Segunda edição da HQweek tem início nesta segunda-feira

Evento volta a discutir novas tecnologias dentro do universo dos quadrinhos, além do debate sobre a inclusão social por meio das HQs


Por Júlio Black

25/07/2021 às 07h00

Quadrinista Alice Pereira, autora da HQ “Pequenas felicidades trans”, é uma das convidadas da HQWeek (Foto: Divulgação)

Evento criado em 2020 com o objetivo de discutir o uso de novas tecnologias no universo das histórias em quadrinhos, a HQweek realiza a sua segunda edição a partir da próxima segunda-feira (26) ampliando o escopo de temas a serem debatidos. Para este ano, o encontro de artistas, estudiosos e apaixonados pela nona arte vai debater as HQs como instrumentos de inclusão social de questões raciais, femininas, indígenas, da linguagem de sinais e do movimento LGBTQIA+, entre outros grupos desfavorecidos socialmente.

O objetivo do evento é pensar essa inclusão por meio de processos mediáticos que alteram os formatos e as maneiras como as histórias em quadrinhos são produzidas, distribuídas e consumidas, modificando suas potências, organizações formais e conteúdos. Outro ponto destacado pela organização do evento é a importância de se pensar as chamadas narrativas transmídia, que incluem filmes, séries, jogos, brinquedos e merchandising, e práticas de ensino que usem as revistas em quadrinhos ou o ensino das próprias HQs, seja na teoria ou na prática.

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Toda a programação da HQweek – que vai até sexta-feira (30) – é gratuita e a inscrição pode ser feita pelo Sympla. As oficinas serão transmitidas pelo Google Meet e a competição de Fortnite pela plataforma Twithch. Já o restante da programação será transmitido pelo canal da HQweek no YouTube. Entre os convidados estão o editor Sidney Gusman (site Universo HQ e podcast “Confins do Universo), a quadrinista Alice Pereira (“Pequenas felicidades trans”) e a acadêmica e pesquisadora Lúcia Santaella, referência nos estudos de semiótica no país.

Para esta segunda edição, o Laboratório de Mídia Digital (LMD) da UFJF divide a organização com o grupo de pesquisa Computação Semiótica e Games (CSGames) da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, o Programa de Mestrado Profissional Inovação em Comunicação e Economia Criativa da Universidade Católica de Brasília (UCB), o grupo de pesquisa em Tecnologias Digitais na Educação (Tede) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e o site Raio Laser, além do apoio da Gibiteca de Curitiba, o Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi) e a editora Letraria. A programação completa está disponível em hqweek.com.br.

Referência na área de semiótica, pesquisadora e acadêmica Lúcia Santaella irá apresentar palestra na próxima quinta-feira (29) (Foto: Divulgação)

Crescimento nas inscrições

Um dos responsáveis pelo evento, Felipe Panisset destaca o crescimento da HQweek em relação ao ano passado. Se em 2020 a convenção teve cerca de 230 inscritos, este ano o total já havia ultrapassado a marca de 400 inscrições na última quarta-feira (21).

Parte desse crescimento ele credita ao fato de que, desde o início da pandemia, os fãs de quadrinhos têm apenas os eventos virtuais como referência para descobrir novos artistas e ficarem por dentro das novidades, além da internet ser, no momento, praticamente a única arena para se debater quadrinhos.

“Tenho visto também que outros eventos começaram a surgir pela facilidade do meio digital – como a HQweek, por exemplo -, além do surgimento de podcasts. O mundo virtual possibilitou que mais pessoas discutam o assunto e busquem por informação; tenho visto muitos criadores de conteúdo que se tornaram novos hubs de divulgação dos trabalhos, e acho quer facilitou para os criadores poderem se apresentar nesses eventos virtuais”, pondera, lembrando que os fãs de quadrinhos – que antes podiam esperar pelas convenções como a FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) ou a Comic Con Experience – agora se valem dos eventos virtuais para conhecerem novos artistas, linguagens e temáticas.

O jornalista e editor Sidney Gusman, do site Universo HQ, participa de uma das mesas de debate do evento (Foto: Divulgação)

Novas discussões

Sobre a decisão de discutir as HQs como meio de inclusão social dentro da proposta de debater novas tecnologias para o gênero, Felipe Panisset explica que essa foi uma demanda observada por eles na primeira edição. “Tivemos a participação de muita gente, por exemplo, que pesquisava histórias em quadrinhos para surdos, o que resultou na parceria este ano com o pessoal do grupo de pesquisa em Tecnologias Digitais na Educação da UFPR. A questão da inclusão de outros grupos nas histórias em quadrinhos vem de muito tempo, pelo menos desde o surgimento dos X-Men”, argumenta. “Então abrimos para discussão não só essas questões já esperadas, mas a inclusão social e outros universos através da transmídia.”

Quanto à inclusão de temáticas como as causas raciais, LGBTQIA+, femininas, etc. no universo dos quadrinhos nacionais, Felipe afirma que é um movimento que tem sido notado há algum tempo. “Temos observado as redes sociais desses produtores de conteúdos e vemos que é um material autobiográfico, e que os meios digitais ajudam a ampliar essas histórias. Há uma vontade pessoal cada vez maior de compartilhar essas experiências”, acredita.

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A discussão sobre inclusão social não deixa em segundo plano o objetivo primordial do evento, que são as novas tecnologias agregadas à criação de histórias em quadrinhos. Quanto a esse ponto, Felipe Panisset defende que houve um crescimento tanto na discussão quanto no interesse por se valer de novos formatos para a criação de HQs.

“A resposta da primeira edição foi uma surpresa para nós, porque seria presencial e foi um dos primeiros eventos totalmente on-line, com muita gente discutindo sobre tecnologia e que estava tateando isso. E agora vemos uma mudança robusta, com pessoas que na época estavam apenas dando provinhas dos trabalhos pela internet agora disponibilizando o conteúdo total. A comercialização melhorou muito, vemos o crescimento no interesse por outros formatos, como transformar os quadrinhos em algo próximo à animação. Os criadores estão buscando novas formas de apresentar seus trabalhos para um público cada vez mais abrangente.”

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