Outdoors da revolta: ‘Três anúncios para um crime’ estreia em JF

Indicado em seis categorias do Oscar, filme impactante mistura ódio, preconceito e desejo de vingança


Por Júlio Black

22/02/2018 às 07h00- Atualizada 22/02/2018 às 07h39

Tomada por dor e revolta, personagem de Frances McDormand parte para o ataque contra a polícia; atriz pode ganhar seu segundo Oscar (Foto: Divulgação)

O diretor inglês Martin McDonagh viaja pelos Estados Unidos anos atrás quando se deparou com anúncios em outdoors de beira de estrada que denunciavam um crime não solucionado. A visão, tão surpreendente quanto impactante, ficou na cabeça do cineasta por tempo suficiente para bolar a trama de “Três anúncios para um crime”, drama que estreou no Brasil semana passada e que chega a Juiz de Fora nesta quinta-feira.

A produção é considerada a grande “rival” de “A forma da água” no Oscar e teve sete indicações em seis categorias: melhor filme, roteiro original, atriz (Frances McDormand, que deve levar sua segunda estatueta), ator coadjuvante (Woody Harrelson e o favorito Sam Rockwell), edição e trilha sonora original. O longa já faturou quatro prêmios no Globo de Ouro (melhor filme em drama, atriz, ator coadjuvante para Sam Rockwell e roteiro) e outros cinco no inglês Bafta (filme, roteiro original, atriz, ator coadjuvante e melhor filme britânico).

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A partir desse fragmento inusitado do passado, Martin McDonagh cria uma trama em que elementos como ira, ódio, desejo de vingança, racismo, machismo, homofobia, espetacularização da notícia e luto desembocam em uma cadeia de ações que provocam reações e efeitos que extrapolam, muitas vezes, os objetivos dos personagens – em especial a da protagonista, Mildred Hayes (Frances McDormand). Ela é uma figura desagradável, durona, desbocada e avessa à autoridade que vive na fictícia cidade de Ebbing, no Missouri (estado sulista em que o racismo dita o tom de muitas relações). Mas é, acima de tudo, uma mãe devastada pelo estupro e morte de sua filha e revoltada por a polícia local, passado quase um ano do crime, não ter sequer ideia de quem possa ter cometido a atrocidade.

Sua decisão sobre como chamar a atenção para a situação é que dá o start para a sequência de conflitos do filme. Ela aluga três outdoors perto de sua casa, numa estrada pouco utilizada, em que cobra da polícia o que considera um descaso, uma negligência em relação à morte da filha. Não demora para a população e uma emissora de TV local ficarem sabendo do protesto, e Mildred logo se vê com praticamente toda uma cidade contra si, que toma partido do xerife interpretado por Woody Harrelson. O seu principal antagonista no conflito é um policial (papel de Sam Rockwell) racista, homofóbico, misógino e preguiçoso, que acredita que qualquer questão possa ser resolvida na base da violência ou intimidação.

Ações e reações

(Foto: Divulgação)

Irredutível em não retirar os outdoors contra o xerife que conta com a empatia dos moradores, Mildred é movida por decisões que geram reações igualmente duras por parte de outros personagens, o que cria a situação de que logo chegará o momento em que uma das partes irá queimar as pontes de um improvável diálogo a qualquer momento. McDonagh, porém, prefere fugir do momento catártico, no máximo ensaiando um plot twist que nunca chega – o que pode decepcionar alguns, pois o diretor inglês prefere fazer um filme sobre os conflitos gerados por uma dor infinita do que transformar “Três anúncios…” em mero drama de investigação policial.

O longa, porém, não funcionaria sem a acertada escolha do elenco. Frances McDormand, que já conquistou o Oscar de melhor atriz por “Fargo”, tem atuação arrebatadora como a intragável e ferida Mildred Hayes e é considerada pule de dez para receber sua segunda estatueta, apesar da concorrência de Sally Hawkins (“A forma da água”) e Meryl Streep (“The Post: A guerra secreta”). O mesmo vale para Sam Rockwell, ainda que o próprio Woody Harrelson tenha brilhado no longa.

Ao juntar todos esses elementos, Martin McDonagh faz de “Três anúncios para um crime” um drama em que o luto, a dor da perda, estão sempre presentes, mas que acabam por servir de combustível para uma sequência de eventos que pode mudar de forma irreversível a vida dos envolvidos.

Três anúncios para um crime
UCI 1 (leg): 16h10 (todos os dias), 21h30 (exceto sab), 22h30 (sab). Cinemais Jardim Norte 5 (leg): 15h20, 19h10, 21h30. Classificação: 16 anos

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