‘Viúva Negra’, da Marvel, chega ao Disney+
Personagem da Marvel enfim ganha seu filme solo no MCU, em um ótimo longa de ação que chega tarde demais
Quando o Marvel Studios anunciou o filme da Viúva Negra, em 2017, as reações foram essencialmente duas: “até que enfim” e, principalmente, “mas só agora?”. Afinal, Natasha Romanoff era a principal heroína do MCU (Universo Cinematográfico Marvel), mas não havia ganhado um filme para chamar de seu, ao contrário do Homem de Ferro, Thor, Hulk, Capitão América, Doutor Estranho, Homem-Aranha… Até o Homem-Formiga já havia sido protagonista. Para piorar, pouco depois a rival DC Comics chegava, via Warner Bros., com “Mulher-Maravilha”, e foi a Capitã Marvel a primeira personagem feminina a protagonizar um longa do MCU.
A sensação de “mas só agora?” aumentou depois dos eventos de “Vingadores: Ultimato”: sem querer dar spoilers aos 13 seres humanos que ainda não assistiram ao longa, passamos a perguntar “que diabo de filmes vamos ter? Será uma trama de origem – e ainda assim mais que tardia?”. A sensação de que seria um filme irrelevante e prêmio de consolação para Scarlett Johansson, que havia interpretado a personagem em outros setes filmes, permeou toda a expectativa em torno de “Viúva Negra”.
Após estrear nos cinemas em julho – mais de um ano depois do previsto, por causa da pandemia – e chegar ao Disney+ para todos os assinantes nesta quarta-feira (25), podemos afirmar: não deixa de ser um prêmio de consolação, mas é um ótimo filme de ação e espionagem que não se esquece de investir nos dramas pessoais.
Casos de família
O longa dirigido por Cate Shortland (“Lore”, “A síndrome de Berlim”) resolve a origem da personagem nos 15 minutos iniciais, num clima parecido com o da série “The Americans”. O ano é 1995, e o casal de agentes russos Alexei (David Harbour) e Melina (Rachel Weisz) vivem disfarçados nos Estados Unidos com suas “filhas”, Natasha e Yelena Belova. Quando seus disfarces são descobertos, eles fogem e entregam as meninas para o projeto Sala Vermelha, comandado pelo inescrupuloso general Dreykov (Ray Winstone) e que treina jovens do sexo feminino para se tornarem assassinas do governo russo.
Pano rápido, e pulamos para 2016, logo após os eventos de “Capitão América: Guerra Civil”. Após ajudar o Steve Rogers a salvar Bucky, Natasha (Johansson) consegue escapar da caçada promovida por Thaddeus Ross (William Hurt) e tenta ficar fora do radar das autoridades. A tranquilidade é efêmera, pois logo ela é atacada pelo Treinador (revelar quem interpreta o papel é estragar 99% da graça), o que faz com que Romanoff viaje até Budapeste e reencontre Yelena (Florence Pugh) depois de muitos e muitos anos.
Depois da “porradaria de primeiro encontro” típica da Marvel desde os quadrinhos, a Viúva Negra descobre que a Sala Vermelha não apenas segue em atividade, como também desenvolveu um método de controle mental de suas agentes ainda mais eficiente que o condicionamento psicológico. Apesar de ainda terem roupa suja para lavar, elas unem forças para descobrir o atual paradeiro da Sala Vermelha e matar Dreykov. Para isso, as duas terão que contar com a ajuda de Alexei, que antes da missão nos Estados Unidos era o supersoldado Guardião Vermelho, e de Melina.
Entre a ação e o drama
Se “Viúva Negra” chegou aos cinemas muito depois do que a heroína merecia, o fato de não ficar engessado como mais um “filme de passagem” do MCU permitiu a Cate Shortland realizar um longa com mais personalidade que “Capitã Marvel”, por exemplo. A produção, claro, bebe da fonte de vários filmes de ação e espionagem, seja um dos integrantes do MCU (“Capitão América: O Soldado Invernal”) ou de franquias como “Missão: Impossível” ou “A identidade Bourne”.
Ou seja: “Viúva Negra” tem ótimas cenas de ação, como o primeiro encontro entre Yelena e Natasha e a perseguição de em Budapeste – mesmo que a sequência final, em que coisas voltam a cair do céu no Universo Marvel, abuse da suspensão da descrença – e sabe trabalhar bem com o suspense. Para os fãs de longa data, o longa aproveita para explicar por que a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro falavam tanto da missão na capital da Hungria.
Além da ação, o filme da Viúva Negra também é competente nos momentos dramáticos, ao tratar de temas como família, o sentimento de pertencimento e até mesmo de abuso físico e psicológico – ainda que forma algo superficial – quando descobrimos como Dreykov “cria” suas Viúvas Negras. Scarlett Johansson tem grande atuação ao entregar uma Natasha Romanoff que precisa lidar com as dores e pecados do passado, a dissolução de sua família com os Vingadores e o acerto de contas com sua “família” original.
Quanto aos demais protagonistas, Florence Pugh também brilha no papel da impulsiva, imatura e irônica Yelena Belova, que deve dar muito o que falar no MCU – se ela assumir o nome de Viúva Negra, certamente não será a mesma personagem que vimos até agora. Ainda que com participações menores, David Harbour e Rachel Weisz defendem bem seus papéis, o que nos deixa com o sentimento agridoce de saber que não teremos outras histórias com esses personagens reunidos – e, principalmente, sem uma Viúva Negra que deveria ter tido muito mais espaço (e filmes) no MCU.