Ansel Elgort estrela o elogiado ‘Em ritmo de fuga’
O astro de “A culpa é das estrelas” fala sobre o filme do diretor Edgar Wright, elogiado pela crítica, estreia desta quinta-feira
Por Agência Estado
Desde a sexta, 21, centenas de jovens já garantiam lugar na frente do Hotel Grand Hyatt, na Marginal, em São Paulo, à espera de Ansel Elgort, que deveria chegar no sábado. Todos queriam ver, tocar e se possível falar com o astro de “A culpa é das estrelas” e da série “Divergente”. Elgort veio com seu diretor, Edgar Wright, de “Baby driver – Em ritmo de fuga”. O longa que estreia nesta quinta, 27, é, desde logo, um dos melhores filmes do ano. O mais original, muito provavelmente.
Mas como um filme de assalto ainda consegue ser original? Mérito de Wright. Elgort e ele saíram para passeios pela cidade. Elgort e a namorada foram a Sé, para visitar a catedral, a Vila Madalena, para conhecer o Beco do Batman. E todas as vezes paravam para conversar com os fãs, fazer selfies. Elgort já ganhou o título de celebridade mais cool – e simpática – do planeta. Como diz, ele já fez ‘algumas coisas’, mas reconhece que “Baby driver” é especial. O diretor e roteirista, de 43 anos, conta que seu filme começou a nascer há mais de 20 anos.
“Estava pela primeira vez em Londres, aos 21 (anos). Já sonhava com o cinema, mas não tinha nenhuma vinculação com a indústria. Descobri o álbum “Orange”, de The Jon Spencer Blues Explosion, e a faixa “Bellbottoms”. Na minha cabeça, era perfeita para uma perseguição de carros. Conseguia ver a cena inteira. Tive todo esse tempo para construir a história.” Há três anos, Elgort entrou no projeto. “Agora, vai”, pensou Wright.
Ligado ao fone
Seu filme tem, de cara, um crédito de coreografia. Foi pensado musicalmente. Um thriller sem canto nem dança. Sem? Baby, o personagem de Elgort, move-se com a graça de um bailarino diante da câmera. Está sempre ligado no fone de ouvido. Move os lábios seguindo a linha melódica e as letras das músicas que escuta. Baby trabalha como piloto. É motorista de carros utilizados em fugas de criminosos que acabaram de assaltar bancos. Estranho, esse cara.
Tem um trauma em seu passado – e um zumbido permanente na cabeça (por isso, os headphones). Mas Baby não se sente um criminoso. Ele participa dos golpes de Kevin Spacey, fica na dele. É a chegada de Jamie Foxx que vai mudar tudo. Foxx potencializa o que há de mais violento nos personagens de Jon Hamm e da namorada. E chegamos ao turning point da história, quando… “Peraí, você não vai contar não é? O spoiler pode destruir nossa história”, pede o diretor.
Wright trabalhou tanto tempo o filme no seu imaginário que não teme confessar. “Se o filme não tivesse dado certo, se as críticas fossem ruins e o público não correspondesse, estaria f. .” A acolhida positiva tem, para ele, o sentido de uma libertação. “Estou mais confiante para o que quero fazer.” Cinema e música. “Cada cena foi pensada com a música correspondente. Não filmei nada sem já ter os direitos assegurados”, conta o diretor. Baby representa para ele… “O mais apaixonante nele é que, mesmo quando chafurda na violência que se torna irreversível, Baby não se corrompe. Era muito importante ter o ator certo para passar esse sentimento.”
Em ritmo de fuga
UCI 1 (leg): 20:00, 22:25. UCI 3 (dub): 13:30. Cinemais Alameda 1 (dub): 17:00, 19:20. Cinemais Alameda 1 (leg): 21:40. Cinemais Jardim Norte 1 (dub): 14:50, 19:30. Cinemais Jardim Norte 1 (leg): 17:10, 21:50. Classificação: 14 anos
ENTREVISTA
‘Comigo, baby ficou mais carismático’
AE – Edgar Wright já trabalhava no projeto há 20 anos. Você chegou há três. O que acha que trouxe?
Ansel Elgort – Não sei se ele contou, mas nosso primeiro contato para falar do projeto durou uma hora. Só que não falamos do filme. Falamos de música. No final, ele disse que ia me deixar o roteiro para eu ler e, se gostasse, eu o chamaria de volta. Chamei imediatamente. O personagem mudou comigo. Acho que o que trouxe foi carisma. Baby ficou mais carismático.
E essa coisa de representar dançando para a câmera?
Comecei no musical, então é natural para mim. Os atores, mesmo de musicais, buscam a naturalidade. Eu gosto de ressaltar a teatralidade. Quando recebi minha primeira crítica elogiosa, coloquei os fones de ouvido e saí dançando pela rua, em Nova York. Como se fosse o rei do mundo.
Você é DJ, compõe, é cantor. Sente-se mais músico ou ator?
Adoro atuar, mas veja “Baby driver”. O filme é de Edgar, expressa a visão dele. Na música, me expresso mais, e a verdade é que, mais que qualquer outro filme, esse despertou o desejo de dirigir. De fazer o meu filme.
Conversei com Edgar sobre suas influências…
…E o cara é doido. Me passou uma lista de cem filmes básicos. Não vi cem filmes na minha vida, e ele queria que visse cem para o filme dele!
Você foi ao Beco do Batman…
Achei muito cool. Em Nova York, tínhamos locais assim, mas um ex-prefeito acabou com os grafites. Acho burrice. A vida das cidades pulsa mais em lugares assim.
O ritmo é de fuga – como eram rock e blues
O texto a seguir foi escrito ao som de “Bellbottoms”, do Jon Spencer Blues Explosion, a canção escolhida por Edgar Wright para abrir seu “Em ritmo de fuga”, na tentativa de emular aqui o que se passa na tela. A música que sai dos fones de ouvido do lado de cá também pulsa nos ouvidos feridos de Baby, o motorista de fuga sob as ordens de Doc, o bandido que não é tão mau assim de Kevin Spacey, em sua primeira fuga no filme. Lá, perde-se o fôlego um punhado de vezes, em cenas coreografadas por Ryan Heffington, o mesmo dos clipes da cantora Siá.
O carro gira, o som aumenta, em riffs cavalares. O veículo derrapa, os vocais rasgados de Spencer martelam na cabeça. A fuga tem êxito, o som desaparece. Fica o ruído da barulheira do lado de cá, tal qual o zumbido crônico que atormenta Baby.
E, embora não seja só a explosão do blues rock de Jon Spencer que domine as playlists do motorista, é a fuga da realidade que ele busca. E a encontra na fúria do rock e nas baladas melosas dos The Commodores e no suingue de Bob & Earl. O amor toma forma com “Deborah”, do T. Rex, e o sonho com o futuro se alimenta de “Let’s go away for awhile” – que não precisa ter versos para fazer a imaginação correr para fins de tarde ensolarados em boa companhia. As canções escolhidas têm, em comum, a ideia da fuga.
Seja social, cultural, política. Os BPMs (batidas por minuto) ditam o ritmo lá e cá. Quando Jon Spencer se silencia, o fim parece ter vindo rápido demais. Vicia. Assim como a velocidade do acerto de Edgar Wright.