‘Nomadland’ é consagrado em noite de discursos emocionantes

93ª edição dos Prêmios da Academia teve muitos vencedores e nenhuma grande concentração de prêmios


Por Júlio Black

26/04/2021 às 12h37

nomadland
Grande vencedor, “Nomadland” ganhou os prêmios de melhor filme, melhor atriz (Frances McDormand, na foto) e melhor direção (Chloé Zhao)

A 93ª edição do Oscar, realizada na noite do último domingo (25) em Los Angeles, não teve a pompa e aquele jeitão espalhafatoso (muitos diriam cafona) dos anos anteriores, ao trocar o Teatro Dolby pela austera Union Station devido à pandemia de Covid-19, que forçou a festa a ter um número muito menor de convidados (cerca de 170).
Pode-se dizer que a cerimônia ganhou com o novo – e temporário – formato, e graças ainda à variedade de produções premiadas, caráter mais inclusivo e discursos emocionantes numa noite em que “Nomadland” foi o grande vencedor, com três Oscars, incluindo os dois principais (melhor filme e direção). Dá até para responder à questão colocada pela reportagem da Tribuna no último domingo que, sim, o Oscar pode ser relevante e ter muita gente que se importe com ele.

Menos glamour, mais emoção

O Oscar 2021 foi adiado de fevereiro para abril devido à Covid-19, e precisou se adaptar aos novos tempos com uma produção ainda elegante, mas bem menos grandiosa. Com um espaço menor, a festa foi necessariamente mais intimista, sem as apresentações musicais (gravadas no Teatro Dolby e exibidas antes do início da cerimônia) e as piadas quase sempre sem graça do apresentador e dos convidados a fazer os anúncios. Houve mais tempo para apresentar os indicados, e os vencedores puderam realizar discursos livres das amarras do tempo cronometrado.
De todos os discursos, certamente o mais emocionante foi o do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, que venceu o prêmio de melhor filme internacional por “Druk: mais uma rodada”. Ele dedicou o prêmio à filha Ida, que morreu em um acidente de carro, aos 19 anos, poucos dias antes do início das filmagens – ela faria sua estreia como atriz na produção. “Ela morreu em um acidente de carro porque alguém estava mexendo no celular (…) Esse filme é um monumento a ela. Um milagre acabou de acontecer e você faz parte desse milagre. Talvez você esteja fazendo algo por mim aí em cima. Essa é para você”, disse ele, emocionado.

PUBLICIDADE

‘Senhor Pitt, finalmente…’

Daniel Kaluuya, Oscar de ator coadjuvante pela sua interpretação de Fred Hampton em “Judas e o Messias Negro”, homenageou o líder dos Panteras Negras e a organização. “Que homem. Quão abençoados nós somos por termos vivido uma vida onde ele existiu (…) Ele me ensinou, ele, Huey P. Newton, Bobby Seale, os Panteras Negras, eles me mostraram como me amar, e com esse amor, eles transbordaram para a comunidade negra e outras comunidades.”
Travon Free, um dos vencedores em curta-metragem por “Dois estranhos”, lembrou a violência policial em seu país. “A polícia dos Estados Unidos mata três pessoas por dia. Essas pessoas, em maioria, são pessoas negras. Eu peço que vocês sejam diferentes, não sejam indiferentes a nossa dor”, apelou.
A sul-coreana Youn Yuh-jung, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante, fez o discurso mais engraçado da noite, ao flertar com o apresentador do prêmio, Brad Pitt (“Senhor Pitt, finalmente… Prazer em conhecê-lo! Onde você estava enquanto filmávamos?”), ironizou a própria competição pelo prêmio e agradeceu aos filhos, que a obrigaram a “sair de casa para trabalhar”.

Daniel Kaluuya venceu o Oscar de ator coadjuvante por seu desempenho em “Judas e o Messias Negro”

Maior diversidade

Oscar manteve a tendência dos últimos anos e não concentrou muitas estatuetas em uma única produção; a última vez que um filme levou mais de quatro estatuetas foi em 2017, quando “La La Land” faturou seis. O aumento do número de votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood nos últimos anos, numa busca por maior diversidade para fugir das críticas de ser um “prêmio para pessoas brancas”, como criticava o movimento puxado pela hashtag #OscarSoWhite (em especial após a vitória de “Green Book”, em 2019), aos poucos parece apresentar resultados.
Se em 2020 houve a surpresa e consagração do sul-coreano “Parasita” – primeiro filme estrangeiro a levar o prêmio principal, além de direção, roteiro original e filme internacional -, este ano Chloé Zhao tornou-se a segunda mulher – e primeira asiática – a vencer o prêmio de direção; os primeiros negros foram indicados e venceram a categoria de maquiagem e cabelo; Youn Yuh-jung tornou-se a primeira sul-coreana a vencer um prêmio de atuação (atriz coadjuvante); e 17 categorias tiveram mulheres entre seus vencedores, incluindo roteiro original para Emerald Fennell.
Com a busca pela diversidade se consolidando, o filme com o maior número de prêmios foi “Nomadland”. O longa de Chloé Zhao levou os dois prêmios principais (melhor filme e direção) e melhor atriz para Frances McDormad, que venceu pela terceira vez a categoria e se igualou a Meryl Streep e Daniel Day-Lewis como os maiores premiados nas categorias de atuação.
Nas sequência, vários filmes levaram dois prêmios: “Mank” (fotografia e design de produção), “A voz suprema do blues” (figurino e maquiagem e cabelo), “O som do silêncio” (edição e som), “Judas e o Messias Negro” (ator coadjuvante e canção original), “Soul” (animação e trilha sonora) e “Meu pai” (roteiro adaptado e ator). Nesta última categoria, Anthony Hopkins se tornou, aos 83 anos, o ator mais velho a vencer o prêmio, que tinha como favorito Chadwick Boseman (“A voz suprema do blues”), morto em agosto do ano passado aos 43 anos.

Oscar 2021 – Principais categorias

Melhor filme
“Nomadland” (FOTO OSCAR-NOMADLAND)

Melhor filme internacional
Thomas Vinterberg – Druk: “Mais uma rodada”

Melhor diretor(a)
Chloé Zhao – “Nomadland” (FOTO OSCAR-CHLOE)

Melhor atriz
Frances McDormand – “Nomadland”

Melhor ator
Anthony Hopkins – “Meu pai” (FOTO OSCAR-HOPKINS)

Melhor atriz coadjuvante
Youn Yuh-jung – “Minari”

Melhor ator coadjuvante
Daniel Kaluuya – “Judas e o Messias Negro” (OSCAR-JUDAS)

Melhor roteiro original
Emerald Fennell – “Bela vingança”

Melhor roteiro adaptado
Christopher Hampton e Florian Zeller – “Meu pai”

Melhor animação
“Soul”

Melhor trilha sonora original
Jon Batiste, Trent Reznor e Atticus Ross – “Soul”

O conteúdo continua após o anúncio

Melhor canção original
“Fight for you”, H.E.R. – “Judas e o Messias Negro”

Melhor fotografia
Erik Messerschmidt – “Mank”

Melhor design de produção
“Mank”

Melhor montagem/edição
“O som do silêncio”

Melhor som
“O som do silêncio”

Melhor figurino
“A voz suprema do blues”

Melhor maquiagem e cabelo
“A voz suprema do blues”

Melhores efeitos visuais
“Tenet”

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.