Coletivo Abacateiro lança o álbum “Crisálida”

Projeto apoiado pela Lei Aldir Blanc de MG conta com a participação de vários artistas do cenário musical de JF


Por Júlio Black

26/07/2021 às 16h32- Atualizada 27/07/2021 às 17h14

Coletivo Abacateiro, criado em 2020, apresenta álbum “Crisálida”, com artistas da cidade dos mais variados gêneros musicais (Marcella Silveira/Divulgação)

O Coletivo Abacateiro foi formado em meados de 2020 por BrunãoDUBASS, Mariana Oliveira (maréderisco), Mayara Moreira e Vito Lofi com o objetivo de mostrar a qualidade dos artistas independentes da Zona da Mata Mineira, numa iniciativa que já abraça dezenas de nomes. E um dos resultados dessa união é o álbum “Crisálida”, lançado no último dia 21 por meio do edital da Lei Aldir Blanc de Minas Gerais. Disponível nas plataformas musicais de streaming, o projeto reúne 16 músicas que trafegam pelos mais diferentes gêneros musicais, como o rap, hip-hop, funk e a Nova MPB.

O álbum foi gravado entre fevereiro e junho deste ano no Estúdio Poty e teve a participação de nada menos que 13 artistas: Pedro Tasca, Hector, BrunãoDUBASS, Hey Ruy, Mari Blue, Fred Calabrez, SALVJORG3, Diogo Santhiago, Arthur Barreto, Marco Maia, Brynner, Chagas e Vito Lofi, além dos convidados Arthur Miranda, Guida e Tiago Croce. O coletivo prepara ainda um documentário sobre o processo de produção do álbum, com direção de Mayara Moreira e Lucas Machado, tendo na equipe Noah Mancini (diretor de fotografia), Emmanuel Corrêa (editor), Marcella Silveira (fotógrafa) e Mariana Oliveira (produtora, diretora criativa e designer).

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Angústia sobre o hoje e o amanhã

BrunãoDUBASS conta que a ideia de “crisálida” surgiu em um momento de extrema angústia em relação ao presente e também ao futuro, inserido em um cenário em que os dias realmente pareciam se repetir infinitamente e o fim não aparentava estar próximo. A chance de colocar esses sentimentos para fora veio quando Mariana Oliveira tomou conhecimento do edital da Lei Aldir Blanc.

“Depois da contemplação com o edital, nasceu a oportunidade de envolver várias pessoas, e assim surgiu a ideia do álbum colaborativo, em que cada artista poderia se expressar mais livremente sobre suas próprias questões em torno do isolamento social”, diz.

“O edital exigia que o álbum tivesse 45 minutos, e daí surgiu a ideia de chamar amigos para contribuir com composições próprias e procurar outros artistas de Juiz de Fora que ainda não tinham tido a oportunidade de lançar nada oficialmente”, acrescenta Mayara. “A partir da idealização e escrita do projeto, por Mariana e Brunão, o coletivo foi surgindo, primeiramente com a formação do núcleo de produção.”

Quanto ao conceito do projeto, os membros do coletivo explicam que ele tem muito a ver com a necessidade de quarentena imposta há quase 18 meses, e de como um indivíduo pode mudar como pessoa vivendo o mesmo dia todo dia. Eles lembram, ainda, que “Crisálida” é um sinônimo de casulo, e que o grupo vê como “uma metáfora para a vida do artista independente em tempos pandêmicos, e reflete a respeito da mutação que o mesmo precisou sofrer para se adaptar às novas condições de trabalho”, conforme explicaram no release de divulgação do álbum.

A cena é grande e diversificada

Essa proposta é perceptível no trabalho, pois, como explica Brunão, a maioria das músicas foi criada durante a pandemia em um processo fragmentado imposto pela realidade pandêmica, com as gravações feitas em separado e com espaço de tempo entre elas, para garantir a segurança de todos.

“Por isso, os artistas viveram processos muito particulares em relação ao trabalho coletivo. Muitos deles sequer se conheceram, e isso foi uma dinâmica um tanto trabalhosa em termos de produção. Além disso, o contexto fez com que vários desses artistas explorassem novas áreas dentro da própria arte, saindo do seu instrumento de origem e testando novas opções como cantar ou até mesmo produzir.”

Mariana Oliveira pontua que, embora se trate de pessoas diferentes, elas possuem algo em comum. “(São) artistas independentes tentando sobreviver ao caos do governo brasileiro durante a pandemia. Quando o conceito do álbum foi apresentado para eles, todos se identificaram; por isso as músicas são tão diferentes entre si, e, mesmo assim, seguem o mesmo raciocínio quando se trata do beat e do conceito.”

A artista acredita, ainda, que “Crisálida” consegue dar uma mostra do quanto o cenário musical de Juiz de Fora é grande e variado, ao misturar ritmos e vivências diferentes e unir pessoas de vários nichos da cena. “Isso foi muito proveitoso e gerou momentos de grande aprendizado, acreditamos, para todos os que participaram, principalmente para os idealizadores do projeto. Acreditamos que o álbum pode ter um impacto no cenário independente por ter dado a oportunidade a vários artistas de gravar e lançar músicas autorais, muitos deles pela primeira vez”, diz. “Isso é muito importante, principalmente nesse momento em que os shows não são permitidos e o único espaço de apresentação é a internet, o que deixa tudo mais difícil e muitos pensavam em desistir.”

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Mariana também destaca o incentivo a continuar produzindo que gerado pela iniciativa. “Ter um projeto estruturado, que trata os artistas como os profissionais que eles são e que realmente se importa com a arte de cada um, principalmente nesses tempos de isolamento e falta de oportunidades, é como dar mais um fôlego pra todo mundo continuar na luta. As casas de shows que costumavam abraçar o artista independente não conseguiram se manter por muito tempo, então foi essencial esse espaço para que pudéssemos pôr em prática tudo o que aprendemos durante esse tempo em casa. Além de trazer esperança no bom da vida, que é ter prazer e estar rodeado de pessoas que nos querem bem.”

Montanha-russa de emoções

A artista, que assina seus trabalhos com o nome maréderisco, comentou também sobre as dificuldades enfrentadas pelos integrantes do coletivo desde o início da pandemia. Ela conta que a maioria dos integrantes da produção do grupo estuda na UFJF e possui projetos independentes, e que os editais emergenciais da Aldir Blanc foram um incentivo para que quase todos pudessem continuar trabalhando exclusivamente com arte e pesquisa.

“Todos compartilhamos o sentimento de que o período pandêmico está sendo uma montanha-russa de emoções e formas de se adaptar à realidade. Todos sentimos a pressão financeira, psicológica e artística desses tempos de incerteza em todos os âmbitos da vida, de formas diferentes. E é um pouco sobre isso que é o ‘Crisálida’: várias vozes e histórias diferentes, reunidas e causadas pelos mesmos sentimentos e pela mesma situação.”

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