‘Costura é cultura’: projeto leva oficina gratuita de moda e costura para o Dom Bosco

Idealizado por mãe e filho, proposta foi contemplada pelo edital “Cultura da/na Quebrada” do Programa Cultural Murilo Mendes; inscrições já estão abertas


Por Tribuna

26/01/2023 às 13h33- Atualizada 26/01/2023 às 21h33

A moda é algo que permeia a vida de Matheus Bertolini. Sua lembranças de quando era pequeno, na vizinha São João Nepomuceno, guardam muito do que foi crescer ao lado da mãe, Rejane Bertolini, enquanto ela costurava e conversavam sobre moda e tendências. A cidade, que é referência na confecção de vestuários impactou diretamente a família de Matheus, cujo gosto pela moda foi passado de geração em geração: o avô de Rejane foi alfaiate, sua avó “camiseira” (especialista em camisas) e sua mãe, ajudante de costura de seus avós. No início da década de 1970, conforme conta Rejane, seus pais abriram uma confecção de roupas. E ali ela passou a desenhar modelos, fazendo os moldes e costurando as peças piloto. O que foi conversa ditada pelo vai e vem da máquina de costura, portanto, cresceu. Hoje, mãe e filho, formados em Design de Moda, costuram ideias, além de roupas, para levarem adiante o que acreditam ser o papel da moda na vida das pessoas.

Foi nessa toada, que ambos decidiram extrapolar os limites do ateliê e desenvolverem uma proposta de cunho social para levarem a moda e a costura a outras pessoas. Nasceu, então, o “Costura é Cultura”, projeto contemplado pelo edital “Cultura da/na Quebrada” do Programa Cultural Murilo Mendes e que vai acontecer no Bairro Dom Bosco em Juiz de Fora. A proposta é realizar uma oficina no bairro, com o intuito de mostrar que moda e costura também são portas de acesso à arte e à cultura. “Essa ideia surgiu a partir da vontade da minha mãe e da minha em fazer um convite às pessoas para conhecerem um pouco mais sobre moda. Apesar de não ser uma oficina profissionalizante, a ideia é que as pessoas possam perceber, a partir dessa proposta, oportunidades de trabalho, uma possibilidade de terapia, de esperança e de acesso à cultura dentro da quebrada”, explica Matheus.

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Inscrições abertas

As inscrições já estão abertas e podem ser feitas por qualquer pessoa com idade acima de 16 anos. São disponibilizadas 20 vagas e os interessados devem se inscrever por meio do perfil do projeto no Instagram. Na página, será disponibilizado o formulário. As aulas acontecerão no Instituto Amargen, com início previsto para 4 de fevereiro. A instituição está localizada na Rua Professor Inácio Werneck, 35, Dom Bosco. As oficinas acontecerão aos sábados, sempre à tarde, com o intuito de poder contemplar, inclusive, pessoas que trabalham pela manhã. Demais detalhes serão enviados participantes e divulgadas na página do projeto.

 

Oficina com 20 vagas terá início em fevereiro e acontecerá aos sábados, no Instituto Amargen, no Dom Bosco (Foto: Arquivo Pessoal)

Pensando a moda

Para Matheus, é importante que a moda seja pensada e discutida, ainda mais em uma cidade como Juiz de Fora, que já foi reconhecida como a Manchester mineira, uma alusão à forte indústria têxtil que a cidade teve no passado. “Não pensarmos a moda hoje é um erro, ela surge como oportunidades de educação, de economia criativa. Pensar a importância da moda é vislumbrar um futuro não tão distante, que inclua a moda a partir dos direitos humanos, dos direitos da natureza. Precisamos fazer uma revolução na moda, pautada em um consumo mais consciente, que valorize a mão de obra de que costura as roupas, para que a gente passe a questionar sobre do que são feitas nossas roupas e sobre quem fez nossas roupas. A moda é tão complexa e nosso erro, talvez, seja limitá-la a roupas que estão expostas em cabides.”

É por isso que Matheus e Rejane, ela com experiência na docência tecnológica do vestuário há mais de 20 anos, preparam a oficina com aulas que mesclem a prática e a teoria. As aulas serão sobre costura, modelagem, desenho, história da moda e vão incluir discussões sobre temas sociais, de sustentabilidade e de economia criativa. Ao longo das aulas, os participantes também terão a oportunidade de produzirem peças. “Estamos muito animados para que outros projetos sobre moda possam surgir a partir do nosso, e que nos próximos editais outros projetos sejam contemplados para que se fale de moda em mais locais de Juiz de Fora”, espera Matheus.

“Continuo sempre aprendendo, reaprendendo e, principalmente, disponível e aberta para o novo. Hoje vejo que também posso plantar a sementinha da paixão pela costura e pela moda. Por meio dela, transformações reais podem acontecer. Nosso objetivo é mostrar que existem oportunidades e possibilidades de gerar renda e proporcionar uma vida digna através da arte da costura, com todos os recursos necessários para um caminho cheio de vitórias. A costura, como arte e profissão, pode ser o caminho para tantas famílias”, destaca Rejane.

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