Exposição ‘Arte do tempo: o relógio na decoração de interiores’ em cartaz na Galeria Maria Amália

Peças do acervo do Museu Mariano Procópio podem ser conferidas de terça a sexta-feira


Por Júlio Black

18/09/2018 às 18h29

Tempos difíceis são os tempos que vivemos. Até porque é difícil ter tempo, conciliar o tempo, refletir sobre o tempo. Tudo é muito corrido, urgente, para ontem. O tempo e seus grilhões nos cercam, nos prendem, frente a tantos compromissos impostos e que nos impomos no cotidiano. É emprego, estudo, supermercado, cuidar de filho, assistir a seriado, encontrar amigos, fuçar nas redes sociais, respostas tão imediatas exigidas o tempo todo, que nossa vida acaba num eterno fast forward. E o tempo está por todos os lados nos cobrando essa urgência em moto-contínuo, seja no relógio de pulso, no celular, na tela do computador, relógios de parede, nos relógios digitais de rua. Ter tempo é status.

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Foto: Leonardo Costa

Mas houve tempo em que o tempo corria mais “devagar”, que os compromissos e distrações não eram tantos. Sob alguns aspectos, tempos mais simples, pois não havia computador, relógio de pulso, relógio digital nas ruas, celular. O tempo, aliás, muitas vezes era marcado pelo apito da fábrica, do trem na estação, o sino da igreja. Os mais abastados costumavam ter, geralmente, apenas um único relógio em toda casa, que marcava o passar das horas quase de forma preguiçosa. E não era um relógio qualquer, dependendo das posses da pessoa. Eram pequenas obras de arte em metal, mármore, porcelana e madeira, e parte dessas relíquias de um tempo que parece tão distante está na exposição “Arte do tempo: O relógio na decoração de interiores”, aberta esta semana no Museu Mariano Procópio como uma das atrações do projeto Primavera de Museus.

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No total, são 21 relógios que devem ficar expostos pelos próximos seis meses na galeria Maria Amália, a maior parte deles há décadas sem ser vistos pelo grande público. A maioria dos relógios foi fabricada no século XIX, mas é possível encontrar peças do início do século XX e também do século XVII. Parte da coleção, que faz parte do acervo do museu, já pertencia a Mariano Procópio Ferreira Lage e foi completada posteriormente por seu filho, Alfredo, por meio de leilões, compras e doações. Muitas das peças são ligadas ao decorativismo, compondo um conjunto que poderia incluir, por exemplo, castiçais.

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Conjunto de relógio e castiçal do século XVIII, que pertenceu a Dom Pedro II, é um dos destaques da exposição (Foto: Leonardo Costa)

Raridades do século XVIII

São vários destaques na coleção, que conta com relógios produzidos na França, Inglaterra e Estados Unidos. Dentre eles, estão dois que pertenceram à família real brasileira e ficavam no antigo Palácio de São Cristóvão — o mesmo que virou o Museu Nacional, destruído em um incêndio no último dia 2. Um, de madeira (também conhecido como relógio de pé), pertenceu a Dom Pedro I e tem o seu monograma e o da imperatriz Leopoldina; outro, em metal e porcelana, foi feito no século XVIII e era de Dom Pedro II. Ambos foram comprados por Alfredo Ferreira Lage após o golpe militar que provocou a queda do Império, uma forma de manter os laços da família com a casa imperial e também preservar a memória do período. Também merecem destaque um conjunto que pertenceu à baronesa de São Joaquim (do século XVIII), um relógio de parede doado pela família Halfeld e outros três que ficavam na mansão dos Ferreira Lage, incluindo aquele que ficava no escritório de Mariano Procópio, de Raingo Frères.

“O Alfredo montou uma coleção com relógios de vários tipos, sejam eles de pé, mesa ou parede”, explica o auxiliar de conservação e restauração Eduardo de Paula Machado. “Eram produzidos em vários metais, como bronze (conhecido à época também como metal dourado), porcelana pintada, madeira. Muitos tinham em seu acabamento figuras mitológicas ou referências à música, a maioria com inspiração na arte palaciana francesa do século XVIII. O da baronesa de São Joaquim, por exemplo, é no estilo Luís XVI.
O historiador Sérgio Augusto Vicente lembra ainda que a relojoaria da época era influenciada principalmente pelo que era feito na França e Inglaterra. “Os franceses tinham uma preocupação maior com a estética, enquanto os ingleses estavam mais ligados ao funcionamento e à precisão de seus relógios, eram mais práticos.”

União entre escultura e máquina

Para o diretor do Mariano Procópio, Antônio Carlos Duarte, o acervo em exposição é demonstrativo não apenas do ecletismo de Alfredo Ferreira Lage quanto à sua coleção, que inclui, entre outras, pinturas, esculturas, fotografias e mobiliário, mas também reflexo de sua cultura, gostos e do estilo do período. “Esses relógios são uma manifestação artística e mostram como era a cultura na época. Era a união da escultura com a máquina”, analisa.

“E também serviam como símbolo de status, quem podia comprava os melhores relógios. É como acontece hoje com o avanço da tecnologia, quem pode adquire os melhores relógios de pulso. Mas o mais importante da exposição é mostrar como o relógio sempre teve presença importante na vida das pessoas, dos relógios de sol até os dias atuais.

ARTE DO TEMPO: O RELÓGIO NA DECORAÇÃO DE INTERIORES
Terça a sexta-feira, das 10h às 17h, no Museu Mariano Procópio (Rua Mariano Procópio 1.100 – Mariano Procópio)

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