Grupo Divulgação apresenta o espetáculo ‘S.O.S Brasil’

A peça, escrita e dirigida por José Luiz Ribeiro, fica em cartaz até 3 de dezembro, no Forum da Cultura, de quarta-feira a domingo, às 20h30


Por Júlio Black

22/11/2022 às 07h00

Divulgação
A peça “S.O.S. Brasil” foi montada em pouco mais de um mês e, de acordo com José Luiz Ribeiro, o espetáculo é uma crônica de um tempo que estamos vivendo e que ainda não acabou (Foto: Márcia Falabella/ Divulgação)

Entre os memes que mais fazem sucesso na internet está aquele em que se especula como os professores de História irão explicar, daqui a algumas décadas, tudo que aconteceu no Brasil nos últimos anos. A arte, porém, tem pressa, e o público pode assistir até 3 de dezembro, no Forum da Cultura, um retrato da história recente de nosso país em “S.O.S. Brasil”, espetáculo do Núcleo Universitário do Grupo Divulgação apresentado no Forum da Cultura, de quarta-feira a domingo, às 20h30.

Esta é a 179ª peça escrita e dirigida por um dos criadores do Divulgação, José Luiz Ribeiro, que comemorou, recentemente, 59 anos de ótimos serviços prestados ao teatro.Escrita a partir de uma sugestão dos integrantes do Núcleo Universitário, o espetáculo estreou no último dia 16 com a proposta de ser uma retrospectiva sobre os acontecimentos nacionais deste ano, usando do humor para despertar a reflexão no público. O cenário de “S.O.S. Brasil” é um país devastado pelas promessas de um falso messias, e cujo povo acreditou que a destruição das florestas iria trazer a tão sonhada prosperidade. Quando caem na real, esse povo recorre a Gaia, a Mãe Terra, e Dionísio – o deus grego do vinho e do teatro, a Poesia e a Memória são os escolhidos para ajudá-los.

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Quem também marca presença na peça é o Torto, que seria o mal que existe em todas as pessoas e apresentado como o oposto de Dionísio. Em meio a essa epopeia, surge o antigo Titanic, pintado, remodelado e rebatizado como S.O.S. Brasil, e também aparece um grupo de bandidos comandados pelo Chefe e que é integrado por figuras como o Macho Alfa.

‘A sociedade virou uma ferradura’

Segundo José Luiz Ribeiro, “S.O.S. Brasil” foi montada em pouco mais de um mês, o que se pode dizer que tem tudo a ver com o clima de urgência dos tempos que vivemos. “Escrever essa peça foi interessante porque é praticamente a crônica de um tempo que estamos vivendo e que ainda não acabou, em que a sociedade virou uma ferradura cujas pontas são iguais e antagônicas, mas um tempo em que ainda é possível respirar”, analisa.

Apesar de ter um claro tom de crítica, a peça busca, de acordo com o diretor, que “S.O.S. Brasil” tivesse um tom alegre, pois ele e o elenco acreditam que o país está emergindo de um de seus tempos mais sombrios. “Pensamos em (fazer um) teatro de revista, um gênero em que se fazia uma retrospectiva, às vezes ácida, do que aconteceu; e essa saída da pandemia necessita de uma revisão, então vamos contar essa história em que, num certo sentido, o eixo mágico é a guerra de secessão, com os sulistas contra os nordestinos, e dali desenvolvemos uma trama no melhor estilo do teatro de revista”, diz.

Nessa trama, os convocados por Gaia encontrarão, em determinado momento, o Titanic rebatizado como S.O.S. Brasil, que o diretor e dramaturgo define como “uma coisa meio surreal”, em que temos os representantes dos sulistas, os representantes dos nordestinos e os mineiros e as mineiras, que são o elemento de interligação entre Nordeste e Sul. Vamos catalogando tudo e juntando personagens-arquétipos, e então a gente vai encontrar – como no teatro de revista – as figuras folclóricas, que são o Chefe bandido – que poderia ser identificado como o nosso presidente -, os golpistas, e a partir daí se desenvolve essa trama.”

Ainda no espírito do teatro de revista, ele adianta que a peça apresenta esquetes como a “desmemoria”, em que três velhinhas completamente desmemoriadas falam sobre coisas que estão acontecendo ou não, e elas mesmas não se entendem. “Um pouco de teatro do absurdo entra aí, e justamente a Memória vai falar como essas personagens podem perder a memória”, pontua. “E a peça termina com uma coisa interessante, que é justamente o encontro de todas as bandeiras: a vermelha, a LGBTQIA+, a bandeira branca – ou bandeira de paz- e a bandeira do Brasil.”

Incongruências de um país dividido

De acordo com ele, o espetáculo tem, ainda, uma citação de Bertold Brecht sobre ascensão e queda do Terceiro Reich – um poema sobre a grande parada alemã -, que ele defende ter uma identificação enorme com os dias que estamos vivendo, “em que tem o Macho Alfa, a bonita e gostosa, o bandido que se torna pastor porque descobre a palavra. É um grande mix que a gente vai encontrar para contar essa história. O público está percebendo, e graças a Deus está funcionando”, comemora.

Além de Brecht, José Luiz Ribeiro acrescenta que o espetáculo ainda tem como referência a música “Querelas do Brasil”, de Maurício Tapajós e Aldir Blanc, que serve de mote para mostrar ao público as incongruências e a confusão de um país que se dividiu por um processo político em que – segundo o diretor – a própria bandeira foi sequestrada.

“O Maurício Tapajós frequentava minha casa desde os tempos dos festivais, e a partir disso ficamos muito amigos. A música dele é muito rica. ‘Querelas do Brasil’, que a Elis Regina imortalizou com sua interpretação. Um dos versos da música é ‘O Brazil não conhece o Brasil’, e por isso o Titanic vai sair do fundo do mar pra ver se consegue integrar esse Brasil.”

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E, quando menos se espera, chegam os 60

“S.O.S. Brasil” é o 179º espetáculo escrito por José Luiz Ribeiro em 59 anos de carreira – sendo 56 com o Grupo divulgação -, dentre os mais de 200 projetos desenvolvidos nesse período. Ela já chegou, aliás, à marca de 180 peças escritas com “O quinteto”, que estreou este mês com o Núcleo de Adolescentes, e a 181ª será “Honras e fanfarras”, com o Núcleo da Terceira Idade. Parar, definitivamente, não está em seus planos.

“Isso aí é uma coisa que a gente desce ladeira abaixo; a gente entra em compulsão, como se fosse andar de bicicleta, que se parar de pedalar a gente cai e machuca”, afirma o diretor, que encerra falando sobre o que pode acontecer em 2023, quando completa seis décadas dedicadas ao teatro. “Os 60 anos chegaram sem eu notar, porque eu descobri que estava velho só depois da pandemia (risos). Não tinha parado para pensar nisso.”

 

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