Tânia Bicalho comemora 20 anos de “VIOLAzz”
Artista fala sobre seu projeto Música Popular Nutritiva, que une música e nutrição
Era uma tarde de inverno no fim dos anos 2000. O sol reluzia a vitrine de uma antiga loja de instrumentos usados, localizada na parte baixa da Rua Marechal Deodoro, região central de Juiz de Fora. Tânia Bicalho caminhava pela rua quando uma viola de dez cordas chamou sua atenção. “Comprei, levei pra casa e no mesmo dia comecei a tirar um som diferente.” O improviso se tratava da combinação entre viola, bossa e jazz, que, mais tarde, resultou no seu primeiro álbum, o “VIOLAzz”. Neste ano, o disco completa 20 anos de lançamento.
O CD de dez faixas, entre elas “Tela” e “Nosso blues”, concorreu ao Prêmio da Música Brasileira, ao lado de referências da MPB, como Gilberto Gil e Milton Nascimento. Em todas as canções, além de cantar, Tânia toca diversos instrumentos.
Tânia cresceu em um ambiente musical. Sobrinha de Duque Bicalho – um dos autores do Hino de Juiz de Fora – , desde criança teve contato com violão, piano e flauta. Foi criada por suas três tias, Nilda, Santuzza e Nialva, que era professora de piano. “Eu brincava em vários cômodos da casa e escutava as aulas dela que inundavam a Rua Padre Café de música.” Quando tinha 4 anos, ela conta que suas tias colocaram um violão imenso em seu colo. A partir daí vieram as apresentações, tocando o mesmo violão e cantando, no teatro de sua escola. “De lá pra cá, nunca me separei da música.”
A carreira de Tânia Bicalho começou em 1987, compondo e cantando sambas de enredo para escolas de samba de Juiz de Fora. “Vi centenas de pessoas, na Avenida Rio Branco, de pé, dançando e cantando meus sambas – uma das maiores emoções da minha vida.” No mesmo ano, compôs trilhas sonoras para peças de teatro e logo em seguida, nos anos 90, foi cantora da Orquestra de Jazz Pró-Música.
MPN: multigênero de uma multi-instrumentista
Em meio a tantos ritmos e cantos, Tânia sentiu a necessidade de criar um estilo próprio, que misturasse seus gostos e transmitisse sua essência. Foi pensando em reunir suas experiências musicais com as pesquisas que realizou na área da nutrição que surgiu a ideia de trabalhar com o que batizou de Música Popular Nutritiva (MPN).
“Se você me perguntar qual meu estilo atual, te digo que é a MPN, porque é uma síntese musical de tudo que já compus, cantei e toquei. É o gênero musical que criei para eu não precisar escolher um estilo preferido, pois com Música Popular Nutritiva posso ‘brincar’ com qualquer estilo musical: do tango ao bolero, do samba à valsa…”
O objetivo da MPN é passar informações com embasamento científico para incentivar crianças e adultos a consumirem uma alimentação saudável. A multi-instrumentista se aventura em diferentes gêneros para produzir suas canções, como, por exemplo, samba, bolero, funk e MPB. Em 2011 lançou o CD independente “MPN – Música Popular Nutritiva”. “Eu queria cantar outras coisas, falar de outras tantas e a MPN me deu e me dá essa possibilidade. Através dela faço promoção da saúde e popularizo ciência”, afirma a compositora.
GastronoMúsica
Aos 56 anos, Tânica Bicalho se divide entre duas profissões: professora e musicista. “Professora por formação e musicista para (in)formação.” Para comemorar os 20 anos de “VIOLAzz”, ela lançou, em março deste ano, em seu canal do YouTube, um LP virtual com o apoio da Lei Aldir Blanc. O “GastronoMúsica” mistura suas duas paixões: MPB e MPN. Além de reunir algumas faixas dos seus outros álbuns – “VIOLAzz” (2001), “Tânia Bicalho” (2002), “Mãos brasileiras” (2008) e “Música Popular Nutritiva” (2011) – que marcaram sua carreira, o projeto também conta com uma canção inédita. O samba-enredo “Salada de frutas” relembra os tempos em que cantava nas rodas de samba juiz-foranas.
A celebração é dedicada a suas tias, que sempre a incentivaram a seguir pelos caminhos sonoros. “Eu passava horas batucando o piano quando tinha uns 5 anos e elas nunca reclamavam. Através daquelas notas desconexas e estranhas que eu produzia, pude experienciar e experimentar o sabor dos sons. Esse foi o meu chão e é minha raiz.”