Alunos de escola do Santo Antônio participam do projeto ‘Cartografias afetivas’

Série de atividades teve início no último dia 8 e realiza experiências coletivas que reúnem artes visuais, urbanismo, educação e arquitetura


Por Júlio Black

17/09/2021 às 07h00

Moradora do Santo Antônio, Tatá Rocha é uma das idealizadoras e responsáveis pelo projeto “Cartografias afetivas” (Foto: Fernando Priamo)

Uma nova iniciativa busca ampliar os horizontes da população da periferia de Juiz de Fora: é o projeto “Cartografias afetivas”, que propõe a realização de experiências coletivas por meio do cruzamento entre artes visuais, urbanismo, arquitetura e educação. Realizado com o apoio do Programa Cultural Murilo Mendes, ele é realizado com alunos do nono ano do ensino fundamental da Escola Municipal Dante Jaime Brochado, no Bairro Santo Antônio, que começaram a receber no último dia 8 o primeiro dos cinco cadernos, chamado de “Apresentação”, começando pela abordagem de temas como o direito à cidade, à história, à memória, à coletividade, à participação e à autonomia.

Os demais cadernos tratam de mapeamento, deriva, criação e análise. O projeto prossegue até 17 de novembro, e a população pode ter acesso à iniciativa no site cartografiasafetivas.cargo.site, que será alimentado com material audiovisual, assim como o canal _ homônimo _ do projeto no YouTube. Depois de encerrada essa primeira etapa, os envolvidos vão participar da criação de uma instalação artística na própria escola e de um livro de fotografia com registros do processo, que será distribuído para a instituição de ensino, participantes, equipe, bibliotecas públicas da cidade e também disponibilizado para download gratuito no site do “Cartografias afetivas”. Todo o processo criativo pode ser acompanhado pelas redes sociais, por meio do perfil do projeto no Instagram (@cartografias.afetivas).

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Visibilidade para a periferia

Moradora do Santo Antônio há cerca de 18 anos, Tatá Rocha é uma das realizadoras do projeto, ao lado de Daniela Zorzal, Jasminne Giovaninni e Mariana Rebelatto. Segundo ela, a ideia da iniciativa surgiu em 2019, quando estava no final do curso universitário de arquitetura e urbanismo e fez um trabalho urbanístico sobre o bairro, com foco no Alto Santo Antônio. Foi nessa época que iniciou a aproximação com a Escola Municipal Dante Jaime Brochado, realizando oficinas, eventos como a “Batalha de rimas” e até um show de sua banda, a Tatá Chama e As Inflamáveis. “Fiquei com vontade de prosseguir com essa pesquisa, e, como fui para o lado das artes visuais e cultura em geral, acabou surgindo esse projeto, que é continuação do trabalho que havia feito”, explica.

Ainda de acordo com Tatá, a iniciativa também surgiu da vontade de dar visibilidade às culturas populares, principalmente as da periferia. “Um de nossos objetivos principais é colocar a periferia na frente, trazer à tona. Desde a faculdade que a gente não se aproxima profissionalmente desses espaços da cidade; estudamos a cidade planejada, mas a periferia não costuma ser objeto da academia”, diz.

“Queremos levar o urbano para dentro da escola, e por meio dessas experiências coletivas pretendemos, a médio prazo, mapear essas áreas que não têm tanta visibilidade”, acrescenta. “E fazer do ‘Cartografias afetivas’ um conjunto de operações que vai derivar em um acervo de memórias sobre o bairro construído pelos grupos locais, e não só pelos adolescentes, mas também por mulheres, trabalhadores da comunidade e outras localidades periféricas. Vamos seguir tentando editais e conversar com quem tenha interesse em fazer parcerias.”

Transdisciplinaridade

O projeto propõe a realização de experiências coletivas cruzando artes visuais com urbanismo, arquitetura e educação. Para Tatá Rocha, isso se dá de várias formas, num processo que ela define como de transdisciplinaridade, ao invés da impressão inicial de que seria uma ação interdisciplinar. “Esse cruzamento se dá pelo suporte que escolhemos trabalhar, os assuntos que levamos em cada caderno, pela dinâmica que escolhemos fazer entre os adolescentes. Por isso escolhemos a cartilha, que já é usada na educação básica, baseada numa linguagem que a escola já usa”, explica, destacando que o projeto precisou se adaptar ao esquema virtual por causa da pandemia, mas que o “presencial” não é deixado de lado, uma vez que os estudantes precisam ir até a escola para pegar os cadernos.

Tatá comenta, ainda, um desafio a mais que o “Cartografias afetivas precisa enfrentar”: estimular os jovens a abraçarem o projeto, levando em consideração a realidade de muitos deles quanto ao acesso à informação, cultura, educação, e, em alguns casos, a falta de estímulo da família e da sociedade em geral.

“É um desafio muito grande para nós e, principalmente, para os professores, que precisam lidar com muitas turmas. É complicado chegar à escola com um projeto novo, mas estamos com muito apoio da direção da escola, dos profissionais de ensino, que tem sido essencial, ainda mais pela necessidade de mudança do formato presencial para o virtual”, afirma. “Até mesmo o novo formato tem ajudado, pois nos permite criar uma identidade visual que chame a atenção dos adolescentes, pois muitas vezes eles não buscariam o material. Fiquei sabendo que alguns foram até a escola pegar o caderno porque acharam bonito (risos).”

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