JF recebe mostra sobre a França em realidade aumentada

Exposição retrata patrimônio cultural e artístico francês em fotografias com intervenção de divertidas animações


Por Mauro Morais

24/04/2019 às 07h00- Atualizada 24/04/2019 às 07h24

Le Palais des Papes, em Avignon. (Foto: Edu Monteiro/Atout France/Divulgação)

Uma viagem animada tanto pode ser aquela alegre quanto a dotada de movimento. “France eMotion – Le voyage animé”, exposição em cartaz a partir desta quarta-feira, 24, no Espaço Reitoria, no Campus da UFJF, valida os dois sentidos. Existem dois planos na reunião de dípticos (duas imagens). Um é estático, proposto pelas belas fotografias a revelar uma França de diferentes tons, nuances e texturas. Outro é absolutamente divertido, colocando as imagens em movimento ao inserir um personagem que ora mergulha nos lagos, ora se esconde atrás das cortinas e ora se múltipla, num barco, com asas ou aos pulos. Em realidade aumentada, a exposição ganha outra forma quando o celular é acionado e mirado para os trabalhos artísticos. Por um aplicativo, os registros feitos por quatro fotógrafos de quatro continentes distintos – Ishola Akpo, do Benin, Edu Monteiro, do Brasil, David Schalliol, dos Estados Unidos, e Lourdes Segade, da Espanha – revelam as intervenções gráficas feitas pela dupla de artistas franceses Julie Chheng e Thomas Pons, ela responsável por desenvolver livros transmídias e aplicativos, e ele, cartunista e produtor de filmes.

Château de Chenonceau, em Val de Loire, com intervenção digital dos franceses Julie Chheng e Thomas Pons. (Foto: Ishola Akpo/Atout France/Divulgação)

O título, “France eMotion”, chama atenção para as distintas interpretações que a mostra sugere, tanto da França das emoções (émotion), quanto a França do movimento (motion) e, até mesmo, a França dos emoticons, dos novos caracteres e da nova comunicação. “As similaridades e oposições se manifestam nas escolhas das cores, dos ângulos, dos enquadramentos. Sobre os passos dos visitantes, os olhos são atraídos pela multiplicidade de ambientes e locais. Todos ilustram uma história em movimento e em perpétua transformação até as arquiteturas futuristas recentes”, aponta Muriel Enjalran, curadora da exposição. Crítica de arte e diretora do Centro Regional de Fotografia Nord-Pas-de-Calais, em Douchy-les-Mines, no Norte da França, Muriel direcionou a produção das imagens que dão conta de 35 atrações culturais, divididas em quatro rotas (Norte, Sul, Leste e Oeste), projeto realizado em parceria com a Agência de Desenvolvimento do Turismo da França, Atout France, o Institut Français e a Aliança Francesa, que recebe parte da mostra em Juiz de Fora ao lado da Pró-reitoria de Cultura da UFJF.

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Musée Fabre, em Montpellier. (Foto: Edu Monteiro/Atout France/Divulgação)

Celulares como instrumento de leitura: e a febre do selfie?

Enquanto os celulares são alvo dos debates acerca da dispersão do homem contemporâneo, “France eMotion” introduz no espaço de reflexão e contemplação os “vilões” tecnológicos. Para a efetiva fruição da mostra, é preciso que os celulares estejam entre a obra e o espectador. Com quase três décadas de carreira, o fotógrafo Edu Monteiro, gaúcho de Porto Alegre radicado no Rio de Janeiro, traz para o trabalho inquietações dessa natureza, que já resultaram em séries elogiadas como “Autorretrato sensorial”, na qual cria brutas máscaras com cigarros, corações de galinha, bichos de pelúcia, folhas secas e outros diferentes elementos, que agrupados lado a lado não permitem visualizar qualquer parte de seu rosto. “Sem dúvida, em algumas fotos para ‘France eMotion’ tem um diálogo com esses autorretratos”, reconhece. “A série ‘Saturno’ é de autorretratos também. Eu viajo sozinho, com uma máscara de espelho – que é uma ligação com a psicanálise, com o estádio do espelho, do Lacan -, mas é uma história de viagem. Vou pegando estrada, descobrindo novas rotas, lugares que de alguma maneira me marcam e me coloco numa cena fotografada, faço parte daquela situação, experimento o local de uma maneira sensorial. Isso foi um pouco do que fiz nessa viagem também. Em alguns momentos, eu criava máscaras e experimentava o local de maneira sensorial para me fotografar”, explica.

Musée d’Orsay, em Paris. (Foto: David Schalliol/Atout France/Divulgação)

Atento às narrativas que dão conta da memória pessoal, Edu elabora, na mostra coletiva, o imaginário de um grupo e de um passado histórico, central para a narrativa ocidental. “Todos os autorretratos partem de uma relação muito afetiva. Em ‘Saturno’ eu viajei por lugares da minha infância, no Rio Grande do Sul. Nessa proposta de agora, eu não tinha essa memória efetiva histórica e familiar, mas criei relações afetivas. Lugares que me causavam algum interesse e sensação me despertaram vontade de fazer autorretratos”, diz o fotógrafo, e acrescenta: “Uma coisa que me chama atenção é a própria febre do selfie, essa necessidade de autorrepresentação de hoje, que de algum modo vejo muito vazia. São autorrepresentações e não há questionamento por trás, de porque as pessoas estão se autorretratando tanto. Botando muitos autorretratos, eu tento questionar essa necessidade. Nos meus trabalhos, geralmente, não aparece o rosto, porque questiono a autorrepresentação sem o representante maior, que é o rosto.”

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MuMa (Musée d’art moderne André Malraux), em Le Havre. (Foto: David Schalliol/Atout France/Divulgação)

Se os celulares induzem à refração, na exposição enfocam outras tendências, ampliando não só os trabalhos como também o público. “Nesse sentido, foi bastante saudável inserir essas animações. Talvez elas tenham quebrado aspectos mais pesados e históricos, e deram uma cara mais lúdica à proposta. Na abertura da exposição no Rio de Janeiro, levei minha filha de 6 anos e ela adorou. Tinha crianças delirando, pegando os celulares e mergulhando na história. Esse é um aspecto muito saudável”, pontua Edu Monteiro, certo de que tecnologia e arte podem se relacionar de diferentes formas. “Tenho visto trabalhos muito fracos e também muito bons. Não é isso que vai tornar um trabalho forte. É mais um recurso que temos hoje em dia, como todos os outros. As tecnologias, em si, não são nada demais. O bom uso delas é que pode acrescentar ou não. Tecnologia é uma coisa muito ampla. Hoje em dia podemos trabalhar com uma tecnologia de ponta, como uma animação dessas ligada a um aplicativo de celular, e ao mesmo tempo podemos descobrir um novo tipo de impressão em ferro. São essas as questões que me interessam.”

FRANCE EMOTION – LE VOYAGE ANIMÉ

Visitação de segunda a sexta, das 8h às 20h, e aos sábados, das 8h às 12h. Até 24 de maio, na Galeria Espaço Reitoria (Campus UFJF)

Assista o vídeo produzido por Julie Chheng para a exposição:

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