Política cultural: Festival Pólen aponta direções
Primeira edição de evento multidisciplinar com seis dias de duração indica caminhos e questões para as políticas culturais locais
Do teatro ao grafite, do slam ao patrimônio, da literatura ao circo, muitas pontes foram criadas ao longo dos seis dias do Pólen – Movimento de Intercâmbio Cultural, promovido pela Funalfa na última semana. O evento que se passou entre os dias 12 e 17 deste mês, ocupou os principais equipamentos culturais da região central da cidade com uma programação tão variada quanto inclusiva. Ao longo da semana colocou-se em debate temas como feminismo, ativismo trans, negritude, funk e patrimônio. Segundo o diretor geral da Funalfa, Zezinho Mancini, o saldo é positivo. “A partir do Pólen, quero tentar compreender o hábito de consumo de cultura do juiz-forano”, pontua, garantindo o fôlego do projeto. “O plano é esse. Meu bloquinho de notas se chama Pólen 2020. Há uma pretensão de fazer esse evento ano que vem.”
Agrupando variadas linguagens artísticas, o evento ocupa o vazio deixado pela ausência de festivais como o do teatro. “O ideal seria poder ter o Pólen e mostras de outras áreas, mas diante da atual circunstância esse (o Pólen) já é um bom passo, inclusive de democracia, podendo ter todas as áreas contempladas nesse evento. Torcendo numa melhora na condição financeira da Prefeitura de Juiz de Fora, o que não depende só daqui, seria possível retomar os eventos grandes”, reconhece Mancini, citando o sintomático fato de, pelo segundo ano, o projeto Foto, com exposições fotográficas, ter sido assimilado pela classe artística, no caso, o coletivo JF Fotográfico. “O movimento coletivo é fundamental dentro da cultura. Esperar que o Poder Público vá salvar é um pouco utópico. É importante que os artistas se reúnam e promovam políticas de cultura e cobrem o Poder Público.”
Ainda sem um levantamento oficial de público, o evento que distribuiu R$ 200 mil em cachê para artistas locais ajuda a refletir sobre o cenário cultural juiz-forano, garante o diretor geral da Funalfa. “A música acabou mais contemplada, em função do tipo de evento. Não é simples fazer teatro na rua. Ao mesmo tempo, tivemos o circo que reuniu artistas de lugares diferentes”, exemplifica. “Pensando na Lei Murilo Mendes hoje a música demanda mais que as outras áreas. Isso significa que se tivéssemos investido mais em circo teríamos uma maior demanda do circo? Esse é um dado que ainda não temos”, comenta Mancini. “A intenção e o resultado final foi equilibrado. As discussões que a gente pode levantar no evento foram muito importantes. Conseguimos abrir um canal de discussão e de liberdade.”
Pluralidade
Enquanto espaços como o Parque Halfeld vivenciaram momentos de grandes plateias, como na tarde do sábado, durante o Mercado Aberto, com shows de Clara Castro, Laura Januzzi, Tatá Chama e as Inflamáveis e Matilda, em outros eventos o público não se apresentou tão grande. “Tive para mim que esse formato é bastante adequado”, diz Mancini, referindo-se ao modelo de reunir serviços e atrações. A data também é outro ponto em análise. “Não acho que o feriado por si só possa ser considerado como negativo”, questiona o diretor geral, ponderando se o final de semana prolongado tem caráter convidativo, para que o público “maratone” o evento. “Tentamos fazer um evento abarcando o feriado. Precisamos compreender melhor o interesse das pessoas pelas atividades culturais. Nas anotações que fiz tem essa questão de como atrair o público”, diz.
De acordo com Zezinho Mancini, desde 2017, o projeto é debatido na Funalfa. “A princípio a ideia era um novo evento que fosse multidisciplinar. Para que a gente pudesse fomentar todas as áreas a ideia da gestão era fazer um evento maior abraçando mais áreas da cultura. Nesse sentido, imagino que tenha sido algo de muito sucesso. Foi um evento, de fato, muito plural. Acho que a gente conseguiu abarcar uma boa parte da classe artística da cidade, inclusive uma pouco destacada como é o caso do hip-hop”, comemora.