Ibitipoca Jazz Festival: Jazz com pitada de música mineira

Nomes do jazz nacional, como Wagner Tiso e Toninho Horta, estão entre as atrações da 19ª edição do evento, que acontece neste fim de semana


Por Carime Elmor

27/07/2018 às 07h00

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Antes de subir a serra, Wagner Tiso gravou depoimento para documentário e participou de ensaio geral para o show deste sábado (Foto: Felipe Couri)

Como seria possível invadir as montanhas da Serra de Ibitipoca, com sons, se não houvesse um mergulho em melodias mineiras? Esta que, de tão peculiar, formou seu próprio movimento em meio à música popular brasileira, um encontro de gerações chamado Clube da Esquina. “A música mineira acompanha o desenho das montanhas, a melodia é cheia de curvas”, me explicou Dudu Lima certa vez. “O Clube da Esquina surpreendeu o Rio de Janeiro, como Tom Jobim, Edu Lobo e muitos outros, porque foi um diferencial. A bossa nova era o que tinha de moderno. Quando a gente chegou com o Clube da Esquina tocando esse tipo de música, todo mundo se encantou. Foi como o surgimento de um gênero mineiro moderno. Tem um detalhe, porque essa música nossa vai ser eterna. Nós não fizemos isso para fazer sucesso, fizemos porque a gente gostava – e gosta até hoje”, conta Wagner Tiso, o Maestro do Clube, dizendo que Minas tinha que dar continuidade a essa música moderna surgida na década de 1960.

O surgimento do Ibitipoca Jazz Festival, em 2000, aconteceu como um encontro de amigos. Dudu Lima, Hérmanes Abreu, Mário Ciribelli, Mamão, Ivan Conti e Ricardo Frota se reuniram em duas noites para tocar jazz livremente, assim como o próprio gênero sugere. “Foram feitos vários shows com os músicos que ali estavam, reunimos amigos que tocam juntos, apresentando as composições uns dos outros”, conta Hérmanes Abreu, idealizador e organizador do evento.

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Diversos nomes internacionais vieram ao longo de quase duas décadas ao festival. Apenas citando alguns, já estiveram no Ibitipoca Jazz Festival o violonista francês Maurice Cahen, o cantor Bernard Fines, também da França, assim como o cantor e compositor inglês Steve Travis e o americano Michael Carney, especialista no “steel drums” e também vibrafonista. Para viabilizar estes convites, o Dudu Lima Trio, composto por Dudu Lima (contrabaixo), Leandro Scio (bateria) e Ricardo Itaborahy (piano), costuma ser atração fixa, e a cada edição recebe músicos do Brasil e do mundo para acompanhá-los. “O objetivo foi criar um formato em que eu tenha sempre um grupo dedicado ao festival, viabilizando a vinda de grandes nomes, como Toninho Horta e Wagner Tiso, que estão neste ano”, explica Hérmanes.

A Tribuna acompanhou o ensaio de Dudu Lima Trio na última quarta-feira, à noite, no estúdio Full Time, que fica no subsolo do Cultural Bar. Na ocasião, o maestro Wagner Tiso estava ao piano tocando um repertório junto ao trio, tanto de músicas de sua carreira solo, quanto de canções compostas junto a parceiros do Clube da Esquina. “São músicas ligeiras que eu tenho, ligeiras para improviso, como ‘Balão’ e ‘Os cafezais sem fim’, as outras são do Milton Nascimento e outras pessoas”, conta Wagner sobre o repertório. Wagner é um compositor de cinema e até hoje tem se dedicado muito em fazer trilhas, além de ter projetos com orquestras. “Eu gosto muito de trabalhar com a grande orquestra, faz parte da minha vida. A comemoração dos meus 60 anos de idade foi em um show com grande orquestra e convidados como Cauby Peixoto, Milton Nascimento, Gal Costa e outros. Hoje, eu toco junto às orquestras de Amsterdã e do México”, conta Wagner Tiso, enaltecendo os músicos que o rodeiam em seus projetos, inclusive jovens. “O Ricardo Itaborahy, eu o premiei no Festival Internacional de Piano Solo (Fips), dei uma taça a ele, porque merece, é um grande músico que temos aí”, disse Wagner sobre o pianista do Dudu Lima Trio.

A programação conta também com Hérmanes Abreu Grupo, lançando seu projeto em octeto, formato pouco convencional no Brasil. Tem ainda o violonista Juarez Moreira, além de Toninho Horta, que será o segundo convidado do Dudu Lima Trio. Emmerson Nogueira faz participação com o trio cantando “Um gosto de sol” e “Tudo o que você podia ser”, e depois “Clube da Esquina I”, junto aos convidados de cada noite. “No jazz, o conjunto da obra é que forma o resultado final, se cada detalhe vai sendo extremamente benfeito, o final se torna maravilhoso”, reflete Hérmanes, me fazendo lembrar de uma citação que li anos atrás de Herbie Hancok, que diz: “O jazz é a música que expressa o melhor do espírito humano. Tem a ver com a ideia de compartilhar, não com a de competir. Jazz tem a ver com trabalho em grupo”.

Ibitipoca Jazz Festival
No Serra do Ibitipoca Hotel de Lazer – Conceição do Ibitipoca – MG

Toninho Horta & Dudu Lima Trio e Hérmanes Abreu Grupo, nesta sexta-feira (27), às 21h

Juarez Moreira Trio e Wagner Tiso & Dudu Lima Trio, neste sábado (28), às 21h

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Informações: Ibitipoca Jazz Festival

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