Paixão por reconstituir trajes históricos
A pesquisadora Elena Meunier visitou o Museu Mariano Procópio, buscando inspiração para bordar novas vestimentas
Elena Meunier é russa, casada com um francês e, atualmente, mora no Brasil. Em meio a essas mudanças, encontrou uma paixão – a reconstituição histórica de trajes antigos, principalmente do século XX e XIX. Foi há 9 anos, quando foi a um baile típico e procurou por roupas assim, que se deparou com um bordado que chamou especialmente a sua atenção, e a partir disso passou a estudar essa arte e se aprofundar na área. Hoje, cria réplicas das roupas o mais próximo possível das originais, fazendo um longo trabalho de pesquisa seja onde for. Recentemente, inclusive, esteve no Museu Mariano Procópio em busca dessas inspirações.
Para ela, o gosto nasceu pelo encanto na elegância do passado, pela beleza dos grandes bailes em lugares históricos excepcionais e parte dessa cultura. A empresa que ela tem, Voyage au 19ème siècle (Viagem ao século XIX), surgiu a partir dessa vontade de confeccionar roupas e compartilhar esse processo com as pessoas, deixando vivo um patrimônio cultural muitas vezes destinado somente aos museus. Hoje, além de disponibilizar as roupas para aluguel, também continua participando dos bailes para ter inspiração para os seus trabalhos, e até organiza alguns. “Eu tenho a chance de compartilhar essa paixão com meu marido e nossos quatro filhos”, conta.
O processo de produção das réplicas é bastante detalhista, já que ela tenta se aproximar ao máximo dos modelos escolhidos: “Para fazer isso, é muito importante ver os originais, trajes históricos, quadros, desenhos, gravuras”, explica. Todo esse trabalho ajuda a guiar o seu trabalho e facilita que o processo fique realmente fidedigno, já que há detalhes que se tornam bem mais visíveis a partir desse contato mais próximo. Como nem sempre é possível fazer essas visitas, ela, muitas vezes, desenvolve seu trabalho a partir de retratos, mas explica que não é a mesma coisa. “É muito difícil criar bordados e roupas a partir de retratos, embora eu tenha costurado muitos trajes dessa maneira”, diz. A ideia de criar um figurino, no entanto, costuma aparecer dependendo do evento planejado e dos retratos ou vestidos antigos de que ela mais gostou.
O que a motivou conhecer o Museu Mariano Procópio foi justamente isso, já que lá há uma vasta coleção de pertences que a ajudam em suas descobertas. “A coleção do museu é única. Tive a grande honra de ver tesouros como os pertences de Pedro II e das damas da corte e de bravos cavaleiros”, diz. A visita já fez com que ela criasse novos planos, inclusive pensando, em um futuro próximo, em costurar um vestido de dama da corte com uma réplica do bordado que viu no museu.
Processo de costura
O processo de costura é bastante cuidadoso, ainda mais porque ela faz uma curadoria dos tecidos e dos materiais que vai utilizar, pois também visa replicar os processos utilizados na época. “Uso tecidos naturais como seda, lã, algodão e linho. Para bordados, fios dourados e cannetille de produção francesa”, explica. Muitos desses materiais são difíceis de encontrar, mas necessários para que os trajes tenham a delicadeza e a beleza que ela procura, sendo também um processo bastante artesanal.
Há casos em que usa até mesmo ouro para conseguir o resultado que quer, e mistura a sua produção com algumas poucas peças que adquiriu em locais especializados nessa conservação durante viagens. O que busca através do “Voyage au 19ème siècle” é, a partir disso, ter um espaço de criação e aluguel de vestidos históricos autênticos, organização de eventos e workshops.
“Testemunhas de seu tempo”
Os figurinos geralmente são destinados a pessoas interessadas em reconstituição histórica, que gostam de visitar eventos históricos ou queiram fazer um filme que exija essa produção, assim como museus que organizam exposições de trajes e acessórios do século XIX. Mas o seu fascínio por esse tipo de trabalho não se estende apenas aos apreciadores desse tempo, mas a todos que tenham algum interesse por esses outros momentos da história. “Todos os objetos culturais e históricos são testemunhas de seu tempo. Só eles podem contar a sua história à geração mais jovem, despertando assim um sentido de identidade nacional, de amor pelo país e respeito por nossa história e cultura”, diz.
Para ela, os trajes históricos são importantíssimos para a compreensão de certas etapas e até para que as pessoas mantenham, em algum nível, uma conexão com o próprio passado. “A moda evoluiu tão rápido quanto as mudanças políticas da época. Isso mostra a importância que trago para o estudo de cada figurino de minha criação”, reflete.