Onde está seu refúgio? Tribuna discute assunto em série

Um colo, um livro, o próprio quarto, um país seguro. Tribuna inicia série de reportagens na qual retrata o termo em diferentes aspectos, partindo da questão dos refugiados que escolheram refazer suas vidas em Juiz de Fora


Por Mauro Morais

19/01/2020 às 07h00- Atualizada 20/01/2020 às 17h16

As bombas estouravam cada vez mais perto. Acordavam a casa, a rua e o bairro. O medo era uma sombra que crescia dia após dia e só prenunciava o breu. A pequena Joelle, de 7 anos, e a irmã Elina, 5, temiam a morte quando, delas, o que se esperava era apenas vida. Havia três pontos onde estourava a guerra, todos muito próximos, conta Hussam Yacoub, 37, pai das meninas. Nascido em Tartus, onde fica o segundo maior porto do litoral sírio, Hussam viu a guerra levar-lhe amigos e um tio. Na cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, ele tinha uma lavanderia e complementava a renda como taxista. A esposa, Razan, 36, com quem namorou por oito anos e se casou em 2010, formou-se em administração e trabalhava num hotel. A família morava de aluguel, com conforto e tranquilidade, e almoçava fora todos os domingos. “Não tinha problemas e havia trabalho”, conta o homem. Com a guerra na Síria, o custo de vida subiu e era preciso trabalhar mais de 16 horas para conseguir manter o padrão de vida. Em abril do ano passado o Brasil serviu de refúgio para os Yacoub, que durante um mês viveram no Rio de Janeiro, pulando de hotel em hotel, de trabalho em trabalho. Na Síria, havia conversado com uma conhecida, pediu-lhe indicação de lugar para morar e ela apontou Juiz de Fora. A folha do calendário exibia os dias de maio quando a família chegou à cidade. Um tio de Hussam radicado nos Estados Unidos alugou-lhe um apartamento em São Mateus e pagou os seis primeiros meses. O valor, no entanto, era inviável para os recém-chegados, cuja única língua era o árabe. Prestes a renovarem o contrato, encontraram uma nova residência, onde Razan faz doces e salgados sírios. Com um carrinho de metal, Hussam sai pelas ruas a vender. Pouco a pouco a língua vai deixando de ser abismo para se tornar ponte. Continue lendo esta reportagem aqui

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