Museu Mariano Procópio restaura peças dos séculos XVIII e XIX

Trabalho deve durar seis meses e conta com investimento de pouco mais de R$ 100 mil


Por Júlio Black

20/04/2021 às 07h00- Atualizada 20/04/2021 às 07h36

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Aloysio de Paula Gerheim trabalha na restauração de dicionário do século XIX (Foto: Divulgação)

O Museu Mariano Procópio ainda segue com o futuro indefinido quando o assunto é a indicação do próximo diretor-superintendente da Fundação Museu Mariano Procópio (Mapro). A Prefeitura demonstra intenção de tomar para si a competência de indicar diretamente o titular da função, que por anos tem sido apenas referendada pelo Governo municipal após indicação do Conselho dos Amigos, após votação por meio de lista tríplice. Entretanto, a instituição segue com uma série de atividades para conservar, restaurar e preservar seu acervo, que conta com milhares de itens das mais variadas origens.
Uma das ações recentes mais importantes é o restauro de 17 peças do acervo de arte sacra, datadas dos séculos XVIII e XIX, sendo dez oratórios e nove lanternas de procissão. O trabalho, iniciado em janeiro, deve durar um total de seis meses e tem investimento de pouco mais de R$ 100 mil, obtidos por meio de emenda parlamentar e com intermédio do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O serviço tem sido realizado por uma empresa de São João del-Rei, vencedora da licitação. Entre os serviços estão os de limpeza geral, remoção de camadas de repintura, fixação de pintura em descolamento, contenção de rachaduras, aplicação de verniz protetor, entre outras, além de relatório técnico e documentação fotográfica.

Sem descaracterizar
Segundo o conservador e restaurador Aloysio de Paula Gerheim, esse tipo de serviço é necessário tanto pelos cuidados de manutenção quanto pelo desgaste já existente das peças, e também aqueles que são impossíveis de se controlar devido à própria passagem do tempo. Nesse processo, é preciso ainda fazer o resgate dos registros de oratórios antigos para se ter noção de como eram as peças originalmente.
“Existem fatores de agravação que estavam lá há muitos anos, e há também a degradação natural com o passar do tempo, o que altera o acervo. Também temos a questão do manuseio, por terem estado em exposição, variações de temperatura, umidade e alguns danos que estavam lá feitos por insetos xilófagos”, explica Aloysio.
Atualmente, o restaurador tem trabalhado na recuperação dos quatro volumes de um dicionário da língua portuguesa datado de 1859, que até recentemente não havia passado por nenhum processo de restauração, e que facilitará seu acesso por parte dos pesquisadores após sua conclusão.
“Eles estavam com a encadernação fragilizada, passaram por ataque de insetos, a cola oxidou, sofreram alguns rasgos”, enumera. “Então fizemos uma nova encadernação, fizemos a higienização para tirar a sujidade e qualquer partícula que possa provocar qualquer tipo de degradação. No final fazemos o acondicionamento técnico para conservar a obra.” No caso do dicionário, Aloysio aponta que ele é fundamental para que os pesquisadores possam consultá-lo a fim de encontrar termos que eram usados na época e, assim, entender documentos onde eram utilizados.

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Museu realiza desde o início do ano a restauração de 17 peças do acervo de arte sacra da instituição (Foto: Divulgação)

De acordo com os protocolos

Contando com peças que possuem mais de 200 anos, o Museu Mariano Procópio segue os protocolos internacionais de técnicas e materiais utilizados para conservação e restauro, que são bem específicos. Este é, aliás, um trabalho constante por parte dos técnicos, em que o diálogo entre as diversas áreas torna-se essencial para descobrir quais as ações mais urgentes.
Aloysio explica, ainda, que o trabalho se desdobra em três áreas, basicamente. “Uma delas é a conservação preventiva, que é o que fazemos diariamente. Significa cuidar do entorno onde as obras estão inseridas, vermos se houve alguma degradação por luminosidade, infiltração, sujidade, algum lugar que pode estar acumulando água de chuva. Tentamos favorecer a circulação de ar para reduzir índices de umidade e temperatura em alguns casos.”
Outra etapa é a conservação curativa, trabalho preventivo que também serve para estabilizar objetos que apresentem alguma fragilidade e cujo dano não seja significativo. “Muitas vezes os pesquisadores que estão lidando com as peças do acervo nos avisam dessa necessidade”, destaca, lembrando que muitas vezes é preciso fazer pequenos reparos em peças que irão para exposições.
Por fim, existe a fase mais crítica, a da restauração, quando é preciso fazer uma intervenção física e/ou química, incluindo procedimentos como limpeza com trincha e borracha, banho de higienização, recomposição de lombadas de livros e outras ações. “É preciso inserir materiais ou até mesmo alterar alguns objetos. Pode ser um verniz muito oxidado, por exemplo, que você remove porque interfere a visualização da obra. O objetivo é dar estabilidade física e recuperação mecânica e estética da peça”, explica.

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Funcionários produzem caixas com materiais especiais para acondicionar peças mais relevantes ou delicadas (Foto: Divulgação)

Nas caixinhas
Após todas essas ações de preservação, os funcionários do Mariano Procópio também desenvolveram as embalagens especiais de acondicionamento técnico, que utilizam diferentes técnicas e materiais para proteger livros, fotografias, coleções minerais e armarias, entre outras. “Como os materiais da caixa são específicos e têm um custo, fazemos a seleção do material que vai receber esse tipo de proteção. Entre eles estão as peças mais relevantes do acervo ou que tenham fragilidade mecânica, e que por isso são colocados no acondicionamento para ter uma estabilidade. Também conversamos entre os setores para saber quais peças têm mais necessidade dessa proteção. Os pesquisadores que procuram determinadas obras também indicam quais estão mais fragilizadas, o que nos faz buscar fazer a restauração e/ou estabilização desses objetos para acondicionar nas caixas, permitindo o posterior acesso.”

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