Banda juiz-forana Pathos lança ‘Rapture’, seu segundo álbum

Trabalho é marcado por sonoridade ainda mais diversificada, em que o rock progressivo e o stoner rock são as principais marcas


Por Júlio Black

27/03/2019 às 07h00

Agora um quinteto, Pathos disponibiliza músicas novas na página do grupo no Bandcamp (pathos.band) (Foto: Brunno Esteves/Divulgação)

Alguns caminhos são mais tortuosos, cheios de obstáculos, e às vezes é preciso esperar para seguir em frente. Ao final, entretanto, a viagem e seu ponto final – ou a etapa concluída, pois sempre há novos desafios à frente – fazem tudo valer a pena. É assim que a Pathos, banda juiz-forana formada em 2014, chega ao seu segundo álbum, “Rapture”. Lançado na última quarta-feira (20), o sucessor de “Elixir” (2015) apresenta seis longas músicas em que o grupo transita entre o stoner rock, o progressivo e passagens contemplativas no que é rotulado – apropriadamente, por sinal – de stoner rock progressivo.

O álbum, por enquanto, pode ser ouvido na página da Pathos no Bandcamp (pathos.band), mas a expectativa é que em 5 de abril “Rapture” esteja disponível também nas várias plataformas de streaming por meio do selo Abraxas Records.

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Com produção da banda e de Arthur Damásio – repetindo a parceria do primeiro disco -, “Rapture” foi gravado ao vivo no estúdio Sonastério, em Belo Horizonte, em julho de 2018, com as participações especiais (Caetano Brasil, Lorena Fernandes, Álvaro Moutinho) sendo registradas em Juiz de Fora no Moutinho’s Estúdio, entre dezembro e janeiro. Se o álbum de estreia era mais pesado, com os riffs de guitarra ditando o ritmo, desta vez o resultado tem muito a ver com a passagem do tempo e as mudanças na formação da banda. Gravado em apenas dois dias em fevereiro de 2015, “Elixir” foi lançado em agosto do mesmo ano, com dois de seus integrantes partindo para o exterior em intercâmbios, o que forçou um hiato que durou até o final de 2016.

Novo integrante

Com a retomada das atividades, o quarteto (Hugo Moutinho, bateria; JP Vieira, vocal; Lucas Guida, baixo; Ricardo Marliere, guitarra) virou quinteto há dois anos com a entrada do tecladista Luiz Henrique Andrès. Reaproveitando algumas ideias antigas e trabalhando num processo de criação coletiva, em que cada um aparecia com uma ideia para ser trabalhada em conjunto, o grupo ensaiou exaustivamente antes de se enfurnar por cinco dias em estúdio a fim de gravar o novo álbum.

Dois fatores, de acordo com a banda, foram fundamentais para a mudança que se percebe entre os álbuns. Enquanto “Elixir” tinha em sua concepção uma série de ideias que já passavam pela cabeça de Ricardo Marliere – desta vez, as letras foram escritas em coautoria, em sua maioria, com JP Vieira -, “Rapture” é fruto dessa possibilidade de uma maior troca de ideias, e ainda tem a presença marcante dos teclados de Andrès. “Com a entrada do Luiz, as harmonias ficaram mais fortes, pois antes as composições eram baseadas principalmente nos riffs de guitarra. Acabou sendo um processo natural, estamos numa vibe mais progressiva”, aponta Guida.

“No início eu fiquei meio perdido, pois era um som bem pesado, demorei para adequar os teclados às músicas antigas. Mas acredito que somei coisas novas para o segundo disco”, diz Luiz Henrique. Essa é a mesma visão do baterista Hugo Moutinho; ele pontua, entretanto, o quanto pode ser complicado casar todas as ideias em estúdio, e neste ponto a participação de Arthur Damásio foi fundamental. “É bom ter uma opinião externa para ‘filtrar’ o que queremos fazer, e o Arthur trabalhou antes com a gente, tem muita experiência. Nós chegamos com quase tudo pronto ao estúdio, ensaiamos durante meses, e ele nos incentivou a continuar nesse processo.”

Entre as idas e vindas, o hiato forçado, shows e ensaios e composições, Ricardo Marliere acredita que todos os integrantes amadureceram durante esse processo singular de uma banda que nunca havia entrado em estúdio antes de “Elixir”, e que agora entrega um disco mais coeso, visão compartilhada por Hugo. “Mesmo que o ‘Elixir’ fosse amarrado a um conceito, as muitas ideias que tínhamos não estavam tão conectadas quanto agora, em que tudo está ligado de uma forma mais fluida. E nosso processo de criação é mais lento por diversos fatores, o que torna tudo mais trabalhoso. Em 2017, por exemplo, tínhamos apenas duas horas por semana para ensaiar.”

Assim como no álbum de estreia, capa de ‘Rapture’ tem arte de Herman Faulstich

Gravações exaustivas

O primeiro semestre de 2018 foi o momento em que conseguiram se reunir com mais assiduidade, e daí foram definidas as composições para a gravação do segundo álbum. Mesmo assim, “End of Spring” foi criada semanas antes da entrada em estúdio, que apesar da experiência anterior apresentou novos desafios.

“Tivemos cinco dias, ao invés dos dois de ‘Elixir’, para gravar, e pensamos: ‘vai ser moleza’ (risos). Acabou que teve correria (para terminar as gravações), mas foi excelente”, lembra Ricardo. “Por sermos independentes, existe a pressão de termos que dar o nosso melhor com o pouco tempo disponível. Foram cinco dias de gravações, amor, nervosismo, expectativa e alguma frustração também”, reconhece Hugo Moutinho.
Essa frustração, explica o músico, vem do fato de que a Pathos resolveu repetir a experiência anterior de gravar tudo ao vivo, os cinco integrantes dando o melhor de si em cada take. Cada música foi gravada pelo menos três vezes – algumas, quatro -, e ao final de cada take era feita uma audição; ao perceber que havia algum detalhe a melhorar, eles voltavam ao estúdio e gravavam de novo, entre outros motivos por perceber que o andamento que ensaiaram por meses não era o mais apropriado na hora do “vamos ver”. No balanço geral, todavia, muitas vezes uma das primeiras versões era a escolhida.

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“Gravar ao vivo tem dessas coisas. Algumas músicas têm até dez minutos, a pressão é muito grande para fazer um take bom de uma música que ensaiamos por meses, mas na hora um integrante não está num momento muito bom, aí precisávamos regravar; porém, é você que pode estar cansado na nova tentativa, aí o seu desempenho não é o melhor… É preciso ter resiliência”, afirma Hugo. “Se a banda não estiver entrosada você não consegue fazer o que realizamos”, acrescenta Ricardo.

Além da experiência de registrar as ideias sonoras, “Elixir” foi a oportunidade de a Pathos ter algum reconhecimento fora da cidade. Para eles, o resultado foi além do esperado por conta do período de pausa forçada. “O maior fruto do ‘Elixir’ foi a prensagem em vinil por um selo da Alemanha (o Krauted Mind Records), que descobriu nosso som pela internet e propôs o lançamento. A expectativa, agora, é ter um retorno maior, com mais shows, por exemplo”, diz Ricardo Marliere. “Nós agradamos vários nichos por conta dessa diversidade, de ter o rock, o metal, o progressivo, criarmos um som diferente, isso pode fazer diferença”, acredita JP Vieira.

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