“Noite no paraíso”, da Netflix, mostra as consequências da vingança

Longa de Park Hoon-jung é drama policial sul-coreano que carrega as tintas na violência; filme teve estreia no Festival de Veneza


Por Júlio Black

15/04/2021 às 07h00

Ao vingar a morte da irmã e sobrinha, Tae-Gu (Eom Tae-goo) deflagra uma escalada de violência entre gangues sul-coreanas (Foto: Divulgação)

A Netflix segue apostando em produções fora da galáxia de Hollywood para diversificar seu catálogo de filmes. Uma das mais recentes adições é o drama policial sul-coreano “Noite no paraíso”, disponível desde a última sexta-feira (9). A produção tem roteiro e direção de Park Hoon-jung, conhecido por realizar filmes como “Nova Ordem” (2013) e “A Bruxa: Parte 1 – Subversão” (2018) e ser o roteirista de “Eu vi o diabo” (2010).

“Noite no paraíso” foi exibido fora de competição no 77º Festival Internacional de Cinema de Veneza, em 2020, e algumas críticas chegaram a traçar paralelos com o cinema produzido por Quentin Tarantino, particularmente pela estética da violência, gângsteres de terno e as pausas para longos diálogos. Entretanto, a melhor comparação seria com a Trilogia da Vingança do conterrâneo Park Chan-wook (“Oldboy”) e com os dramas policiais em geral que garantem o salário de muito cineasta do Leste Asiático há pelo menos três décadas – e aí cabe lembrar dos primeiros e violentíssimos filmes do mestre John Woo.

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A trama de “Noite no paraíso”, vale destacar, não é apenas sobre vingança, mas também a respeito de suas consequências e como um ato de vingança pode ser o início de uma sequência (quase) infinita de vendetas. Por isso mesmo, o longa não tem um único protagonista, mas dois, e o primeiro deles é Tae-Gu (Eom Tae-goo), um criminoso que integra uma das principais quadrilhas mafiosas da Coreia do Sul. Ele pensa em largar a vida do crime para cuidar e proteger sua meia-irmã e a sobrinha.

Não demora muito, entretanto, para a irmã e sobrinha de Tae-Gu morrerem em um acidente criminoso, que teria sido provocado por uma gangue rival. Como resposta, Tae-Gu parte para a vingança e mata diversos criminosos rivais . Por causa disso, ele é enviado para a ilha de Jeju pelo líder de sua quadrilha, a fim de ficar escondido por alguns dias antes de fugir para a Rússia.

Pois é em Jeju que Tae-Gu é apresentado à outra protagonista do longa. Jae-Yeon (Jeon Yeo-bin) também é marcada pela tragédia: ela vive com o tio, um traficante de armas, desde que toda sua família foi assassinada por mafiosos, e sofre de uma doença terminal.

Olho por olho

Enquanto tenta se adaptar ao novo cotidiano, o criminoso não imagina que sua vingança teve consequências. Depois de um confronto entre gangues que termina com vários mortos, seu “patrão” e outros líderes mafiosos resolvem estabelecer a paz entre as quadrilhas oferecendo a cabeça de Tae-Gu como prêmio, com a complacência de um corrupto chefe policial. A partir de então, a história se torna uma espiral de violência, acerto de contas e vingança que parece não ter fim até o violentíssimo e sanguinolento desfecho.

As cenas de ação surgem como o principal destaque de “Noite no paraíso”, tanto pelo talento de Park Hoon-jung em criar sequências impactantes pelo grau de violência. Entretanto, o filme não teria o mesmo peso se deixasse de lado o drama de seus protagonistas e mergulhasse nos meandros do crime organizado. Se existe um ponto fraco no longa, é a sua duração. Uma edição mais econômica poderia ter cortado alguns diálogos que eventualmente prejudicam o ritmo da história. Por sorte, são pequenos e pontuais excessos.

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