amigos, que estavam bastante emocionados.

Músicos e profissionais do meio cultural da cidade postaram homenagens em seus perfis nas redes sociais para o músico e amigo. Muito emocionado, o músico Fred Fonseca lamentou a perda do parceiro, com quem integrava a mais recente formação do Trio de Janeiro. “Tocávamos juntos há dez anos. Eram cerca de quatro encontros por mês. Ele era uma das poucas pessoas que posso chamar de amigo”, escreveu o artista em seu perfil no Facebook. Também integrante do conjunto, Thiago Miranda foi outro a lembrar a amizade com Serjão. “Ele foi o cara que mais me ensinou no palco e mais me agradeceu por tudo que aprendeu comigo. Ele foi um pai no palco… Tão frágil quanto vejo meus pais às vezes… Ele foi um grande filho, principalmente no final de sua existência. Provando que sou um bom pai que às vezes está mais perdido que o próprio filho mas sabe apontar um caminho pra luz! Luz! É o que fica, meu amigo!”, escreveu Thiago na mesma rede social.

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A página do Trio de Janeiro, por sua vez, postou a última foto feita pelo grupo e pediu a todos para que espalhassem a notícia da morte do cantor, para que todos fizessem “uma bagunça das boas, como ele gostava”. Também pelo Facebook, o Empório Artesanal – onde o Trio de Janeiro se apresentava – lamentou a morte do intérprete, destacando que ele enchia as noites do local com “alegria e boa música”. “O céu está em festa… e nós, com certeza, agradecemos por ter o prazer de ter compartilhado momentos tão maravilhosos com essa grande pessoa!”, escreveram os responsáveis pela página.

Músico era figura marcante do cenário musical da cidade (Foto: Divulgação/Arquivo)
Músico era figura marcante do cenário musical da cidade (Foto: Felipe Saleme/Divulgação)

 

Alegria, simpatia e talento lembrados

Em entrevista à Rádio CBN, o superintendente da Funalfa, Toninho Dutra, também comentou a morte do artista. “Além de todo talento, era uma pessoa muito carismática e carinhosa no tratamento pessoal com a gente. Sempre que convidávamos, ele participava das nossas atividades, trabalhando a favor, sempre muito alegre e festivo. Estamos muito tristes e pesarosos. É uma pessoa que fará falta.”

Dono de uma voz inconfundível, Serjão era figura marcante da música e do carnaval juiz-forano, sendo Rei Momo da cidade em algumas edições da festa. O músico também participou das quatro últimas edições do Concurso de Marchinhas Carnavalescas de Juiz de Fora, tendo vencido o prêmio de melhor intérprete em 2012, além de ajudar a marchinha “A trombeta do Salim”, de Adriano Brandão e Olímpio de Oliveira, a vencer como melhor canção. Diretor musical e um dos idealizadores do concurso, Roger Resende lembra do desempenho do cantor na ocasião. “Ele foi arrebatador como intérprete, incorporou o espírito de brincadeira da música. Depois disso, o Adriano sempre o chamava para defender suas composições.”

Roger lembrou ainda de ocasiões em que dividiram o palco, como na edição especial sobre o carnaval realizada pelo projeto “Ponto do Samba” em 2014 e sua única participação em um show durante a fase de transição do Trio de Janeiro. “Era uma apresentação no Empório, e ele ia fazer uma imitação da Clementina de Jesus. Continuamos no palco, e ele saiu para fazer a transformação. De repente, ele aparece vestido de Clementina e cantando ‘Circo marimbondo’. Foi uma coisa sensacional, é uma imagem do artista que eu guardo”, relembra. “Nessas ocasiões, aproveitávamos para bater papo, era muito divertido. Serjão era uma pessoa generosa e ensinou isso para todo mundo.”

Um dos nomes mais tradicionais do carnaval juiz-forano, Zé Kodak lamentou a morte de mais um amigo. “As pessoas estão indo embora, a tradição da cidade vai ficando pobre com cada perda dessas. Na época em que ele era Rei Momo, estava sempre pronto para ajudar, comparecia às festas e outros eventos toda vez que entrávamos em contato. E não era essa coisa de ficar somente uma hora. Era simpático, um grande intérprete que cantava qualquer repertório, inclusive os sambas-enredos de todas as escolas de Juiz de Fora. Foi uma pessoa que deixou uma imagem de amizade. Que Deus o receba com muita festa.”

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