Na Netflix: fantasia, ação e ‘bromance’ made in China

Blockbuster chinês “Mestres do Yin-Yang: o sonho da eternidade” chega ao catálogo do serviço de streaming


Por Júlio Black

26/02/2021 às 07h00

Qing Ming e Bo Ya protagonizam porradaria e tensão homoerótica em sucesso chinês (Foto: Divulgação)

A China tornou-se nos últimos anos um dos maiores polos produtores de cinema, com blockbusters capazes de encarar na base do bom e velho pé-na-cara os similares de Hollywood, como as franquias da Marvel ou “Velozes e furiosos”. Todavia, poucas dessas produções chegam por aqui. Um dos raros lançamentos é “Mestres do Yin-Yang: o sonho da eternidade”, que entrou no catálogo da Netflix no início do mês após estrear no final de dezembro em sua terra natal.
O longa é adaptação do livro de fantasia “Onmy?ji”, do japonês Baku Yumemakura, que vendeu milhões de exemplares lá pelas bandas do Oriente, mas não tem edição em português. A obra já ganhou outras adaptações para o cinema, de versões para os quadrinhos, séries de TV, teatro kabuki e jogo para celulares. Para esta nova e grandiosa versão, a direção ficou por conta de Jingming Guo, também responsável pelo roteiro.
A história, que mistura fantasia, magia, artes marciais e “investigação policial”, tem como protagonistas Qing Ming (Mark Chao) e Bo Ya (Allen Deng), dois mestres de filosofias diferentes de magia. Os dois são convocados até a Cidade Imperial para se juntar a dois outros mestres e, assim, defender a sede do império e a imperatriz da Serpente do Mal, que está aprisionada no palácio e de tempos e tempos tenta retornar ao nosso mundo.
Logo após a chegada dos mestres, porém, um deles é assassinado de forma misteriosa, e cabe a Qing Ming e Bo Ya descobrirem tanto o assassino quanto quem está disposto a libertar a Serpente. Entretanto, os dois possuem personalidades e gênios muito diferentes, o que de início gera desconfiança mútua e alguma pancadaria, quase uma versão oriental daqueles filmes de parceiros policiais que não se bicam, tão comuns em Hollywood. Com o tempo, os dois começam a desenvolver um laço de amizade e confiança, além de uma tensão homoerótica evidente nos olhares que os dois trocam entre si.

Qualidades e defeitos

Com pouco mais de duas horas de duração, “Mestres do Yin-Yang” é um épico de fantasia que mistura boas cenas de luta com cenas bem ao estilo reservado do extremo oriente, em que as palavras são bem medidas e ditas quase que sílaba por sílaba. O elenco se vira muito bem em seus papéis, e o longa também se destaca pelos figurinos e cenários exuberantes, com uma direção de arte de dar inveja a muita produção de época.
Porém, o filme peca no desenvolvimento do roteiro, que muitas vezes precisa apelar para o expositivo no estilo Christopher Nolan, além de que o espectador pode entender, no final das contas, qual é a resolução do mistério, que é explicada quase com os protagonistas pegando na mão do público e dizendo “olha, foi assim”.
No caso dos efeitos especiais, o CGI consegue ser satisfatório em alguns momentos, muito bons em outros, mas há algumas cenas em que fica nítida a sensação de estarmos assistindo a um videogame. Além disso, quem acompanha os filmes da Marvel certamente notará a semelhança de alguns efeitos como aqueles vistos em “Doutor Estranho”, além da já célebre transformação de pessoas em cinzas de “Vingadores: Guerra Infinita”. Ah, a famosa “luz azul” também dá as caras.
Apesar dos defeitos, quem assistir ao longa vai ter a oportunidade de conhecer como são bem executados os blockbusters chineses, que, em aparência e essência, devem nada aos similares americanos.

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