Andréa Beltrão defende a sua Hebe, que estreia nesta quinta

Atriz Andréa Beltrão estrela “Hebe – A estrela do Brasil”, dirigido por Maurício Farias


Por Luiz Carlos Merten A

26/09/2019 às 07h00

Andréa Beltrão como Hebe: “O Brasil está precisando de um sofá para que todos conversemos”
(Foto: Divulgação)

Luiz Carlos Merten AE

Para muita gente, Andréa Beltrão parecia imbatível como candidata ao Kikito de melhor atriz, no Festival de Gramado deste ano, por sua interpretação em “Hebe – A estrela do Brasil”, dirigida por seu marido, Maurício Farias, que celebra a apresentadora Hebe Camargo (1929-2012). “Mas aí cheguei a Gramado e o meu filho, que já estava lá, me disse que tinha visto um filme maravilhoso (Pacarrete) e que Marcélia Cartaxo havia sido ovacionada após a sessão. Perguntei se ele achava que ela ganhava (o prêmio de atriz), e ele disse que sim. Desencanei. Na manhã seguinte, no café, no hotel, já cumprimentei a Marcélia pela vitória, ela desconversou, ‘O que é isso?’, mas insisti, ‘Ganha, sim.’ Não deu outra.”

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Independentemente de premiações em festival, Hebe estreia nesta quinta, 26, três dias antes do sétimo aniversário de sua morte, em 2012.
O diretor Farias é cauteloso. “O ano não está sendo muito bom, e tem a questão do conservadorismo. A Hebe (Camargo) tinha a fama de malufista, reacionária, mas o perfil que a Carol (a roteirista Carolina Kotscho) propõe vai na contramão disso. Temos uma Hebe que enfrenta a censura, defende homossexuais, enfrenta o marido, uma mulher que consegue dialogar com todo mundo, menos com o filho.”

Em Gramado, surgiram acusações de que o filme teria edulcorado tanto a personagem que a Hebe da ficção não teria nada a ver com a realidade. “Aí é que as pessoas se enganam”, garante a roteirista. “Não inventei nada. Tudo o que a Hebe faz e diz no filme é documentado. Tomei liberdades na estruturação dramática, mas quem vê as entrevistas da Hebe no “Roda Viva” vai identificar a nossa personagem. A entrevista está na íntegra no YouTube. Hebe entrou intimidada, dizendo que todos aqueles entrevistadores iam trucidá-la, e terminou aplaudida de pé.”

A Hebe de “A estrela do Brasil” começa o filme de costas para o público, bebendo em seu camarim. Está rolando uma tempestade nos bastidores. Ela tem seu programa de entrevistas na Band e está visada pelas autoridades, leia-se – a censura do regime militar. O chefe de censura proclama – “Essa mulher é uma subversiva”. Diretor na emissora, Walter Clark contemporiza – “Essa mulher é a entrevistadora mais querida do Brasil”. Hebe provoca. A censura não quer que ela fale de sexo, exige que o programa seja gravado. Ela anuncia a mulher mais bonita do Brasil, Roberta Close. Dercy Gonçalves, outra entrevistada, fica indignada, grita “A mulher mais bonita sou eu” e mostra os seios. O circo está armado.

Por que essa Hebe? “Eu não tinha familiaridade nenhuma com a Hebe real, nem com a Hebe que o roteiro da Carol me apresentou. Ganhei um pacote completo, a personagem veio com a atriz que a Carol queria que a interpretasse. Como conheço bem a atriz (risos), achei que poderia ser interessante. E foi.” Muito.

Joias e figurinos originais

Para interpretar o filme, Andréa precisou dar um tempo na sua Antígona, no teatro. É magnífica na sua recriação da tragédia grega, dirigida por Amir Haddad. “Foi um encontro inspirador. Interpretar Antígona havia sido como escalar uma montanha. A proposta para ser Hebe veio como outra montanha.” Só não dava para conciliar as duas. “Enviei a Antígona para o Olimpo, para que ela descansasse um pouco entre os pares de Zeus, e me vesti de juventude.” Coincidentemente, Hebe, na mitologia grega, é filha ilegítima de Zeus e Hera. Representa a juventude e os trabalhos domésticos. Não a Hebe apresentadora de TV. Ela até podia ter uma vida como esposa e mãe, mas o que fazia de melhor era sentar-se naquele sofá para entrevistar pessoas.

“Conheci brevemente a Hebe, mas nunca fui amiga dela. Mas antes mesmo de ler o roteiro da Carol, ao saber que ela me queria tanto no papel, já sentia uma predisposição. Esse Brasil está tão radicalizado, dividido, que uma mulher que se sentava para conversar e ia à luta pelo que acreditava, mas não querendo silenciar o outro, só isso já me parecia revolucionário. Estamos numa era em que todo mundo acha que está certo e quer calar a boca do outro. E eu não compactuo com isso.”

Como no caso recente do Simonal, de Leonardo Domingues, em que Fabrício Boliveira não se parece nem um pouco com o personagem, mas colocou na tela o seu suingue, Andréa vestiu o figurino de Hebe e se apropriou de seu espaço. O figurino, literalmente. “A família me autorizou a usar as coisas dela. Os vestidos, as joias, os sapatos. Tudo serviu maravilhosamente.” E os ornamentos ajudaram a (re)criar a personagem? “É como a árvore de Natal. A gente monta, mas se o duende não passar ali e fizer a mágica, não tem encanto.” Com Andréa no papel, a mágica está assegurada.

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Ela jura que não ficou chateada por não haver sido premiada em Gramado. “Imagina, todo mundo me diz que a Marcélia (Cartaxo) está tão bem. Me parece justo que tenha ganho. Vou me sentir feliz se o nosso filme ajudar as pessoas a verem essa Hebe que pode até surpreender, mas é verdadeira. No atual estado das coisas, o Brasil está precisando de um sofá para que todos conversemos.”

HEBE – A ESTRELA DO BRASIL
UCI 1: 13h30, 16h10, 18h50 (todos os dias), 21h30 (exceto qua). UCI 4: 22h25 (qua).
Classificação: 14 anos

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