Corpo Coletivo estreia nesta sexta o espetáculo “#teatroantivírus”

Peça será encenada, às 21h, para homenagear o Dia Mundial do Teatro; projeto aposta em todas as ferramentas disponíveis da tecnologia para se tornar realidade


Por Júlio Black

27/03/2020 às 07h05- Atualizada 27/03/2020 às 07h42

Peça será encenada com cada ator em sua casa (Foto: Divulgação/Design Gabriel Bittencourt)

Ainda que uma ou outra voz desprovida de sanidade e empatia diga o contrário, o respeito e amor ao próximo, a preocupação com a própria saúde e o bom senso em tempos de Covid-19 têm apenas uma palavra de ordem: fique em casa. E ficar em casa significa, por exemplo, teatros fechados – o que não quer dizer, todavia, que o povo ficará sem arte. Pelo menos se depender do Corpo Coletivo, que estreia nesta sexta-feira (27), às 21h, o espetáculo “#teatroantivírus”.

O projeto aposta em todas as ferramentas disponíveis da tecnologia para se tornar realidade. Para começar, o grupo vai se valer de um programa de vídeo para reunir todos os atores e atrizes, que estarão cada um em suas casas. A peça será, então, gravada e transmitida pelo IGTV da companhia na página do Espaço OAndarDeBaixo no Instagram (@oandardebaixo).

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O grupo vai aproveitar a comemoração do Dia Mundial do Teatro, que acontece nesta sexta, para lançar essa experiência de teatro na rede, que deve durar todo o tempo de isolamento social. O espetáculo, na verdade, será contínuo, com seus desdobramentos todo domingo, também às 21h. “Com a participação do público, vamos construir uma história que vai sendo exibida semanalmente. Daremos uma provocação inicial e quem assistir vai poder ditar os rumos da história que continuará na semana seguinte”, explica a atriz Carú Rezende.

“Toda a encenação será estruturada em relação direta com as interferências do público da internet. Uma forma de nos conectarmos com quem está longe, interagir com o espectador e criar vínculos mesmo em tempos solitários. A ideia da interferência na construção da encenação é de uma semana para outra, com elementos não só relacionados à narrativa, à história, mas também sugerir elementos relacionados à linguagem do teatro”, acrescenta. “A encenação vai explorar o ambiente virtual como matéria-prima. Procuramos entender o que é o teatro na tela de um celular, de um computador. Para isso, contaremos com a participação de artistas parceiros, em um intercâmbio artístico virtual. Nesta sexta vamos trabalhar com artistas do Coletivo Contágio, do Rio de Janeiro. É uma forma de matar a saudade do palco, descobrindo possibilidades que a gente nem imagina!”

Confinamento como inspiração

“#teatroantivírus” terá texto e direção de Hussan Fadel, que passou a escrever nos últimos dias inspirado pelas sensações desse momento de confinamento vivido por tantos. O casal prefere manter segredo sobre a sinopse, mas o que pode adiantar é que a peça trata de como se conectar a outras pessoas num momento em que a desconexão física é questão quase que de sobrevivência.

“São textos que ainda estão sendo feitos, abertos ao instante, ao que pode acontecer. Essa ideia parte de um princípio de texto performativo, algo inacabado, passível de ser atravessado pelas coisas que acontecem, pelo meio em que está inserido, as relações”, explica o diretor. “Com isso, e inspirado nos usos que o teatro contemporâneo faz das novas mídias, vamos atrás de novos caminhos e descobertas para o fazer teatral do coletivo. Desta forma, pensamos em criar uma dramaturgia dinâmica e fragmentada a fim de fazer um teatro em diálogo com a plataforma e também com a tecnologia…  Não é só a forma, mas também o próprio fazer.”

Existe, ainda, o desafio de utilizar essas ferramentas pela primeira vez. “Estamos descobrindo enquanto fazemos, é um teatro totalmente processual. Vamos usar aqueles programinhas que não sei bem o nome (risos), que coloca todo mundo na mesma tela”, diz Carú. “Faremos testes com a tecnologia para garantir que na hora funcione certinho. Cada ator vai receber o texto, criar a partir dele e juntos interagir com as criações. Gravaremos mais cedo e iremos disponibilizar no horário anunciado.”

Ânimo com a resposta do público

Desde a última semana, o Corpo Coletivo iniciou transmissões pela internet de alguns de seus trabalhos, como a peça “Casa dos espelhos” e as três micropeças do projeto “INcômodos: teatro em casa”: “Tomates, morangos e drogas homeopáticas”, “Gaveta vazia, peito vazio” e “Flor do campo”.

“Tivemos muitos espectadores acompanhando ao vivo, pessoas de todas as partes do Brasil e que a internet aproximou. Recebemos retornos carinhosos de espectadores de Manaus, Fortaleza, Brasília, São Paulo… Até dos Estados Unidos e Uruguai! Uma pessoa chegou a agradecer por termos proporcionado a sua reaproximação com o teatro, que ela tanto ama, mas tinha perdido o costume de frequentar. Isso é glorioso! Algo tão despretensioso ter esse poder de afeto!”, comemora Carú.

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Se o isolamento generalizado implica numa série de transtornos, na problemática de pessoas próximas ficarem distantes, a atriz aponta que é possível encontrar pontos positivos no contexto atual. “Esse momento está sendo de grandes descobertas para nós. Momentos em que podemos verticalizar nosso caráter de grupo de pesquisa e criação, quando podemos experimentar a relação com o virtual, com as mídias que nunca tínhamos trabalhado até então. Poderia ser um momento que nos fizesse desistir, frente a tantos obstáculos, para uma arte que requer o encontro, mas estamos descobrindo formas novas de conexão, reais e virtuais. Vamos experimentar o que é a linguagem teatral na rede, como é atuar na rede, como é escrever para a rede, como é a percepção do espectador na rede. Tudo pensando que ainda é teatro.”

#teatroantivírus

Nesta sexta, às 21h, na página do Espaço OAndarDeBaixo no Instagram (@oandardebaixo).  O espetáculo continua aos domingos, às 21h.

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