Gueminho Bernardes lança neste sábado o livro ‘Querido diário’

Publicação reúne 30 contos escritos este ano e que mergulham no realismo fantástico


Por Júlio Black

18/08/2021 às 07h00

“Querido diário” é o terceiro livro de Gueminho Bernardes, o primeiro de contos (Foto: Sofia Nogueira Tristão Bernardes/Divulgação)

Tudo começou como uma brincadeira de Gueminho Bernardes para mostrar o quanto todos nós – pelo menos os privilegiados que ainda podem continuar em casa – precisamos dar conta de tanta coisa em apenas 24 horas. Era um conto postado no Facebook, no formato de um diário, que serviria de alegoria sobre um desses dias tão cheios de tarefas a cumprir. Mais aí veio um segundo, o terceiro, e o ator, diretor e escritor percebeu que dali sairia um livro: o resultado é “Querido diário” (Giostri Editora), que reúne 30 contos escritos por Gueminho entre abril e junho deste ano. O lançamento será no próximo sábado (21), às 16h, de forma virtual, por meio da plataforma Sympla (sympla.com/giostricultural). O ingresso para a live custa R$ 60 e inclui o livro, entregue em qualquer parte do país e com frete incluso.

Gueminho, atual gerente de espaços da Funalfa, conta que o primeiro conto foi postado no final de abril em seu perfil no Facebook, e tinha apenas a intenção de mostrar mais um do que ele chama de “dias heroicos” que teve desde o início da pandemia, ao ter que lidar com tantos compromissos e responsabilidades. “Era um desses dias em que você precisa ser um herói para dar conta. O conto, que também é o primeiro do livro, servia como alegoria sobre esse dia, com um relato de episódios absurdamente extremos”, relata. “Escrevi como se fosse um diário e vi que as pessoas reagiram positivamente, então escrevi outro no dia seguinte e começou a virar literatura.”

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Imediatamente, Gueminho resolveu se aprofundar na história e se inspirou no realismo fantástico para desenvolver o personagem que seria o protagonista dos contos, até chegar a um total de dez, com as reações positivas e comentários aumentando a cada nova postagem. “Quando chegou no décimo dia eu falei: ‘gente, vou parar aqui e completar até o trigésimo dia, mas vou publicar na forma de e-book’. Como as pessoas adoraram a ideia, resolvi mostrar os dez primeiros contos para o Alex Giostri, dono da editora que publicou meus outros dois livros. Ele já queria publicar os contos imediatamente, mas disse que precisava escrever os outros, e ele disse para terminar e enviar o material”, conta.

“Aproveitei para amadurecer o personagem, entendê-lo melhor. Em pouco mais de um mês escrevi um total de 26 contos, dos quais excluí seis para fechar em 30”, prossegue. “Propus então à Sofia, uma de minhas filhas, a fazer as ilustrações. Ela teve total liberdade para criar, pois os textos têm narrativas de experiências inconscientes, absurdas, fantásticas, em que você precisa desmontar suas ideias, predisposições de realidade e coerência para poder entender. Depois das ilustrações dela posso dizer que ficou uma obra completa.”

Mais estranha que a realidade

Questionado sobre o que existe de realidade e ficção nos textos, o escritor faz questão de salientar: que ninguém pense existir no livro um relato objetivo de seu dia a dia. “Não tem nada disso ali. As pessoas podem encontrar coisas com as quais se identifiquem. A realidade é só a imagem construída para que as pessoas possam acessar. Descobrir o que existe ali de verdadeiramente pessoal meu acho que só meu terapeuta pode dar essa resposta (risos).”

Gueminho acrescenta que muitas vezes não tinha controle sobre as histórias que emergiam. “Eu me propunha o desafio de resolvê-las, como no conto em que o personagem recebe a visita da Virgem Maria. Isso me lançava ao desafio de misturar minhas experiências pessoais, as memórias afetivas, com o trabalho do escritor, que no fim das contas tem o trabalho estético de apresentar isso ao público de maneira saborosa para que ele queira degustar aquele ‘banquete’.”

Os 30 contos de “Querido diário” foram escritos mais de um ano depois do início da pandemia de Covid-19, e mesmo assim Gueminho diz que ela teve influência total em seu processo criativo. “Acho que foi uma maneira de me descolar da realidade para poder suportá-la”, reflete. “O peso da realidade da pandemia, o massacre que estamos vivendo diariamente – e não só a rotina de isolamento, medo, mas também as notícias que chegam o tempo todo -, senti que foi uma maneira de criar uma válvula de escape para arejar essa atmosfera tão pesada que estava sendo o meu cotidiano, e acredito que o de todos. Estou investindo nas oportunidades que têm aparecido, pois senti que isso me ajuda. A criatividade tem esse efeito terapêutico, se não fosse a arte sei lá o que seria de nós.”

Longe dos palcos

O livro “Querido diário” é uma das atividades que Gueminho realizou desde que a pandemia obrigou o fechamento dos teatros e a consequente interrupção dos espetáculos. O artista lamenta, em especial, que a Covid-19 tenha chegado poucos meses depois do Grupo TQ ter lançado dois novos espetáculos, que comemoravam seus 40 anos de atividades. Desde então, o máximo que seus integrantes fizeram juntos foi uma série de lives, a “TQ meeting theatre”, no canal do grupo no YouTube, mas que durou pouco tempo.

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“Nós não nos empolgamos muito, meio que odiamos um pouco (risos). É como falar que você vai namorar pela internet: pode quebrar um galho por um tempo, mas a boa relação sexual não tem nada que se compare com isso, nada substitui esse momento de contato”, compara, além de comentar como tem sido todo esse tempo longe dos palcos.

“A saudade é imensa, pois não existe lugar onde nos sintamos mais felizes que no palco, no bar, na rua, nos apresentando. Nenhuma outra área da produção cultural sofreu tanto quanto o teatro”, afirma Gueminho, que se mostra reticente a experimentar os formatos híbridos de apresentação. “Para mim, não existe teatro filmado, não existe teatro na internet, isso é outra coisa. Teatro de verdade só existe com o contato real com o público, aquela experiência única que acontece naquele momento. Se você assistir 30 vezes à mesma peça, vai assistir a 30 peças diferentes. Mas estamos nos organizando pra voltar; esperamos que seja em breve, e assim vamos ser felizes de novo.”

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