Um trio que trabalha para publicar escritores desconhecidos na Revista Oblívio

Em atividade desde 2016, a revista reúne produção literária de escritores fora do radar


Por Júlio Black

19/07/2017 às 07h00- Atualizada 19/07/2017 às 16h45

Giovani, Daniele e Felipe integram a equipe da “Revista Oblívio”, que incentiva a divulgação da produção literária local. Foto: Marcelo Ribeiro

Está lá no dicionário: “oblívio” significa “ação ou efeito de esquecer; perda de memória; esquecimento”. Ou, no sentido figurado, “condição do que ou de quem se encontra em repouso; descanso ou adormecimento”. Pois foi com o objetivo de se contradizer já a partir do nome do projeto que um grupo de escritores radicados em Juiz de Fora resolveu arregaçar as mangas e colocar – primeiramente na internet, depois no papel – a “Revista Oblívio”, publicação que abre espaço para escritores novos ou ainda desconhecidos que precisavam apenas de espaço e incentivo para mostrarem o que têm a dizer. Não à toa, a publicação tem o subtítulo “Invisíveis, porem presentes”.

O desejo de mostrar que existe toda uma variedade de artistas fora do radar literário juiz-forano foi o que motivou os amigos Felipe Duque e Thiago da Silva Camilo, mais Raul Furiatti Moreira, a criar a “Revista Oblívio” como uma página no Facebook em fevereiro de 2016, publicando pelo menos três textos por semana entre poesias e contos. Com o tempo, mais três nomes se juntaram à empreitada: Giovani Verazzani, Danielle Lima e, mais recentemente, Henrique Perissinotto.

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“Nossa ideia é procurar a produção autoral, não importa o viés, o tema ou estilo”, explica Giovani Verazzani. “Fomos convidando outras pessoas e já temos, no total, 24 autores participando da revista, além da parceria com a turma do Pergaminho Virtual, formado por estudantes da UFJF e com quem compartilhamos material.”

A página no Facebook, porém, não era vista como suficiente para o grupo, que decidiu criar um blog (revistaoblivio.wordpress.com) com textos mais longos, deixando aqueles mais curtos para a rede social, e que viu a necessidade de divulgar o trabalho por meio da matéria primordial da prosa e o verso: o papel. Foi assim que surgiu, em junho do mesmo ano, a versão impressa da “Oblívio”, inicialmente uma folha no formato A4 trabalhada para funcionar como uma revista de bolso.

A ideia funcionou melhor do que imaginavam. “Nós fomos à Flirn (Feira Literária de Rio Novo) em agosto para divulgar nosso trabalho, e a Cris Gama, da Editar Editora, gostou do projeto, nos convidou para uma reunião e propôs investir na revista”, conta Giovani. Desde outubro, a “Revista Oblívio” passou a ter oito páginas e tiragem de 300 exemplares, que são distribuídos mensalmente em lugares como CasAbsurda, Planet, Livraria Flamingo, Espaço Excalibur, Praça CEU, alguns pontos da UFJF e nos eventos para os quais são convidados, como o Eco Performances Poéticas. Cada edição conta com três escritores/poetas convidados, cada um recebendo 20 exemplares para distribuir. “Esse novo formato ajuda a dar mais visibilidade para os trabalhos.”

Apoio à diversidade

Segundo outro integrante do grupo, Felipe Duque, a “Oblívio” não trabalha apenas com literatura ou poesia, com espaço também para textos culturais ou informativos. É o caso de Danielle Lima, especialista em vigilância sanitária e que publica todo mês a coluna #danicomplica no site do projeto. “Nunca tinha pensado em escrever, mas a repercussão da primeira coluna foi boa. A segunda demorou mais para sair, pois era sobre ciúmes, e eu estava com ciúmes na época (risos). Fiquei até sem almoçar pensando em como preparar a coluna, mas agora está mais tranquilo.”

A diversidade de estilos ajuda a aumentar a variedade de autores presentes na revista e no Facebook. De acordo com Felipe, há escritores de várias classes sociais e econômicas, profissões, faixas etárias e com variedade de nível educacional ou gênero. “Isso deixa os trabalhos diversificados. Todo mês procuramos ter novos autores, que acabam por ser incentivados a produzir. Estamos sempre recebendo trabalhos de gente interessada em ter os textos publicados no Facebook e na revista, pessoas que nunca tiveram a oportunidade de divulgar sua produção”, diz.

O escritor convidado para cada edição deve enviar pelo menos quatro trabalhos, que serão avaliados pelo grupo para eleger os melhores. “Analisamos com muito carinho, afinal já estivemos do outro lado. Nosso objetivo é ter critério, fazer uma curadoria mesmo.” Com isso, além dos textos locais, a “Oblívio” já publicou na revista ou Facebook trabalhos de autores de cidades como São João Nepomuceno, Vitória (ES) e Valença (RJ), além de ter seguidores de várias partes do país.

Além da literatura

A “Oblívio” também está interessada em abrir espaço no Facebook para os trabalhos de fotógrafos, ilustradores e designers gráficos que, assim como tantos escritores, têm o que eles chamam de “trabalhos guardados nas gavetas”. Mas este é só um dos passos que o projeto espera levar à frente no futuro, incluindo aumentar a tiragem da revista, seu formato e realizar um evento próprio, que deve ser na CasAbsurda. “Temos um projeto de audiovisual em desenvolvimento, com entrevistas, poesias e a transformação de contos em curtas”, adianta Felipe Duque.

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Eles também já articulam a publicação de dois livros de antologias com poesias e contos escritos para a “Oblívio”, projeto ainda no estágio inicial e que querem que chegue ao público pelo preço mais acessível possível. Antes, porém, Giovani, Raul, Felipe, Henrique e Tiago vão participar de uma antologia poética que a Editar Editora vai lançar em outubro, que também terá poesias de outros 13 artistas que já marcaram presença na revista e no site.

“Estamos pensando estruturalmente. A revista cresceu mais do que imaginávamos, afinal era para ser apenas um coletivo. Estamos definindo as tarefas dentro do nosso núcleo. Para crescer temos que pensar como empresa, até para podermos financiar nossas próprias antologias. Queremos nos tornar referência em literatura na cidade, mas tudo com calma.”

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